Por Mário Neto Borges*
Em sete de setembro de 1822, quando D. Pedro I bradou “Independência ou morte”, criou-se a oportunidade de construção de uma grande nação – o Brasil. Certamente estava embutida naquela declaração a necessidade de investimentos para que tal desafio fosse alcançado ao longo do tempo.
Naquele contexto, a força de uma nação era definida basicamente por seu território e suas armas. Força essa que predominou por mais de um século e meio. A partir da segunda guerra mundial, com a recuperação dos dois países mais arrasados durante o conflito, Japão e Alemanha, hoje potências mundiais, pôde-se constatar que a força das nações vem se baseando cada vez mais em dois pilares: a educação de sua população e o avanço da sua ciência, tecnologia e inovação – CT&I.
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É preciso mencionar que três fatores também são importantes como suporte aos pilares mencionados: o tamanho de sua população, a diversidade de sua economia e a disponibilidade de recursos naturais. Uma população numerosa gera demandas e necessidades e cria oportunidades para o desenvolvimento econômico.
É importante que os países diversifiquem suas economias, pois economias baseadas em uma única produção não prosperam por depender fortemente de importações. Fartos recursos naturais e biodiversidade são fatores importantes para diversificar a economia e gerar riqueza. Mas vale ressaltar que esses fatores por si só não são suficientes e, inclusive, podem ser compensados pelo nível de avanços nos pilares educação e CT&I.
O Brasil, felizmente, possui essas características e soma a elas o fato de estar passando pelo bônus populacional, ou seja, a maior massa da população se encontra na faixa etária de 25 a 60 anos, que é o período em que as pessoas estão mais aptas ao trabalho e à produção de riquezas. Essa oportunidade dura até meados do século.
Com tudo isso, por que ainda não somos uma grande nação?
A resposta está exatamente em não termos, ao longo dos anos, dado a devida prioridade para educação e ciência, tecnologia e inovação. Para fins de exemplo, não vamos tomar a Alemanha e o Japão que, na década de 1970, já eram potências mundiais. Mas pode-se tomar o caso da Coreia do Sul que nessa mesma data tinha um nível de desenvolvimento abaixo do Brasil.
Ambos, Brasil e Coreia, possuíam PIB per capita da ordem de US$ 1.000. Hoje, a Coreia do Sul, mesmo sendo um país de pouco território e população pequena, é uma grande nação – dito país de primeiro mundo. Seu PIB per capta está em torno de US$ 32.000,00 ao passo que no Brasil o valor, que já esteve no patamar de US$ 13.000, está atualmente abaixo de US$ 9.000.
A força das nações vem se baseando cada vez mais na educação e no avanço da ciência, tecnologia e inovação
A Coreia, no início dos anos 1970, decidiu investir fortemente em educação e CT&I. 80% dos jovens coreanos chegam à universidade e têm educação fundamental e média de alta qualidade, comprovada em testes mundiais como o Teste Pisa. Estão entre os 10 melhores colocados, enquanto o Brasil está na 57ª posição num ranking de 76 países.
No que diz respeito à ciência, tecnologia e inovação, a Coreia investe em torno de 4% de seu PIB, enquanto o Brasil investe em torno de 1%. É por isso que todos os brasileiros hoje têm ou conhecem alguém que é proprietário de um produto coreano.
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O Brasil poderia – e ainda pode – fazer a mesma coisa, a mesma receita que também já foi adotada por muitos outros países. Já se demonstrou que, quando o Brasil investiu adequadamente em CT&I, conseguiu resultados brilhantes.
Como o caso da produção de aviões da EMBRAER; o robusto agronegócio que torna o Brasil o segundo maior produtor de alimentos, em breve será o primeiro graças à Embrapa e às universidades e, para ficar em poucos exemplos, a exploração de petróleo em águas profundas que tornou o Brasil autossuficiente nesse combustível. No entanto não há uma política pública consistente para a educação e CT&I com falta de prioridade e recursos.
Ao completarmos os 200 anos do brado de D. Pedro I, agora temos de gritar: “independência sem ciência é a morte da nação”.
*Mário Neto Borges é ex-Presidente da FAPEMIG e do CNPq.