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A coluna Bioética em Pauta é mantida pela Sociedade Brasileira de Bioética em Minas Gerais. E tem como objetivo compartilhar com os desafiadores debates que envolvem as éticas da vida em uma socied...ver mais

Mais calor, menos comida no prato

Efeitos prejudicam a economia, e doem no bolso

Por Marcelo Sarsur

Dez anos atrás, quando uma grande parcela dos países do mundo se sentou à mesa em Paris e negociou um acordo de redução das emissões de gás carbônico e de outros gases de efeito estufa na atmosfera da Terra, as metas eram ambiciosas e o tempo parecia favorável.

Já se sabia que o aumento da temperatura do planeta iria ocorrer de toda forma, mas se buscava reduzir o aumento a até 1,5º celsius acima das temperaturas anteriores à era industrial; e os prazos eram generosos, podendo cada país, dentro de suas condições, fixar suas próprias metas de transição energética.

Passados dez anos, hoje estamos convivendo com as consequências da falta de seriedade do mundo todo, mas sobretudo dos maiores países poluidores, em fazer cumprir seus compromissos. O ano de 2024 foi o mais quente registrado desde o ano de 1850; fenômenos climáticos extremos, como as inundações no Estado do Rio Grande do Sul ou a seca história na Amazônia, na região do rio Solimões, ocuparam o noticiário e causaram intenso sofrimento humano.

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Pior de tudo, parece que o tempo está se esgotando para evitar os piores cenários previstos pela ciência: em 2024, se superou pela primeira vez a meta de 1,5º celsius de aumento da temperatura global. O que pode resultar disso tudo, ninguém sabe ao certo.

Efeitos econômicos

Para quem pensa que a mudança climática é uma preocupação apenas dos ambientalistas, sinto lembrar que seus efeitos prejudicam a economia, e doem no bolso.

Safras menores de soja e de milho foram previstas no final de 2024, no Brasil, em razão da falta de chuvas; pelo mesmo motivo, em março de 2025, já se prevê uma safra menor de cana de açúcar no Brasil, pela falta de chuvas no mês de fevereiro. A seca e o calor na região do Mediterrâneo prejudicaram, em 2023, a produção de azeitonas, contribuindo para o aumento do preço do azeite.

Num mundo interconectado, mais calor significa alimento mais escasso, portanto mais caro. 

O sociólogo Ulrich Beck, que desenvolveu o conceito de sociedade de risco, diz que os riscos da sociedade industrial, tal como ocorre com as riquezas, são divididos desigualmente. Estão mais expostos à poluição, às enchentes, aos deslizamentos de terra, à falta de água na torneia e à fome.

Quem tem menos, quem polui menos, vai arcar de forma ainda mais severa com as consequências previsíveis, e também com as imprevisíveis, das mudanças climáticas.

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Quando as elites econômicas perceberem que não dá para comer nem carvão, nem petróleo, nem dinheiro, já terá sido tarde demais para os mais vulneráveis, que sofrerão há mais tempo e mais intensamente os efeitos da fome, das temperaturas extremas e dos fenômenos ambientais devastadores.

Logo o desastre chegará para os todos os seres do planeta, até mesmo para os bilionários.

Marcelo Sarsur é advogado criminalista, doutor em direito pela UFMG e 2º vice-presidente da Sociedade Brasileira de Bioética em Minas Gerais (SBB MG)

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— Este é um artigo de opinião, a visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato

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