Por Marcos Aurélio Trindade e Keller Reis Figueiredo
Por que a população mais pobre vota em candidatos da extrema direita, que historicamente representam interesses das elites?
Esse paradoxo desafia análises superficiais e exige uma investigação profunda sobre os fatores sociais, psicológicos e morais éticos que influenciam o comportamento eleitoral das camadas populares.
A escolha eleitoral das classes menos favorecidas não pode ser explicada apenas por questões econômicas. Há uma dimensão moral, ética e psicológica que estrutura as relações sociais e influencia diretamente o voto. O problema central da política brasileira não está apenas na economia, mas na percepção que o povo tem de si mesmo e de seu papel na sociedade.
Ressaltamos que, sem uma compreensão crítica da própria realidade, a população se torna suscetível a discursos manipuladores que reforçam a desigualdade existente.
O sociólogo Jessé Souza, em suas análises, também questiona: “Por que a pregação da extrema direita encontra terreno fértil nos empobrecidos?”. Segundo ele, a elite econômica do Brasil é uma minoria ínfima, e a classe média real não chega a 20% da população.
No entanto, apesar de seu poder econômico e simbólico, essas camadas sozinhas não são capazes de eleger um presidente. O apoio decisivo vem das massas populares, que muitas vezes votam contra seus próprios interesses.
Esse fenômeno pode ser explicado, em parte, pelo conceito de “luta por reconhecimento”. As pessoas não votam apenas baseadas em cálculos racionais sobre ganhos e perdas materiais, mas sim movidas pela busca de autoestima e pertencimento.
Disputa de valores
A extrema direita doentia, com seu discurso de patriotismo, moralidade e ordem, oferece uma identidade e um sentimento de valorização para grupos que se sentem marginalizados.
Esse fator crucial da manipulação simbólica e ideológica da extrema direita por meio da mídia, faz com que a população pobre, muitas vezes, não se reconheça como classe trabalhadora explorada. Sofre de uma espécie de “esquizofrenia coletiva”, onde adota valores e ideais que perpetuam sua própria condição de oprimida.
Sem consciência de sua realidade, torna-se presa fácil para narrativas que reforçam o medo, a insegurança e a rejeição a mudanças estruturais.
Diante desse cenário, a verdadeira luta de classes no Brasil não se dá apenas entre ricos e pobres, mas entre uma elite opressora e uma maioria desinformada e fragmentada. A saída para essa crise passa, inevitavelmente, pela educação. Os professores das escolas públicas, que atendem a maior parte dos filhos da classe trabalhadora, têm um papel fundamental na formação de uma consciência crítica.
Somente por meio da educação libertadora, que revele a realidade social e promova o autoconhecimento, será possível romper esse ciclo de alienação e manipulação.
Para que ocorra uma transformação real, é necessário revisar os valores morais e éticos que estruturam a sociedade brasileira. É preciso que as pessoas compreendam quem realmente ganha e quem perde com o atual modelo econômico. Somente assim será possível formar cidadãos capazes de tomar decisões políticas para além da influência das elites dominantes, pavimentando o caminho para uma sociedade mais justa e democrática.
Marcos Aurélio Trindade é professor universitário, mestre em Bioética e Saúde Global, com mestrado em andamento em Antropologia Social pela Universidade de Buenos Aires, pesquisador com formação em Filosofia, Teologia e Psicologia Clínica
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Keller Reis Figueiredo é formada em Filosofia e Administração na área social, é especialista em Filosofia Clínica e professora.
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Este é um artigo de opinião, a visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato
