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 Radicalmente moderado

O número de eleitores que consideram o governo ótimo ou bom passou de 24% para 29% em relação a fevereiro

Enquanto Trump vai à guerra e o centrão incomoda no Congresso, Lula renova os votos de paz e amor.

.Tá ruim, mas tá bom. A última pesquisa DataFolha mostra que a sangria do governo pode ter chegado ao fim. O número de eleitores que consideram o governo ótimo ou bom passou de 24% para 29% em relação a fevereiro, e os que consideram ruim ou péssimo passaram de 41% para 38%. Não dá pra dizer que é um desempenho bom, mas aponta uma reversão na tendência de queda na popularidade dos últimos meses. Na avaliação de Aldo Fornazieri, três fatores explicam o resultado. Em primeiro lugar, o susto das pesquisas fez Lula e seus ministros se mexerem e mostrarem serviço. Contribuiu também o impacto do indiciamento de Bolsonaro e a consequente desmoralização da oposição. Resultado disso é a dificuldade de Tarcísio de Freitas apresentar-se como uma candidatura viável para 2026. E no cenário externo, o perfil insano de Trump e sua guerra tarifária talvez tenha feito uma parcela dos eleitores reconsiderarem as vantagens de um presidente moderado e racional, além das oportunidades que se abrem para o Brasil se afastar dos Estados Unidos e se aproximar da China e da Europa. Mesmo com o respiro nas pesquisas, o jogo não está ganho. O principal problema é que a médio e longo prazo as notícias não são boas. A inflação dos alimentos tem sido resiliente, afetando a segurança alimentar da maioria da população. Assim como, nos cálculos Unctad, o PIB do Brasil deve ser impactado pela crise mundial este ano, com um crescimento módico de 2,2%, bem inferior aos 3,4% estimados para o ano passado. E, mesmo que a ampliação das isenções no Imposto de Renda saia do papel, o desmonte dos direitos trabalhistas, agora com uma pejotização generalizada liderada pelo STF, só promete trazer mais precariedade para um cenário já desastroso.

.Tem, mas acabou. A apresentação do Projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias para 2026 traz uma triste constatação: o Estado brasileiro existe, mas não por muito tempo. O PLDO prevê que o país terá um microscópico crescimento do PIB de 0,25% e alcançará um superávit primário de R$ 38,2 bilhões em 2026. Na verdade, a meta do arcabouço seria um superávit de R$ 34,3 bilhões, mas o governo prevê que entregará mais do que foi pedido, confiando que vai aumentar a arrecadação, contando obviamente com a aprovação da taxação dos super ricos. Para 2027, a situação muda, porque aí entram na conta os precatórios que, até o próximo ano, não serão contabilizados no ajuste fiscal. O pior é que a previsão do governo é de superávits crescentes: R$ 73,4 bilhões (0,5% do PIB) em 2027, R$ 157,3 bilhões (1% do PIB) em 2028 e , em 2029, R$ 210,7 bilhões (1,25% do PIB). Já as despesas obrigatórias (pessoal, encargos sociais e previdência) devem cair gradualmente de 17,4% do PIB em 2026 para 16,8% em 2029. E o pagamento da dívida interna só cairia do patamar de 80% do PIB lá por 2035. Mesmo com um Estado mínimissímo e que garante o serviço da dívida, juros altos e o sacrossanto arcabouço fiscal, nem assim o mercado financeiro descansa. Bastou o governo protocolar o PLDO para a Faria Lima, através da mídia, chiar que o governo não vai cumprir a meta e que deveria fazer ainda mais cortes nos investimentos. O alvo do mercado financeiro é o combalido salário mínimo – que em 2026 deve ser de R$1.630 – como expressou sem constrangimentos o ex-presidente do BC, Armínio Fraga, que propôs um congelamento salarial de 6 anos para os trabalhadores.


.História sem fim. Apesar da falta de apoio popular, a anistia dos golpistas seguirá em pauta na conjuntura política por algum tempo. Afinal, se a longo prazo é a esperança de alguma jurisprudência que possa salvar Jair Bolsonaro, a curto prazo é o tema que a extrema-direita encontrou para ocupar a agenda política, tomando o lugar de debate de projetos do interesses do governo, como a PEC da segurança ou a isenção do Imposto de Renda. E, nisso, estão sendo bem sucedidos. Graças à sagacidade do líder do PL, Sóstenes Cavalcanti, que não apenas conseguiu protocolar o pedido de urgência na votação com mais assinaturas do que o necessário, como provocou fissuras na base governista, já que mais da metade dos assinantes são de partidos com cargos na Esplanada dos Ministérios. Se até aqui o governo não havia testado sua base sob a gestão de Hugo Motta, agora sabe que nada mudou em comparação aos tempos do toma-lá-da-cá de Arthur Lira. Mais do que uma traição, a adesão ao projeto também é uma forma do Congresso, ainda magoado pela disputa das emendas, bater no STF. Depois de perder tempo sem entrar em campo para retirar as assinaturas dos aliados, o Planalto levou uma bronca do STF e recebeu o recado de Hugo Motta de que não vai ficar sozinho com esta bomba na mão. Correndo atrás do prejuízo, o governo agora trabalha com um mapa de cargos na mão para que deputados da base que assinaram votem contra a urgência em plenário ou ainda que subscrevam outro ofício pedindo a retirada da urgência. Em caso de outra derrota, o Planalto e Hugo Motta já admitem a aprovação do projeto de anistia desde que exclua Bolsonaro e os generais que comandaram o golpe. Tanto essa proposta quanto a revisão das penas é duramente rechaçada pelo STF. Sobraria ainda, com uma derrota na Câmara, tentar enterrar o projeto no Senado.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.A batalha tecnológica entre Estados Unidos e China. No Le Monde, Lauro Accioly Filho discute a disputa estratégica por detrás da guerra tarifária de Trump.


.Estudo refuta ideia de que “renda grátis” induza à preguiça. Pesquisa na Alemanha aponta que pessoas com acesso à renda mínima continuam trabalhando. No DW.

.6 em cada 10 brasileiros apoiam redução da jornada de trabalho.  O Poder 360 traz dados do Instituto Nexus que mostram que brasileiros gostariam de trabalhar menos.

.Maiores vítimas de despejo, mulheres negras podem levar até 184 para ter casa própria. Relatório do Sem moradia digna, não há futuro desvenda a desigualdade de acesso à moradia no Brasil. No Marco Zero.

.Privatização, privilégio, racismo e perseguições: conheça a Esalq, que forma quem defende o agro. Veja as relações e valores compartilhados entre o agronegócio e a mais famosa escola de agricultura do país. No Joio e o Trigo. 

.A surpreendente explicação para a explosão do pistache no Brasil. De forma didática, a BBC explica como os Estados Unidos nos inundou com pistache.


.A jornada musical de Milton Nascimento e seu legado transcendental. No documentário Milton Bituca Nascimento, as diversas facetas do músico brasileiro. No Le Monde.

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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

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