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Boletim Ponto

O centrão segue invicto

O Ponto é editado por Lauro Allan Almeida e Miguel Enrique Stédile, do Front - Instituto de Estudos Contemporâneos, e é publicado todas as sextas-f...
Enquanto não consegue desatar os grandes nós no Congresso, o governo tenta extrair saldos positivos de uma agenda diversificada, mas de impacto limitado

Olá,
O governo até tenta, mas quando o jogo é no campinho do Congresso, o ganhador é sempre o mesmo.

.Bola dividida. Depois da viagem à China, a expectativa era que o Planalto retomasse a iniciativa política no plano doméstico. E, finalmente, parecia que o Congresso iria colaborar depois de aprovar o PL que reestrutura as carreiras e reajusta os salários de servidores do Poder Executivo e dar urgência na proposta que proíbe o desconto automático de mensalidades de associações e sindicatos vinculados ao INSS a aposentados e pensionistas. O problema é que a possibilidade de uma CPI continua viva e forte. Se a CPI sair, inevitavelmente a presidência será ocupada não só por alguém da oposição, mas por alguém ligado ao bolsonarismo. Por isso, a base governista trabalha tanto com a possibilidade de garantir a relatoria, tão importante quanto a presidência da comissão, quanto com a estratégia de fazer uma CPI exclusiva no Senado, excluindo a Câmara onde teria desvantagem. Outro problema do governo é a imobilidade de duas de suas pautas de interesse, a isenção do Imposto de Renda e a PEC da Segurança Pública. No caso do IR, os parlamentares até topam a isenção, mas não querem falar na contrapartida, a taxação dos super ricos. Já o tema da segurança está nas mãos do relator Mendonça Filho, que deu muito trabalho para o Planalto na discussão da reforma do ensino médio, e já avisou que não concorda com o protagonismo do Executivo na proposta


.Me ajuda a te ajudar. Enquanto não consegue desatar os grandes nós no Congresso, o governo tenta extrair saldos positivos de uma agenda diversificada, mas de impacto limitado. Na economia, os sinais são ambíguos. Por um lado, o crescimento de 1,3% na prévia do PIB para o primeiro trimestre foi comemorado, superando até as expectativas do mercado. Porém, o movimento foi puxado pelo agronegócio e não se espera que o resultado se repita para o resto do ano. Outro problema é que o crescimento só aumenta a convicção do Banco Central de que o remédio amargo dos juros altos deve continuar por um período prolongado para “desaquecer” a economia e, com ela, a inflação, como defende Galípolo. Além dos juros estratosféricos, outra insistência do mercado é com o corte de gastos. Para fazer um agrado, Fernando Haddad propõe novos cortes e medidas para aumentar a arrecadação, o que deve penalizar vários setores, em especial, as universidades públicas. Mas o governo não pode viver só de medidas impopulares, ainda mais agora que além da alta no preço dos alimentos, explorada pela oposição, é preciso deixar para trás o escândalo no INSS. Foi pensando justamente no andar de baixo que Lula apresentou a medida provisória que beneficia mais de 40 milhões de brasileiros com descontos na conta de luz e isenta outros 60 milhões. Fora da economia, Lula tentou gerar boas notícias na área da educação, onde vem acumulado mais críticas que elogios. A Nova Política de Educação a Distância (EaD) instituída via decreto do MEC não traz grandes mudanças, mas pelo menos ajuda a conter a disseminação de cursos privados baratos e de baixa qualidade pelo país. Já na cultura, Lula aproveitou a reinaguração do Palácio Gustavo Capanema no Rio de Janeiro para premiar instituições e personalidades de destaque na área. Mas, mesmo numa agenda em que a direita tem pouco a oferecer, o governo conseguiu dar munição para o adversário. Afinal, a greve nas instituições públicas da cultura até foi esquecida, mas não Janja, que recebeu de Lula uma desnecessária premiação que cheira a nepotismo.


.Paralelas que se cruzam. Se a extrema direita perde de lavada no campo jurídico, tendo o depoimento do tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior ao STF confirmando a trama golpista liderada por Bolsonaro, em outras frentes a bola segue em jogo. É o caso do Congresso, onde apesar das discórdias no tema da anistia, a direita encontra fortes aliados no centrão. A aprovação do fim da reeleição na CCJ do Senado, por exemplo, contribui para tirar o foco daquilo que interessa ao governo e abre mais uma frente onde será necessário negociar. O mesmo ocorre com a formação de um grupo de trabalho para discutir a reforma administrativa e a tentativa de transformar a discussão sobre o fim da escala 6 x 1 num puxadinho da reforma trabalhista do Temer. Isso sem falar na boiada passada com a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, que uniu agronegócio, centrão e direita, além do ministro da Agricultura, Carlos Fávaro (PSD), criando um enorme constrangimento para o governo às vésperas da COP 30. Tudo isso mostra que a direita não está morta. Seu principal problema, na verdade, é a unidade no campo eleitoral para definir um candidato competitivo capaz de enfrentar Lula em 2026. Aqui, o principal empecilho é o próprio Bolsonaro, que escanteou Tarcisio de Freitas e passou a apoiar a candidatura de Michelle, aguçando os conflitos dentro do PL. Mas talvez isso não passe de jogo de cena para extrair um compromisso mais claro de Tarcísio com a defesa da anistia e na luta contra o STF.

.Ponto Final: nossas recomendações.


.O jogador, sua aposta e a desordem mundial. José Luís Fiori escreve sobre a desordem global gerada pela erosão do poder militar e da liderança econômica das “potências ocidentais”.

.Como o Hamas se tornou a principal organização palestina na resistência contra o sionismo. Breno Altman explica como o Hamas se tornou a principal força anti-imperialista e anticolonial da atualidade. Na Jacobina.

.‘Por todos os meios necessários’: 3 pontos para entender o pensamento de Malcolm X. Nos centenário de nascimento do líder negro estadunidense, a Alma Preta relembra sua estratégia de luta contra o racismo.

.‘Para ficar árido, é só um empurrãozinho’. Um datacenter equivalente a 12 campos de futebol será construído em Caucaia, no Ceará, e poderá agravar o problema da seca. No Intercept Brasil.


 .Desinformação no WhatsApp é marca da extrema direita nas eleições em Portugal. A Folha mostra como o bolsonarismo atuou nas redes para influenciar o voto dos imigrantes brasileiros.

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 .Escute as mais velhas. O podcast da Rádio Novelo entrevista a cientista política Diva Moreira, símbolo de luta no movimento antimanicomial.

Boletim Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

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