Olá,
Sozinho, o governo perde todas contra a aliança do centrão com a Faria Lima e o agronegócio.
.Fogueira de São João. Há tempos que o governo não tem muito o que comemorar. Mas agora, com uma sequência de derrubada de vetos de Lula na Câmara, que vão da taxação do IOF à lei das eólicas, passando pelo orçamento do fundo partidário, a sensação é a de que os que mandam no país são mesmo o centrão, a Faria Lima e o agronegócio. É o que demonstra a desidratação da proposta de Haddad que pretendia aumentar a taxação sobre o Fundos de Investimento do Agronegócio (Fiagros) e sobre o Fundos Imobiliários (FIIs). Isso mesmo depois de um suposto acordo do Planalto com Hugo Motta, que indica ou a incapacidade de liderança ou o jogo duplo do presidente da Câmara. Seja como for, os sinais de dificuldades na relação com o Congresso já estão aí faz tempo, como o alto nível de rejeição das Medidas Provisórias editadas pelo Executivo, no que cada vez mais vai parecendo uma crise clássica de governabilidade. Se nos governos Lula I e II a alta popularidade do presidente compensava a pouca fidelidade dos aliados de ocasião, agora o cenário é outro. As pesquisas apontam não só as dificuldades do governo em recuperar sua base popular, mas também um crescimento do bolsonarismo. O resultado é que a traição corre solta até no primeiro escalão. Assim, bastou o atraso na liberação das emendas prometidas para que a base aliada se desmanchasse no ar. No caso do tema que dominou a agenda das últimas duas semanas, o IOF, a autossabotagem veio de 7 dos 11 partidos com ministérios no governo (União Brasil, PP, PSD, Republicanos, MDB, PDT e PSB), deixando em maus lençois tanto a equipe econômica liderada por Fernando Haddad, quanto a articulação política sob o comando de Gleisi Hoffmann. Com tudo isso, além de pagar R$1,6 bilhões em emendas para o sequestrador da pauta e do orçamento, o governo deve fugir de novas brigas com o empresariado e recuar da proposta de limitar a jornada de trabalho nos domingos e feriados. Sua esperança agora é que o recesso informal de São João, seguido do recesso oficial de julho, aqueça o coração dos parlamentares antes da próxima batalha: a CPMI do INSS.
.Infiéis. Não se pode dizer, porém, que o centrão seja fiel a alguém. Porque ao mesmo tempo em que chantageia e extorque o governo, a turma do boi-bala-bíblia-bovespa também ilude Jair Bolsonaro com juras de amor, enquanto costura pelas costas o apoio à Tarcisio de Freitas. Bolsonaro vai vendo seu futuro cada vez mais estreito, porque além do mau desempenho dos réus no julgamento do golpe, a conclusão do inquérito da Abin paralela escancara como funciona o bolsonarismo, vigiando de inimigos políticos ao ex-presidente do Vasco, passando por ex-sócios do filho caçula. Por isso, o capitão e a família agora se agarram à fantasia de um indulto como última saída e condição de apoio aos verdadeiros candidatos em 2026. Enquanto isso, na prática, o centrão quer saber mesmo é de continuar sangrando o governo para impulsionar a candidatura de Tarcísio. Mas não são só os parlamentares que traem. Gabriel Galípolo, o bebê reborn de Campos Neto, aumentou a taxa Selic pela quarta vez consecutiva, alcançando o maior patamar desde 2006 e a segunda maior taxa de juros do mundo, além de deixar claro que se for necessário, continuará elevando o índice. O BC brasileiro conseguiu ir na contramão dos seus correspondentes da Noruega, Suíça e até da Filipinas, que baixaram os seus juros no mesmo dia. Ou dos Estados Unidos, que mesmo em guerra com o universo, não alterou suas taxas. Ou seja, um cenário internacional que exige taxas mais altas, por hora, só existe na Avenida Faria Lima. E, se a inflação está em queda, assim como o dólar, afinal por que o Banco Central tomou essa decisão incompreensível, segundo Gleisi Hoffmann, e injustificada, segundo a indústria? O Estadão, porta-voz da Faria Lima, responde com sinceridade para conquistar mais confiança do mercado”. Talvez por isso, apesar de desagradar parlamentares da direita à esquerda, Galípolo ganhou aplausos orgulhosos apenas de seu mestre e antecessor.
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Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.