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O Ponto é editado por Lauro Allan Almeida e Miguel Enrique Stédile, do Front - Instituto de Estudos Contemporâneos, e é publicado todas as sextas-feiras.

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Lula mobilizou a torcida lembrando que a briga, no final das contas, é entre ricos e pobres

Olá, o que é o Mundial de Clubes perto das emoções da política brasileira?

.Olho no lance.Como se sabe, o Congresso mandou a bola pro mato quando decidiu derrubar o decreto do governo que aumentava a cobrança do IOF. Além de garantir os interesses da Faria Lima, o centrão aproveitou para fazer um esquenta para as eleições de 2026. Mas o governo não se deu por vencido e pediu revisão do lance, levando a discussão para o STF. O problema é que a Corte não deveria ser o árbitro da política e mesmo que faça a bola correr em temas que o Executivo e o Legislativo não se mexeram, como a regulação das redes sociais, é o mesmo time que, sujeito a pressões, nem sempre joga com as regras debaixo do braço. É claro que a jogada de Lula visa principalmente esfriar a fome do time adversário e trazer mais um ator de peso para a disputa. Ao mesmo tempo, Lula mobilizou a torcida lembrando que a briga, no final das contas, é entre ricos e pobres. A estratégia ainda unificou a Secom do governo com a militância petista. Além disso, a conjuntura impulsiona o Plebiscito Popular pela taxação dos super-ricos e redução da escala 6×1. Porém, mesmo com um impacto positivo nas redes, a esquerda ainda atua em desvantagem nesse campo. A dúvida agora é saber até onde o governo está disposto a ir. Pelo histórico de Lula, o mais provável é que ele mantenha o clima tensionado, mas evitando rupturas. O que significa buscar uma saída negociada, com o STF cumprindo um papel mais político do que jurídico. Uma solução temporária para destravar a agenda no Congresso pode vir da revisão dos benefícios fiscais, seguida pelo projeto de ampliação da faixa de isenção do Imposto de Renda, que tem boa aceitação no Congresso e representaria uma vitória para o governo. O impasse, nesse caso, segue sendo a contrapartida da taxação dos super-ricos que dificilmente seria aprovada. Em compensação, o centrão segue de olho na reforma administrativa, leia-se, desmonte do Estado e retirada de direitos dos servidores públicos, sem contar o jogo de cena de Hugo Motta ameaçando recolocar em pauta da anistia.


.Os donos do time. Antes o problema fosse apenas a mesquinharia dos parlamentares. A verdade é que boa parte do Congresso, acompanhada pelo Banco Central, ecoa basicamente os desejos do mercado por mais austeridade. O que, aliás, contribui para fazer a nova edição do PAC minguar por falta de recursos públicos. Curiosamente, o único que nunca foi afetado pela tesoura é o agronegócio, vendo os recursos do plano Safra superarem meio trilhão de Reais. Mas a generosidade do governo com o setor dificilmente se reverterá em apoio político. O máximo que se pode esperar é que o agro, em benefício próprio e com moderação, se some às críticas direcionadas aos juros estratosféricos. Aliás, com a alta da Selic, os juros nominais do setor público saltaram de R$ 74 para R$92 bilhões entre maio de 2024 e maio de 2025, representando um acumulado de R$ 946 bilhões nos últimos 12 meses. E as perspectivas não são nada animadoras, já que o Banco Central pretende manter juros altos por longo prazo até que a inflação se aproxime da meta, o que pode significar entrar em ano eleitoral com as taxas nas alturas. O mercado de trabalho continua aquecido, com queda da informalidade e taxa de desocupação decrescente, o que é visto como um problema pelo Banco Central. Além das restrições internas, a economia sofre ainda com as consequências do tarifaço de Trump, que afeta a exportação de produtos brasileiros, como  motores e máquinas, óleos combustíveis, óleos brutos de petróleo e aeronaves para os Estados Unidos. E se os problemas domésticos não são pequenos, Lula ainda assumiu o comando rotativo do Mercosul, onde terá que enfrentar as peripécias de Milei para garantir um mínimo de unidade regional.

.Jogando a toalha. O quarto ato convocado por Jair Bolsonaro neste ano teve tom de despedida e passagem do bastão. As 12 mil pessoas presentes na Avenida Paulista não só representaram o menor ato do bolsonarismo no ano – menos que a metade do anterior em Copacabana em março e quatro vezes menor que o do mesmo local em abril – como ficou muito longe das centenas de milhares de um ano atrás. Os próprios bolsonaristas procuraram culpados entre eles, amaldiçoando aliados, Michelle Bolsonaro e o próprio capitão. Mesmo Nikolas Ferreira, ausente na manifestação, reconheceu que o ato não tinha pauta alguma, atestando o fracasso também das reivindicações bolsonaristas até aqui, substituídas por um genérico “Justiça Já”. O bolsonarista existe e persiste, mas o eleitor de extrema-direita parece já ter cansado e desistido da turma de Jair. E, dificilmente atenderá à nova convocação de “dar meia Câmara, meio Senado” para o bolsonarismo governar sem presidência e sem anistia. Esvaziado de forças nas ruas, fracassa também a estratégia de Bolsonaro de se tornar o fiador imprescindível para uma candidatura de direita, baixando o preço do pedágio para Tarcísio de Freitas. Esse sim saiu da Paulista candidatíssimo para cruzar a avenida de uma candidatura, para alegria do centrão, como ficou evidente na pesquisa Quaest: 78% dos deputados do centrão querem que Bolsonaro desista agora. Isso não significa que Tarcísio não terá seus próprios problemas. O discurso de extrema-direita amarra o eleitor bolsonarista, mas não é suficiente para garantir aquele um terço dos eleitores que não estão nem com Lula nem Bolsonaro. Como analisa Maria Cristina Fernandes, Tarcísio tem dificuldades para se apresentar com um discurso avesso ao confronto e de se diferenciar do bolsonarismo-raiz, com um mandato marcado pelo uso da segurança pública contra os pobres.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.100 anos de , diz filha de líder congolês. Confira a entrevista de Juliana Lumumba ao Alma Preta.

.Ucrânia: a OTAN pode perder sua “guerra infinita”. Da sabotagem econômica à guerra, como os planos ocidentais de derrotar a Rússia vão fracassando. No Outras Palavras.

.Resistência diária na Cisjordânia. Um relato exclusivo do campo de Dheisheh. No Esquerda on line, o relato de um dos moradores do terceiro maior campo de refugiados da Cisjordânia.
 

.A máquina de moer professores. Como a política do governo do Paraná para a educação levou ao afastamento de um quarto dos docentes da rede pública por problemas de saúde mental. Na Carta Capital.

.Famílias de baixa renda são maioria entre lares sem acesso ao gás de cozinha. Cinco milhões de lares não têm acesso a gás para cozinhar. No Alma Preta.


 .Governo de Sergipe usa “sem restrições” ferramenta israelense de invasão a celulares. No Mangue Jornalismo, a falta de transparência, da compra ao uso, do software israelense de vigilância pelo governo de Sergipe.

.98% dos projetos em Minas Gerais escapariam da análise ambiental com o PL da Devastação. A ameaça às águas e à três biomas em Minas Gerais se o projeto da devastação for sancionado. No Projeto Preserva.

.Tom Phillips destrincha o crime que tirou a vida do amigo dele. O Rádio Novelo entrevista o jornalista britânico sobre os últimos dias de vida de Dom Phillips e Bruno Pereira.

Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.

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