Olá, mesmo com o amigo na Casa Branca, Bolsonaro não poderá ir à Disneylândia.
.Deadline. Trump deu de presente para Lula uma vantagem na conjuntura interna: a recuperação da auto-estima nacional. Ao mesmo tempo, o alinhamento dos bolsonaristas com Trump e o seu apoio ao tarifaço deixaram evidente o espírito entreguista da extrema direita, constrangendo inclusive membros do PL. Como as novas tarifas passarão a valer somente em agosto, foi possível ao governo manter uma tática de “morde e assopra”, combinando o discurso combativo de Lula com a postura mediadora de Alckmin e Haddad na mesa de negociações junto ao empresariado nacional. Porém, mesmo que a taxação aos produtos brasileiros gere algum descontentamento em setores importadores norte-americanos, a verdade é que ninguém acredita que haverá uma solução para o tarifaço a curto prazo. Até porque a solidariedade de Trump a Bolsonaro é apenas a ponta desse iceberg. O que está em jogo mesmo é o posicionamento geopolítico do Brasil, incluindo a postura autônoma em relação às big techs e a nossa participação nos Brics. A direita doméstica já denuncia que Lula fez do Brasil bucha de canhão dos interesses russos e chineses na disputa global, e a solução mágica seria abandonar os Brics. Simples assim, como defendeu o Estadão num editorial que só faltou ser escrito em inglês. Por isso, ficou evidente que o impacto do tarifaço é mais político do que econômico. Vale lembrar que Trump não nomeou até hoje um embaixador no Brasil, assim como ainda não falou com Lula no seu segundo mandato na Casa Branca. Enquanto o prazo final para a implantação das tarifas não chega, Lula aproveita para explorar as contradições da situação, o que inclui arregimentar apoio na esfera internacional, tanto entre os países vizinhos quanto na OMC. Mas a hora da verdade está para chegar e não haverá espaço para o governo brasileiro recuar, avaliam Graça Druck e Luiz Filgueiras. Entrando em vigência o tarifaço, o que Lula fará? Provavelmente encampará algum tipo de retaliação, mas não necessariamente nos mesmos termos do ataque recebido. Seja como for, o desafio será responder à altura, mantendo a moral do Brasil e a mesa de negociação aberta, sem deixar o governo perder o saldo político alcançado até agora.
.Sofro calado na solidão. Mas não é só o destino do governo Lula que depende da escalada do enfrentamento com os EUA. Não se sabe se alguém na família ou na direita realmente acredita que a pressão de Donald Trump pudesse evitar que Jair acabasse atrás das grades. Pelo contrário, parece que quanto maior a pressão externa, mais próximo o ex-capitão fica da cadeia. A ostentação da tornozeleira eletrônica no Congresso deveria ser simbolicamente o início da reação bolsonarista. Na prática, Jair atraiu mais jornalistas do que deputados. Apenas seis parlamentares de fora do PL participaram do ato, demonstrando que o centrão não está muito preocupado com o destino de Bolsonaro. A manutenção do recesso e a proibição das reuniões no Congresso durante as férias parlamentares por Hugo Motta também frustrou as pretensões do PL de transformar as comissões da Câmara em palco para atos políticos e moções de apoio ao seu líder. E, graças ao realismo fantástico da política brasileira, em represália à decisão de Motta, o PL considera até votar com o governo para manter o veto a projetos de interesse dos presidentes da Câmara e do Senado. Fora do parlamento, o bolsonarismo também tem dificuldades para angariar solidariedade, sem conseguir convencer nem mesmo os caminhoneiros a fazerem uma greve em sua defesa. O único apoio que Bolsonaro recebeu nos últimos dias foi de Luiz Fux, que não terá obstáculos se quiser visitar a Disneylândia. Ninguém vai admitir em público, mas Donald Trump e Alexandre de Moraes estão fazendo um favor à direita ao tirar definitivamente o peso de Bolsonaro da disputa eleitoral, abrindo espaço para que o centrão possa discutir seu candidato sem se constranger com a turma do PL. Isso também explica o modo metralhadora adotado nos últimos dias por Eduardo Bolsonaro. Vendo fracassar os planos da família de ter alguém na chapa de direita com o sobrenome do pai, Eduardo aposta na exposição, na polêmica e, principalmente, no fogo inimigo para forçar alguma chance de que este nome seja ele mesmo. Depois de Tarcísio, foi a vez de Romeu Zema ser atacado pela bananinha em chamas. Apesar disso, Eduardo pode escapar da investigação por suspeita de uso de informações privilegiadas no mercado de câmbio e ainda pode ser socorrido pelo governo do Rio com uma nomeação fantasma, o que o PT tenta impedir no STF.
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.Pedido de investigação dos EUA contra o Brasil foi criado por advogada que atuou em escritório de lobby ligado a big techs. Na Intercept, mais indícios do dedo das big techs no tarifaço.
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*Ponto é escrito por Lauro Allan Almeida Duvoisin e Miguel Enrique Stédile.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.