Olá!
O absurdo se torna normalidade num país chantageado pela extrema-direita mundial e doméstica.
.O gado vira o cocho. Bolsonaro aproveitou os atos do domingo (3) para manifestar-se nas redes, praticamente obrigando Alexandre de Moraes a decretar sua prisão. A jogada visa elevar o nível do confronto e fazer vitimismo para manter uma sobrevida política depois que nem as ameaças de Trump, nem a tática de figurante bem-comportado sentado no banco dos réus surtiu o efeito esperado. O problema é que não há garantias de sucesso.
No improviso, o ex-capitão ainda queimou o membro do próprio clã com mais trânsito no centrão, Flávio Bolsonaro, ao fazê-lo de garoto de recado para postar vídeos e burlar as restrições impostas pelo STF. Ao mesmo tempo, o filho Eduardo não deverá voltar para o Brasil tão cedo sob pena de também ser preso, cabendo a ele continuar as articulações nos Estados Unidos e buscar apoio para a causa do pai na Europa. Com isso, a família não só deixa de ter um nome para as próximas eleições, como também inviabiliza eleitoralmente a própria identidade do bolsonarismo, avalia o cientista político Nicoli Ramirez.
Uma questão em aberto é o efeito da prisão de Bolsonaro para o STF. É verdade que Alexandre de Moraes saiu maior dessa briga do que entrou. Não dobrou-se às chantagens de Trump nem de Bolsonaro e recebeu apoio uníssono dos colegas do Supremo. E mesmo que a proposta de impeachment do ministro defendida pelos senadores bolsonaristas não saia do papel, há danos a minimizar. Por exemplo, as retaliações de Trump podem vir a atingir outros membros da Corte, como Luís Roberto Barroso, cuja família têm relações estreitas com os Estados Unidos, e que já cogita deixar o Supremo antes da aposentadoria compulsória.
Além disso, o STF brasileiro já entrou na mira da Transparência Internacional, e a campanha de difamação bolsonarista vem produzindo efeitos na opinião pública. Um possível caminho para evitar maiores desgastes seria dar um descanso para a imagem de Alexandre de Moraes e apostar num protagonismo maior das instâncias colegiadas da Corte. Até porque tudo isso é apenas uma amostra do clima que teremos nas eleições do ano que vem.
.A maré vai baixar? Mas o Supremo não é o único alvo dos aloprados. Os deputados e senadores bolsonaristas ocuparam o Congresso também para desgastar o governo, numa tentativa desesperada de retirar o protagonismo que Lula conquistou nas últimas semanas. O episódio também é uma mostra da convicção ideológica do agronegócio que preferiu manifestar solidariedade ao capitão amado a discutir o tarifaço de Trump que atinge diretamente o setor.
Mesmo com a volta à normalidade, o risco para o Planalto é que o centrão queira tirar uma casquinha do bolsonarismo para suas próprias chantagens. Afinal, mesmo derrotando o governo na derrubada do IOF em casa, o centrão perdeu duplamente, no STF e na opinião pública.
O Arenão – União Brasil e PP– que são da base governista, sem nunca ter sido, foram os primeiros a farejar a oportunidade de desgastar o governo. Assim como Arthur Lira, que se fez necessário como mediador, mostrando a fragilidade da liderança de Hugo Motta. Na vida real, isso significa que continuarão as dificuldades para ampliar a faixa de isenção do Imposto de Renda e aprovar a taxação dos super-ricos.
Por outro lado, a alternativa de enfrentar o centrão ao modo “toma-lá-da-cá emendas” pode frear a curva de crescimento da recuperação da popularidade do governo. Isso sem contar a continuidade das negociações das tarifas com Trump.
Por enquanto, o Brasil tem conseguido unidade e consenso internamente e apoio internacional, dos Brics a parceiros, como a França. Neste cenário hostil, o país tem se mantido firme em não ceder para as big techs, uma das propulsoras políticas do tarifaço, defendendo a soberania do Pix e a regulamentação das redes sociais.
Mas, no frigir dos ovos, Fernando Haddad já disse que pode pôr as terras raras na mesa de negociações. E para complicar ainda mais, todo o contexto deixa ainda mais combalida a COP 30, pensada para ser o grande momento da diplomacia deste mandato. Os Estados Unidos já seriam o grande problema da conferência, mas a poucos meses do encontro em Belém, o Brasil tem dificuldades que vão desde costurar acordos diplomáticos até uma crise pelos valores das hospedagens.
.Ponto Final: nossas recomendações.
.80 anos do fim da Segunda Guerra Mundial. Europa combalida, os EUA desafiados pela China e um fascismo reciclado em ascensão. Lincoln Secco escreve sobre as lições da segunda guerra no A Terra é Redonda.
.O ruidoso colapso da ordem ocidental. Walden Bello escreve sobre o que falta para a ordem mundial mudar definitivamente. No Outras Palavras.
Como as cotas mudaram a cara das universidades brasileiras? O livro “O Impacto das Cotas” demonstra como a política de inclusão transformou o ensino superior no Brasil. No Jornal da USP.
.Nas cidades campeãs em royalties de petróleo, gasta-se muito, mas pobreza persiste. Agência Pública constatou que o petróleo pode agravar os problemas na maioria dos municípios que recebem royalties.
.Dez artistas visuais chineses para conhecer. Pintores, escultores, performances e fotógrafos apresentam a arte e cultura chinesa. Na Gama.
.Conhecereis a verdade. Neste podcast, as pessoas que leram mais de 6 mil páginas de relatório para produzir o histórico livro “Brasil: Nunca mais”, com 300 páginas, em 1984.
.Podcast mostra como negros entraram no futebol em Curitiba (e revolucionaram o esporte). O Plural conta a história do Britânia, um time de futebol que nos anos 1910 revolucionou o esporte no Paraná ao abrir espaço para trabalhadores e negros.