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O Ponto é editado por Lauro Allan Almeida e Miguel Enrique Stédile, do Front - Instituto de Estudos Contemporâneos, e é publicado todas as sextas-feiras.

A casa caiu, outra vez

Está provado que Jair, Eduardo e Silas Malafaia agiram deliberadamente para sabotar a economia brasileira

Olá!

Os escândalos na família Bolsonaro e a nova derrota do governo mostram que, tirando o centrão, a política brasileira não tá fácil pra ninguém.

.Quem quer ser presidente? Bolsonaro permanece em casa, mas sua vida tem sido agitada. Afinal, as novas revelações da PF com base em mensagens telefônicas mostram que Eduardo é mais do que um filho rebelde que fugiu de casa. Todo mundo já sabia, mas como a Justiça trabalha com provas, e não com convicções, agora está provado que Jair, Eduardo e Silas Malafaia agiram deliberadamente para sabotar a economia brasileira, combinando com os americanos o tarifaço e usando isso como moeda de troca para chantagear o STF e o governo.

As novas evidências pouco acrescentam ao histórico de Eduardo, com suas já conhecidas relações com a ala mais fascista da Casa Branca. As novidades são o envolvimento direto de Silas Malafaia na coação de autoridades brasileiras e o plano de Bolsonaro de cruzar a banda oriental em direção à Argentina, pedindo penico para Milei. O que só confirma a fama de covarde e fujão.

Para completar, o Coaf identificou suspeita de lavagem de dinheiro na movimentação financeira do ex-capitão. Além de reforçar a possibilidade de uma condenação do núcleo golpista (preparem os fogos!), o novo cenário obriga a direita a reposicionar-se para as eleições de 2026. Tarcísio, que até agora fez jogo duplo tentando construir-se como sucessor de Bolsonaro, ganhar o apoio da Faria Lima, e fingir que ainda é candidato à reeleição em São Paulo, terá que sair de cima do muro sem tomar um tombo.

O problema todo consiste em capturar os votos do eleitor órfão bolsonarista, sem confundir-se com um membro da gangue familiar, conquistar os eleitores de centro e ainda preservar-se do tiroteio de aliados como o MBL. O certo é que a corrida presidencial pela faixa da direita se acelerou, com Ronaldo Caiado, Romeu Zema, Ratinho Júnior e até Ciro Gomes (que já voltou de Paris) lançando-se na disputa. Mas, na vida real da política, toda essa movimentação mira principalmente a vaga de vice, já vislumbrando a consolidação de Tarcisio como cabeça de chapa. 

.Centrão não tem fim, felicidade sim. O Planalto até tinha começado mais uma semana com boas notícias. Mais um instituto de pesquisa, dessa vez o Quaest, confirmava que a aprovação do governo melhorou, estancando a desaprovação, retomando a popularidade no Nordeste, entre os eleitores com ensino fundamental e entre as mulheres.

Além disso, 71% dos brasileiros afirmam que Donald Trump está errado em impor tarifas sobre produtos brasileiros e 69% acreditam que Eduardo Bolsonaro age apenas em defesa dos interesses da família. E, principalmente, a percepção sobre a economia tem melhorado, impulsionado pela queda da inflação. Nesta combinação, até as redes sociais do presidente melhoraram, ganhando 2,5 milhões de seguidores.

Mas não há soberania ou economia que desvie o centrão de seus objetos fisiológicos. Num jantar com ares de eleições 2026, reunindo 11 governadores, incluindo Tarcísio de Freitas, e e presidentes de partidos do centrão – Antônio Rueda (União), Ciro Nogueira (PP), Gilberto Kassab (PSD), Baleia Rossi (MDB), Marcos Pereira (Republicanos), além de Valdemar Costa Neto (PL) – a direita resolveu partir para cima do governo e tomar de assalto a CPMI do INSS que o Planalto já considerava pacificada antes da instalação. No dia seguinte, o governo perdeu não apenas a presidência, mas também a indicação da relatoria, que serão assumidas, respectivamente, pelos bolsonaristas, o senador Carlos Viana (Podemos-MG) e o deputado Alfredo Gaspar (União Brasil-AL). A estratégia da CPMI será excluir os governos Temer e Bolsonaro dos escândalos, trabalhando com a narrativa que elas só ocorreram no governo Lula, e centrar os ataques em Carlos Lupi, ex-ministro da Previdência Social, e no irmão do presidente, Frei Chico

.Para trás e sempre. Além do governo, também foram derrotados Davi Alcolumbre e, principalmente, Hugo Motta, que haviam articulado os nomes rejeitados para conduzir a CPMI. No caso de Motta, além do enfraquecimento das relações com o Planalto, o presidente perdeu qualquer influência sobre o centrão depois do motim bolsonarista. Prova disso é que Motta recuou outra vez e desengavetou o projeto de impunidade parlamentar. Assim, não apenas a punição ao motim não deve dar em nada, como os quatro projetos prioritários que o governo e Motta haviam acordado terão tramitação difícil.

reforma administrativa, exigência do presidente da Câmara, nem sequer foi apresentada por falta de apoio dos partidos. Já a isenção do Imposto de Renda, a PEC da Segurança e a regulação das redes vão precisar de mais do que a articulação do Planalto e de Motta para terem um desfecho positivo.

As denúncias de adultização pelo youtuber Felca e a prisão do influenciador Hytalo Santos favoreceram a aprovação do projeto de proteção à crianças e adolescentes nas redes, um passo importante para uma regulação mais dura, tanto que o governo abandonou a cautela com que tratava o tema e decidiu enviar dois projetos para o legislativo. Mas estes devem sofrer o bloqueio da base bolsonarista, sem contar o forte lobby das big techs.

A derrota na CPMI do INSS pode ser também um mau presságio para os vetos ao PL da devastação. E outros temas sensíveis também podem se tornar reféns do centrão. Na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, a obrigatoriedade do voto impresso, bandeira bolsonarista, foi aprovada mais uma vez, além de evitar punições para fake news na lei eleitoral. O novo código eleitoral volta para a Câmara com pressa do centrão para ser aprovado antes de outubro. E a regulação dos trabalhadores por aplicativos também deve ser decidida por uma comissão especial liderada pelo PSD. Por outro lado, o vexame bolsonarista da semana também alertou o centrão que seria de bom-tom abandonar as pautas da trupe no Congresso, como a anistia, para tentar apresentar um diferencial nas próximas eleições.

.Botando ordem na casa. Além dos problemas no Congresso, Lula precisa gerir ainda as tensões com o homem-bomba do cabelo laranja. Mesmo que o Brasil não seja a Venezuela, o tratamento dos Estados Unidos com a vizinhança gera preocupações. O alerta veio do cancelamento de um evento militar no Brasil que contaria com a participação das forças armadas norte-americanas.

No caso do tarifaço, já está claro que a batalha vai ser longa e a saída será mesmo mitigar os efeitos internos da crise, buscar mercados alternativos e pressionar Trump nos fóruns internacionais. Se não para reverter as medidas, ao menos para atenuá-las, como no caso do aço e do alumínio.

A outra frente de atrito é a Lei Magnitsky, instrumentalizada por Trump para bloquear os bens do ministro Alexandre de Moraes, além do cancelamento do visto norte-americano de uma dezena de autoridades brasileiras. Vale notar que nem o governo brasileiro, nem o Congresso têm instrumentos legais para enfrentar sanções internacionais, algo que deveria ser providenciado com urgência, propõe Vera Magalhães.

Por isso, coube a Flávio Dino assumir a dianteira e lembrar o óbvio: o Brasil não tem obrigação de cumprir decisões de um governo estrangeiro. O suficiente para deixar o mercado em polvorosa e derrubar os ativos na Bovespa, levando os bancos a uma perda de R$ 42 bilhões, sob a justificativa de que Dino estaria criando um cenário de insegurança jurídica para as instituições financeiras. Mais do que o amor dos banqueiros a Trump, a medida evidencia o vínculo estreito e o nível de dependência que o nosso sistema financeiro tem com os Estados Unidos.

Mesmo que de imediato as sanções norte-americanas criem uma situação difícil, a longo prazo elas só contribuem para estreitar ainda mais a parceria do Brasil com os Brics e a busca de uma alternativa ao dólar.

.Ponto Final: nossas recomendações.

.O Sahel em busca da soberania. O Instituto Tricontinental detalha o projeto político da Aliança dos Estados do Sahel liderada por militares nacionalistas de esquerda. 

.Palantir, o braço digital do fascismo tardio. A Corporação do Vale do Silício que cria sistemas para deportar e matar a serviço dos Estados Unidos e de Israel. No Outras Palavras.

.Brasil mostra liderança na resistência a Trump, diz principal nome da esquerda europeia. Em entrevista ao ICL, Jean-Luc Mélenchon destaca o protagonismo global de Lula.

.De machismo a microfone desligado. O Intercept mostra como é ser uma vereadora solitária entre homens em um terço dos municípios brasileiros.

.Ricos no Brasil emitem 7 vezes mais gases do efeito estufa do que pobres. Pesquisa da USP comprova que os ricos contribuem muito mais para o aquecimento global. No Poder360.

.Rosa Gauditano e as lésbicas do Ferro’s bar e da boate Dinossauros. Exposição resgata a história do movimento LGBT em São Paulo e a trajetória da fotojornalista Rosa Gauditano. Na Revista Zum.

.Chespirito e o humor a serviço das ditaduras. Pesquisa recente faz uma releitura crítica sobre o papel político de Chaves e Chapolin na América Latina. No Diplô Brasil.

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