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A coluna do Movimento Brasil Popular é publicada quinzenalmente às quartas-feiras. Escrita por militantes do movimento de todo o Brasil, ela aborda temas relacionados à política brasileira, luta id...ver mais

Lutar para regulamentar as redes sociais e sair da defensiva no campo da comunicação 

Notamos que a esquerda consegue, ainda que de forma fluida, pautar o debate, produzir bons conteúdos e palavras de agitação

Nas últimas semanas, o debate sobre a regulamentação das redes sociais emergiu como tema quente da política, mas ele traz consigo uma série de outras questões relacionadas a como a esquerda coletivamente tem encarado a questão da comunicação.

Desde 2018, muito se fala em fazer a disputa ideológica nas redes sociais. Em que pesem algumas análises fatalistas e outras que subestimam o poder da extrema direita, precisamos encarar o processo de disputa política nas redes como uma tarefa coletiva das organizações populares. Temos diversas iniciativas pulverizadas no campo da esquerda, mas nenhuma articulação de peso, que esteja a par das pautas e do que significa fazer comunicação popular e de esquerda nos dias de hoje, e mais: que aglutine diferentes organizações para propor uma agenda de luta na pauta da comunicação.

Em conjunturas como esta, na qual temos grandes acontecimentos da política em curso – a exemplo do julgamento de Jair Bolsonaro, o tarifaço de Donald Trump e a defesa da soberania –  notamos que a esquerda consegue, ainda que de forma fluida, pautar o debate, produzir bons conteúdos e palavras de agitação. Mas precisamos coletivamente ir além disso. A comunicação precisa fazer parte da estratégia e da tática das organizações. Precisamos, inclusive, pensar a comunicação como parte essencial da disputa ideológica e como uma ferramenta com muito potencial para a conscientização e mobilização do povo brasileiro.

Por isso, os movimentos populares devem encarar as lutas em torno da pauta da comunicação como uma luta do conjunto do movimento, não apenas como tarefa dos seus comunicadores. Mas, como trazemos a pauta da comunicação para o debate político? 

O tema da regulamentação das redes sociais tem a possibilidade de ser uma das formas de fazer isso. Primeiro, porque é um tema no qual disputamos diretamente com a extrema direita e temos possibilidade real de vitórias políticas. Acontece que temos uma conjuntura na qual o próprio debate está sendo feito majoritariamente na arena da política institucional, um exemplo disso é o Projeto de Lei (PL) da Adultização 2628/2022, aprovado na Câmara e no Senado recentemente, que estabelece regras para evitar a exploração sexual de crianças e adolescentes, após uma intensa mobilização da sociedade iniciada com a viralização do vídeo do influenciador Felca denunciando como adultos lucram e cometem crimes com crianças no espaço virtual.

A aprovação desse projeto é uma dupla vitória. Primeiro, pelo tema. O projeto aprovado, que espera a sanção do presidente Lula, prevê obrigações para os fornecedores e mais controle de acesso por parte de pais e responsáveis. Além disso, o PL também permite a remoção imediata de conteúdos relacionados a abuso ou exploração infantil, com notificação às autoridades. Mesmo que de forma restrita a um tema, é um avanço no processo de regulamentação das redes sociais, porque é isso que queremos: que as plataformas evitem a difusão de conteúdos falsos e de discurso de ódio e identifiquem os responsáveis pela veiculação para que as autoridades brasileiras atuem para investigar e punir os criminosos.

A segunda vitória é, na verdade, uma lição para toda a esquerda, porque mostra como o debate dentro das redes sociais não está alheio à pauta política e pode contribuir para pressionar (e na grande maioria das vezes, constranger) nossos legisladores a votar projetos que beneficiem o povo. Mas, como fazer para que ações como essa sejam pautadas pelo conjunto da esquerda, e não apenas na política institucional ou de forma dispersa pelas organizações? Essa é uma questão que precisa ser refletida conjuntamente. 

Todos esses elementos mostram que precisamos dar um salto no nosso fazer comunicação enquanto esquerda, e estamos apontando que esse é o momento para fazermos isso. Temos uma conjuntura aquecida e uma pauta política concreta que já mostrou que pode mobilizar a sociedade, mas desde que tenhamos habilidade e unidade para conduzir esse processo como esquerda. Por isso, urge coletivizarmos o debate sobre como a comunicação pode contribuir diretamente na construção de outro projeto de país e estamos dispostos e dispostas a debater essas tarefas.

*Vanessa Gonzaga é comunicadora popular e militante do Movimento Brasil Popular.

**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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