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Camilla Gonda é vereadora de Curitiba pelo PSB, formada em Direito pela PUCPR, em Ciências Sociais com ênfase em licenciatura pela UFPR, mestranda em Ciência Política pela UFPR, pesquisadora, ao la...ver mais

Hipocrisia em pauta: a defesa das mulheres não se faz com discursos vazios

não vou desistir: carrego comigo e com o nosso mandato todas as mulheres


A Câmara Municipal de Curitiba, nesta terça-feria (16) debateu um projeto de lei sobre a proteção das mulheres. Em tese, isso seria motivo de comemoração. Afinal, a pauta da violência contra as mulheres é uma das principais bandeiras do nosso mandato, e ver o tema em discussão no plenário é sempre uma vitória. No entanto, sinto um profundo desconforto e, confesso, um ar de hipocrisia pairando sobre este espaço.

O projeto em questão, de autoria de um vereador da Câmara Municipal de Curitiba, propõe a obrigatoriedade de divulgação dos diversos sites e sistemas para consulta de antecedentes criminais de terceiros pelas instituições e órgãos de execução da política de proteção e promoção dos direitos da mulher. A iniciativa, embora pareça bem-intencionada, perde todo o seu sentido quando analisamos o histórico e o contexto em que é apresentada. A defesa das mulheres não pode ser usada para discursos vazios, especialmente por aqueles que já se mostraram publicamente misóginos.

É impossível ignorar a violência política que sofri há poucos meses, quando fui atacada por esse mesmo parlamentar. E, ao tentar me defender na tribuna, tive meu trabalho questionado e fui acusada de “violência política” em uma tentativa nítida de inversão de papéis. A sindicância aberta por ele contra mim foi arquivada, mas a ferida e a tentativa de intimidação permanecem. O mesmo vereador que agride verbalmente, que questiona a seriedade do meu trabalho com comentários sobre meu vestuário, agora se apropria do discurso da defesa das mulheres. Seria uma afronta?

Enquanto isso, outros projetos essenciais para a proteção das mulheres, de nossa autoria e em coautoria, estão na gaveta: um para consolidar a legislação de proteção à mulher, outro para garantir o direito de preferência de matrícula para filhos de vítimas de violência e um terceiro para combater a importunação sexual em estádios. Onde estão esses projetos? Por que a pauta da oposição, que reflete as reais necessidades da população, não avança?

A população curitibana está questionando esse processo de escolha. A maioria dos projetos pautados prioriza a base do governo, enquanto nossas propostas, que abordam temas cruciais como juventude, emprego, sustentabilidade e cultura, ficam paradas. A defesa das mulheres exige coerência e compromisso real, e não projetos que servem apenas para, aparentemente, limpar a imagem de quem já demonstrou total desrespeito por essa causa e que, publicamente, cometeu uma violência política de gênero.

E o que mais me assusta é ver colegas que se calaram quando passei por isso, agora parabenizarem a postura do vereador em questão. Porém, não vou desistir: carrego comigo e com o nosso mandato todas as mulheres. E com a força e incentivo delas e por elas seguirei na luta para que nossos projetos sejam pautados e para que o debate político em Curitiba seja mais honesto e representativo.

*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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