A Câmara Municipal de Curitiba, nesta terça-feria (16) debateu um projeto de lei sobre a proteção das mulheres. Em tese, isso seria motivo de comemoração. Afinal, a pauta da violência contra as mulheres é uma das principais bandeiras do nosso mandato, e ver o tema em discussão no plenário é sempre uma vitória. No entanto, sinto um profundo desconforto e, confesso, um ar de hipocrisia pairando sobre este espaço.
O projeto em questão, de autoria de um vereador da Câmara Municipal de Curitiba, propõe a obrigatoriedade de divulgação dos diversos sites e sistemas para consulta de antecedentes criminais de terceiros pelas instituições e órgãos de execução da política de proteção e promoção dos direitos da mulher. A iniciativa, embora pareça bem-intencionada, perde todo o seu sentido quando analisamos o histórico e o contexto em que é apresentada. A defesa das mulheres não pode ser usada para discursos vazios, especialmente por aqueles que já se mostraram publicamente misóginos.
É impossível ignorar a violência política que sofri há poucos meses, quando fui atacada por esse mesmo parlamentar. E, ao tentar me defender na tribuna, tive meu trabalho questionado e fui acusada de “violência política” em uma tentativa nítida de inversão de papéis. A sindicância aberta por ele contra mim foi arquivada, mas a ferida e a tentativa de intimidação permanecem. O mesmo vereador que agride verbalmente, que questiona a seriedade do meu trabalho com comentários sobre meu vestuário, agora se apropria do discurso da defesa das mulheres. Seria uma afronta?
Enquanto isso, outros projetos essenciais para a proteção das mulheres, de nossa autoria e em coautoria, estão na gaveta: um para consolidar a legislação de proteção à mulher, outro para garantir o direito de preferência de matrícula para filhos de vítimas de violência e um terceiro para combater a importunação sexual em estádios. Onde estão esses projetos? Por que a pauta da oposição, que reflete as reais necessidades da população, não avança?
A população curitibana está questionando esse processo de escolha. A maioria dos projetos pautados prioriza a base do governo, enquanto nossas propostas, que abordam temas cruciais como juventude, emprego, sustentabilidade e cultura, ficam paradas. A defesa das mulheres exige coerência e compromisso real, e não projetos que servem apenas para, aparentemente, limpar a imagem de quem já demonstrou total desrespeito por essa causa e que, publicamente, cometeu uma violência política de gênero.
E o que mais me assusta é ver colegas que se calaram quando passei por isso, agora parabenizarem a postura do vereador em questão. Porém, não vou desistir: carrego comigo e com o nosso mandato todas as mulheres. E com a força e incentivo delas e por elas seguirei na luta para que nossos projetos sejam pautados e para que o debate político em Curitiba seja mais honesto e representativo.
*Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.