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Carlos Castelo

Eu quero é mujicar

Carlos Castelo é cronista, escrevinhador e sócio-fundador do grupo de humor Língua de Trapo. Casteladas, a coluna dos aforismos, traz o gênero l...
Mujicar deveria virar verbo. Seria um verbo regular da 1ª conjugação no português, terminando em -ar

Casteladas, a coluna de aforismos e pensamentos, traz o gênero literário conhecido por ser o oposto do calhamaço. A frase curta – ou o fragmento – de alegria instantânea, a serviço do humor.

§ Mujicar deveria virar verbo. Seria um verbo regular da 1ª conjugação no português, terminando em -ar, assim como amar, lutar, plantar, esperançar.

Esta seria sua conjugação no presente do indicativo:

Eu mujico

Tu mujicas

Ele/Ela mujica

Nós mujicamos

Vós mujicais

Eles mujicam

Exemplos de uso:

• Hoje, eu mujico só comendo o que plantei.

• Eles mujicam sem perceber, toda vez que dividem o pouco que têm.

• Nós mujicamos quando escolhemos a ética em vez da pose.

Classificação técnica:

• Verbo regular, transitivo direto ou intransitivo

• Verbo neológico (criado a partir de nome próprio – Mujica)

• Uso poético, político e afetivo

Formas derivadas:

• Mujicação (substantivo):

A mujicação daquele discurso foi tanta que fez até o banqueiro sair da sala.

• Mujiqueiro (adj. ou substantivo):

Um sujeito mujiqueiro daqueles: anda de fusca, planta batata, e cita Rousseau no boteco.

§ A ascensão de Ednaldo Rodrigues à CBF foi misteriosa. Atropelou estatutos, usou interpretações jurídicas e, segundo denúncias, falsificou até assinaturas.

Não é à toa que a CBF, essa ópera bufa, se mantém firme na tradição de ser governada por figuras cuja relação com o futebol é a mesma que um bode tem com o balé clássico: zero talento, muito barulho, e sempre defecando na ribalta.

Carlo Ancelotti pisará nesse palco com a inocência de um turista dinamarquês, largado no meio de Copacabana sem mapa. Que Deus lhe dê paciência. Consertar a CBF é pedir demais; mas, pelo salário que receberá, trazer a sexta estrela é quase obrigação.

§ Acabei de assistir a um vídeo no Instagram em que uma influenciadora ensina mulheres a como fazer xixi e cocô.

Pois é, enquanto você tenta pagar as contas e não surtar com o preço do ovo, há uma alma dedicando seu tempo a ensinar a arte milenar de usar o trono de porcelana.

Vamos ser justos: quem nunca olhou para a privada e pensou, “Será que estou fazendo isso errado”? Aparentemente, muitas mulheres, porque o vídeo dessa guru tem milhares de visualizações. No tutorial, ela explica, com a seriedade de um neurocirurgião, como “alinhar sua energia com o fluxo intestinal” e “fazer xixi com confiança”.

O pior de tudo são os comentários. “Nossa, salvou minha vida!”, diz uma seguidora. “Finalmente entendi por que meu cocô estava sem propósito!”, escreve outra. Enquanto isso, a seção de perguntas tem pérolas como: “Funciona pra banheiro químico?

Não me entenda mal, eu apoio o empreendedorismo. Se essa moça quer monetizar o ciclo digestivo, que vá em frente. Daqui a pouco, ela lança um curso online: “Masterclass de Banheiro: Do Xixi Tímido ao Cocô com Carisma”. Só espero que venha com certificado, porque, se é pra mergulhar nesse circo, que seja com estilo.

No fim, o verdadeiro absurdo não é o vídeo. É que a gente continua assistindo, dando like e compartilhando, enquanto o algoritmo samba na nossa cara e ainda sugere “10 Maneiras de Dobrar Papel Higiênico com Elegância”. Sim, de fato, chegou o momento de fechar o app e lembrar que a vida acontece fora da tela.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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