Casteladas, a coluna de aforismos e pensamentos, traz o gênero literário conhecido por ser o oposto do calhamaço. A frase curta – ou o fragmento – de alegria instantânea, a serviço do humor.
§ – Veja, Bibi. Gaza. A melhor costa. A melhor areia. Eles nem sabem o que têm. É triste. Uma propriedade de primeira, de frente para o mar, e eles usam pra quê? Para discutir sobre pedras velhas? Patético. Vamos chamar de “Trump Riviera & Golf Club”.
– Donald, a sua visão é grandiosa. Só que a demografia local apresenta certos desafios de zoneamento. Há uma população residente, digamos, com um apego sentimental ao solo.
— Desafios de zoneamento? Ora, Bibi, isso é linguagem de perdedor. Eu lidei com o conselho da cidade de Nova York, posso lidar com pastores de cabras. A gente faz um pacote de realocação. Oferecemos a eles um loteamento novo em folha, mais para o interior. No deserto. Vamos chamar de “The Trump Freedom Oasis”. Damos a cada família um cupom de desconto para o buffet de frutos do mar no nosso clube. Eles vão amar.
— Um oásis… A ideia é boa. Contanto que a segurança do perímetro seja absoluta. Muros altos.
– Boa ideia. Estacionamento. Ou talvez um water park. Um water park gigante. “The Trump Tsunami Splash!” As crianças adoram. Mas a costa da Síria até o Egito, isso é meu. Você fica com o interior, a Cisjordânia, essas coisas com valor histórico. Você pode transformar os lugares santos em clubhouses VIP.
— Transformar o Monte das Oliveiras em um lounge privativo para membros fundadores. Aprovado. Mas insisto que a segurança da Riviera seja de nossa responsabilidade. Nossos rapazes são muito bons em neutralizar reclamações sobre direitos de propriedade.
— Fechado! Seus seguranças, meus arquitetos. Eu cuido da marca, você cuida da limpeza do terreno.
— É a paz através do desenvolvimento imobiliário!
— Estamos transformando um ativo de baixo desempenho em propriedade de luxo. É a Arte do Loteamento.
— Tem razão. A história, afinal de contas, não é escrita pelos vitoriosos, mas por aqueles que possuem o título da propriedade das glebas. Shalom!
§ Numa festividade candanga, o deputado Hugo Motta decidiu brindar à sobriedade republicana despejando whisky direto na goela. Um gesto, admitamos, de virilidade legislativa.
Ali estava ele, de terno alinhado, cara de quem lê pareceres, mas com o espírito de um universitário em semana de trote.
Dizem que a democracia brasileira resiste a tudo. Resta saber se aguenta o espetáculo de um presidente da Câmara se comportando como um presidente da Câmara: sem nenhuma retórica ou disfarce aparente.
E assim seguimos, entre leis e liquors, tentando entender se o país é uma república, uma série de TV, ou apenas uma grande ressaca coletiva.
§ Afinal, o programa nuclear iraniano é uraniano?
*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.