Por Zanoni Neves
A relevância de um museu não deve ser observada apenas pelo número de peças pertencentes ao seu acervo. É evidente que a quantidade e a diversidade contam, quando se avalia a importância de uma instituição museal. Mas há museus que são considerados de pequeno ou médio porte, porém, são representativos de um grupo ou classe social, de uma comunidade ou, até mesmo, de uma região.
Por quê? Se contribuem para o conhecimento da identidade de grupos sociais ou etnias, são relevantes. Se revelam e identificam as culturas de grupos sociais diversos predominantes numa região, são relevantes. Assim, quando se trata de avaliar a funcionalidade e a importância de instituições museais, a questão da identidade deve ser levada em consideração.
Embora seja considerado de porte médio ou pequeno, o Museu Antropológico do Vale do São Francisco (MAVSF) propõe contribuir para divulgar e reafirmar a identidade e a cultura dos povos tradicionais da região: artesãos, pescadores e canoeiros, roceiros, etc. Mas o museu também possibilita algum conhecimento sobre o trabalho e a identidade de classes sociais como os fluviários.
Nele, a cultura material de grupos e classes pode ser observada. Por meio do acervo fotográfico, é possível conhecer folguedos e rituais que revelam a sociabilidade e a religiosidade de grupos da região. Informações sobre o trabalho também podem ser obtidas através do acervo de imagens.
Antes, era apenas uma coleção particular, guardada em armários, e sujeita a acidentes. No ano de 1974, tive um primeiro contato com a Museologia no curso “Noções de Museologia e Antropologia”, promovido pelo Museu do Índio no Rio de Janeiro.
Durante a XX Reunião Brasileira de Antropologia, realizada em Salvador em 1996, consolidou-se a ideia de criação do MAVSF com a exposição do paper “Artesanato do Médio São Francisco – Uma coleção particular” no GT 22. Ali, vivenciei uma experiência de aprendizagem com profissionais da Antropologia e da Museologia.
Desde então, voltei a campo algumas vezes para ampliar o acervo de peças artesanais. Em tempos mais recentes, contei com o valioso apoio da artista plástica e fotógrafa Tânia S. B. Cotta, em nossas andanças na Bacia do Velho Chico. Pirapora, Juazeiro, Petrolina, Pilão Arcado, Paulo Afonso, Januária, Bom Jesus da Lapa, Santa Maria da Vitória, Propriá, Guaicuí, Parque da Serra da Canastra, Três Marias… são as cidades visitadas.
O MAVSF está consolidado, em pleno funcionamento, e conta com um acervo de, aproximadamente, 500 peças distribuídas em 15 mostruários – aberto à visitação pública. Há dez anos, construímos sua sede e estamos mantendo o seu funcionamento como entidade desvinculada dos poderes do Estado. Mas estamos cientes de que o seu potencial é muito maior do que o trabalho diário que prestamos. Desejamos ampliar o seu escopo e estamos abertos a parcerias.
Além do belo acervo artesanal, representativo das diversas sub-regiões do São Francisco, o museu possui um arquivo de fotografias históricas e atuais, incluindo fotos de objetos do seu acervo e da ribeira. Vale ressaltar que não é um grande museu, mas é representativo da região. É importante ressaltar que o acervo de peças e imagens foram criteriosamente selecionadas, tendo em mente a identidade dos povos tradicionais.
O MAVSF mira-se em fundamentos da Filosofia Política: o fortalecimento da sociedade civil frente ao Estado, sobretudo, quando este assume uma práxis autoritária contra a sociedade civil organizada – e aqui incluímos não apenas os movimentos sociais, mas também entidades científicas. Opõe-se a instituições estatais ou privadas, cujo objetivo é impor o pensamento único e a prática monopolista.
Zanoni Neves Coordenador do MAVSF, Mestre em Antropologia Social–UNICAMP, associado à Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos – Coordenação de Minas Gerais.
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal