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A coluna Cidade das Letras: literatura e educação é mantida por Luciano Mendes de Faria Filho, que é pedagogo, doutor em Educação e professor  da UFMG, e por Natália Gil, que é pedagoga,  doutora e...ver mais

Crônicas de Viagem VII: viagem de segurança e outras viagens

Viagens são para acolhermos surpresas

Por Luciano Mendes

Eu sou daqueles que, ao contrário de muitas pessoas que viajam, adora voltar a lugares que eu conheço ou já fui. Digo “lugares que eu conheço ou que já fui” de propósito, já que a gente vai a muitos lugares mas, de fato, conhece poucos.

E, pior ainda, muitos dos lugares que a gente julga conhecer, mudam (ou mudamos nós!), e jamais serão os mesmos, e estão sempre precisando ser re-conhecidos. As cidades, todas as cidades são assim, até mesmo a minha pequena Pocrane. O que dizer, então, por exemplo, dos museus e outros espaços de cultura e memória?

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Na falta de outra expressão, chamo esta disponibilidade para voltar a lugares que nos trazem conforto por serem minimamente familiares, de viagem de segurança. Uma das vantagens de a gente ir a lugares já conhecidos ou visitados anteriormente, é que podemos nos dar ao luxo de observar detalhes e nuanças que não vimos antes; ou, mesmo, que lá não estavam.

A experiência, num certo sentido, é como assistir a um filme mais de uma vez. Não precisando fixar a atenção no centro da cena, podemos nos deleitar com os infinitos detalhes que toda obra de arte nos propõe.

São Paulo

Outro dia eu estive em São Paulo pela enésima vez. Por razões pessoais, de estudo (fiz meu doutorado na USP) ou profissionais (trabalhei uma década numa instituição que tinha seu escritório nacional na capital paulista), Sampa deve ser a cidade que mais estive, depois de Belo Horizonte e do Recife, onde moro atualmente. No entanto, como toda pessoa minimamente informada sabe, é impossível conhecer São Paulo.

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Na megalópole que nunca dorme, sempre há algo de novo a se fazer ou conhecer!

Para mim, uma viagem de segurança a São Paulo deve incluir o MASP e alguns outros museus menos conhecidos, a Paulista e, obviamente, a USP. Ainda que nem todo mundo saiba, a Universidade de São Paulo é um mundo, uma verdadeira cidade encravada no coração da cidade. Vale muito a pena passear por suas alamedas, conhecer seus museus, centros de memória e muito mais que por lá há.

No entanto, viagens são viagens, e a programação é, em boa parte, para a gente acolher, sem muitos sobressaltas, às surpresas. Da minha viagem de segurança restou uma ida correndo na FE-USP para uma visita de cortesia à querida Carlota Boto, e para matar as saudades. No mais, guiado pela querida Lane Biccas e o impagável Milton Ayres, fizemos passeios por outros circuitos.

Um dos circuitos totalmente desconhecido foi uma exposição sobre Leonardo da Vinci, no Visualfarm Gymnasium. É um passeio imersivo por 25 experiências baseadas ou em torno da obra do gênio “italiano”. Conhecer e re-conhecer algumas das obras icônica do mestre da Vinci é sempre oportunidade para deleite e embevecimento. Mas a exposição em apreço oferece mais: dentre outras experiências, um passeio visual pelas principais obras que chegaram até nós.

N’outro dia, sai da cidade, mas não sem antes passar por uma manifestação reivindicando o “veta tudo” do Lula!  Sair da cidade, na verdade, é um modo de dizer. A cidade é tão grande que a gente quase chega a Minas Gerais, mas não consegue sair dela! Fomos a São Roque, cidade grudada à capital paulista, em busca do roteiro do vinho. Eu nem imaginava que em São Paulo havia um roteiro do vinho. Pura ignorância, pois há, e é composto por dezenas de estabelecimentos. Passeamos e almoçamos por lá.

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O pior de tudo foi que, no meio da viagem, me deu uma recaída de mineiridade: em plena rota do vinho, no momento de escolher a bebida, ao invés de tomar o produto da região, fui seduzido pela saudade e preferi a boa e velha cachaça amarelinha, envelhecida em tonéis de amburana. Estava uma delícia.

O vinho? Ora, o vinho fica, seguramente, para a próxima viagem!

Luciano Mendes de Faria Filho é pedagogo, doutor em Educação e professor titular da UFMG. Publicou, dentre outros, “Uma brasiliana para a América Hispânica – a editora Fondo de Cultura Econômica e a intelectualidade brasileira” (Paco Editorial, 2021)

Leia outras crônicas e artigos sobre educação e literatura na coluna Cidades das letras: Literatura e Educação no Brasil de Fato MG

Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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