Nos Andes, onde o céu se encontra com a Terra, os povos ancestrais celebram os equinócios como momentos sagrados de equilíbrio e renovação.
Esses eventos cósmicos, que ocorrem em março e setembro, marcam a harmonia perfeita entre o dia e a noite, a luz e a escuridão. São portais que nos convidam a dançar com a vida, sintonizando-nos com os ritmos da Consciência Pachamama, a essência divina que nos une a todos os seres e à própria Terra.
Os equinócios são como um abraço cósmico, lembrando-nos da dualidade complementar que existe em tudo: no céu e na Terra, no Sol e na Lua, no masculino e no feminino.
No hemisfério Sul, o equinócio de março anuncia o outono, um tempo de colheita e gratidão; no Norte, traz a primavera, estação de renascimento e florescimento. Em setembro, os papéis se invertem, mas a mensagem é a mesma: a vida é uma dança de ciclos, onde cada fase tem seu propósito e beleza.
Para os povos andinos, esses momentos são celebrados com profunda reverência à Pachamama, a Mãe Terra. Ela nos ensina que, assim como a Terra passa por estações, nós também vivemos ciclos de crescimento, colheita, descanso e renovação.
A Consciência Pachamama nos convida a honrar esses ritmos, não apenas como observadores, mas como participantes ativos da dança cósmica. Quando celebramos os equinócios, estamos nos reconectando com a sabedoria ancestral que vê a vida como um todo interligado.
As montanhas dos Andes, com seus picos nevados e vales verdejantes, nos lembram que somos parte de uma rede maior, onde cada ser tem seu lugar e propósito. Os Apus, os espíritos das montanhas, sussurram em nossos corações que a verdadeira harmonia vem do equilíbrio entre o céu e a Terra, entre o individual e o coletivo.
Nessa dança, somos convidados a saltar para além do tempo linear, mergulhando no agora infinito onde tudo está interligado.
A Consciência Pachamama nos revela que, no silêncio do coração, encontramos a unidade entre o humano e o divino, entre o visível e o invisível. Ela nos lembra que somos átomos luminosos, dançando em uma sinfonia cósmica, onde cada gesto de amor e cuidado com a Terra é uma expressão dessa consciência que nos transforma em guardiões da vida.
Celebrar os equinócios é, portanto, mais do que um ritual, é um ato de reconexão com a essência da vida. É um convite para acendermos a chama do nosso coração, honrando o passado e iluminando o futuro. É um momento para agradecer pela colheita, seja ela material ou espiritual, e para semear novas intenções, alinhadas com os ciclos naturais e com a sabedoria de Pachamama.
Nesses 21 dias de março* fomos chamados a amar sem limites, a transcender o amor condicionado pelo medo e pela sombra, e a abraçar o amor que confia, que dança em tudo, que vive e floresce no coração da vida.
Como peregrinos andinos, embriagados pelo perfume da existência, sentimos que tudo o que fizemos, bem ou mal aos olhos do mundo, está destinado a despertar em nós um amor sem fronteiras. Um amor que inclui todas as espécies, todos os reinos, todo o silêncio vibrante da vida.
Mesmo em meio ao pânico e à dor que parecem dominar o mundo, a beleza e o amor incondicional permanecem imperturbáveis, fluindo como um rio caudaloso que nasce nas montanhas sagradas. É essa força, não da vontade, mas da própria vida, que nos estremece e nos convida a sermos pontes entre o céu e a Terra.
Que possamos, juntos, dançar essa dança cósmica, honrando os equinócios como portais de transformação e renovação. Que a Consciência Pachamama nos guie, lembrando-nos de que somos parte de um todo maior, onde cada ser, cada montanha, cada rio e cada estrela tem seu lugar na grande trama da vida.
Que possamos sentir a incomensurável força que emana das verdes montanhas, dos rios caudalosos, das árvores que resistem a mil tempestades. Que possamos nos embriagar da alegria de estar vivos, da devoção à vida que pulsa em cada instante. Porque, afinal, somos todos uma só família, unidos pelo mesmo Sol, pela mesma Terra, pelo mesmo amor.
* Desde 2003, a Escola Solar Andina traz o convite a preparar-se conscientemente para este tempo de renovação com a Prática Ancestral dos 21 Dias.
** Rene Sabino, escritor e ativista da Nación Pachamama.
*** Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.