“El invasor es un puerco, la clara
Porque aunque yo levante las mano’, dispara
Pero resistimo’ con poca agua
Como los árbole’ de olivo vivimo’
Y en nuestros hombro’ cargamo’ con todo’ los escombro’.”
Residente – Bajo Los Escombros
Todos os dias morrem nas nossas telas de celulares essas crianças empoeiradas, desesperadas, embaixo dos escombros. As imagens que engolimos de Gaza em seco imobilizam.
Então, vem um cantor e nos tira dos escombros das informações racionalistas. “O rei está nu”, sim é um GENOCÍDIO, um simples rap latino mostra o que são realmente esses meninos e meninas palestinos: “Hijos del coraje”.
“Jugando al fútbol descalzo sobre el cemento caliente,
Cruzamos sin puente,
Con agua y con viento generamo’ corriente,
Y si no hay pan suficiente,
Sobrevivimo’ con lo que queda en el diente”.
De repente não posso mais fugir, imobilizada. O mundo já é pequeno e estas crianças são minhas.
Um cantor se levanta e a música encontra o campo de extermínio. Nós, aliviados, começamos a cantar, cantar juntos, e algo acontece. Pássaros se liberam.
Esperamos demais dos políticos, mas o “setor político” só rompe seus cercos, se um povo canta.
O canto não é entretenimento apenas, o canto grita, sussurra, insiste liberdades.
Como dizia Leminski: “Por que os povos amam seus poetas? É porque os povos precisam disso. Os poetas dizem uma coisa que as pessoas precisam que seja dita. O poeta não é um ser de luxo, ele não é uma excrescência ornamental, ele é uma necessidade orgânica de uma sociedade”.
O canto precisa ocupar seu lugar histórico de parir e acompanhar as marchas atuais como bem fazem as manifestações indígenas, onde se dança, se canta, se avança assim.
As marchas nascem antes no coração, cantarolando, por instantes, percebemos que estamos unidos a todos os povos e nos indignamos, nos estremecemos, nos reconhecemos parte dos que sabem o valor de uma criança ao sol.
Horacio Guarany expressou tão bem quando criou a letra:
“Si se calla el cantor, calla la vida
Porque la vida, la vida misma, es todo un canto
Si se calla el cantor, muere de espanto
La esperanza, la luz y la alegría”.
E termina:
“Que no calle el cantor, porque el silencio
Cobarde apaña la maldad que oprime
No saben los cantores de agachadas
No callarán jamás de frente al crimen
Que se levanten todas las banderas
Cuando el cantor se plante con su grito
Que mil guitarras desangren en la noche
Una inmortal canción al infinito
Si se calla el cantor, calla la vida”
A responsabilidade do canto não cabe apenas aos cantores de profissão (e vocação) que nos acompanham o caminho. Precisamos entender o canto como ato coletivo. É o cantar como condição humana, como ato “mágico caseiro”, que se faz tão necessário.
Tejada Gomez, companheiro de Mercedes Sosa, nos brindou essa frase inesquecível: “Toda la sangre puede ser canción en el Viento”.
Quando a geopolítica se cristaliza em inércia, em impotência. Quando convivemos com o genocídio e não podemos chamá-lo assim, é quando mais precisamos dos “viejos brujos cancioneiros”.
Essa dimensão do canto é a nossa chance diante da covardia pseudo-racionalista.
Porque nos querem vender a ideia de que a situação na Palestina é sem solução, em que, discutindo, discutindo, todos lavam as mãos e evadem.
Um vídeo game: De um lado crianças famintas e mulheres vagam, do outro, uns soldados sádicos atiram e riem. Quanto mais crianças palestinas mortas, mais perto do fim. A metralhadora de IA BlueWolf é a maior pontuadora. Jogam de perto e de longe. Caminhões são bloqueados, porque pontua a fome. Botões são apertados. Não tem cara esse criador do game. O criador apenas diz, podem me chamar de “Vítima”. Mas sabemos seu nome e escolhemos diante da canalhice cantar.
Jaivas soa nessa caixa já estourada: “Todos juntos vamos a vivir”. Queria falar sobre o lobby sionista, o cerco para matar paulatinamente milhões de palestinos de fome, a impotência das pessoas diante dos governos, a venda de armas, as marcas que financiam o genocídio… mas apaguei, porque a música crescia e antes de tudo o GRITO! Apesar de tudo, o canto!
Vieram as imagens dos cancioneiros com sua mirada sem tempo… Mercedes, Heredia, Tejada, Gieco, Jara… A canção que guarda a chama que todo genocídio pretende aniquilar.
E se um barco navega agora para romper o cerco, esse barco poderia se chamar: canção.
Avança um barco rumo a Gaza, Magdalena. Uma marcha se organiza para sair do Egito dia 15 de junho. E nesse momento desde todas as pedras e campos, precisamos cantar! Invadamos esse campo de concentração que se formou em Gaza, ele foi erguido com justificações e atrocidades do governo sionista.

O que latinoamérica tem a oferecer ao mundo? Fogo sobrevivente, esperança de que, sob os escombros, venceremos!
“Me preguntaron como vivía, me preguntaron
Sobreviviendo, dije, sobreviviendo
Tengo un poema escrito más de mil veces
En él repito siempre que mientras alguien
proponga muerte sobre esta tierra
Y se fabriquen armas para la guerra
Yo pisaré estos campos sobreviviendo
Todos frente al peligro, sobreviviendo
Tristes y errantes hombres, sobreviviendo
…
Tengo cierta memoria que me lastima
Y no puedo olvidarme lo de Palestina
Cuanta tragedia sobre esta tierra”
Illapu
* Esmeralda Molina, ativista da Nación Pachamama.
** Este é um artigo de opinião e não representa necessariamente a linha editorial do Brasil do Fato.