Por Joel Martins Cavalcante*
Dias atrás estava conversando com Suedna, uma querida amiga, pelo WhatsApp, quando ela soltou, do nada, que uma amiga dela tinha um amigo solteiro para me apresentar. Eu disse que tenho traumas. Apesar de ter tido um fim de semana incrível com um garoto que conheço há tempos — mas com quem, só agora, tive a chance de trocar afetos com mais calma.
Mesmo assim, carrego alguns traumas de relacionamentos. Sim, daqueles que ficam calados nos dias comuns, mas que, basta uma faísca — uma lembrança, uma sugestão de novo começo — e eles voltam a gritar.
Estou aqui, parado num ponto de ônibus precário (como a maioria aqui em João Pessoa), levando uma chuva fina, e penso nisso tudo. Nos traumas que ficaram. Nos relacionamentos que deixaram mais dúvidas do que certezas, mais silêncios do que conversas.
Agora, tudo parece drama — por causa do trauma.
Fico repetindo essa palavra como se ela, por si só, pudesse me explicar alguma coisa.
Mas continuo falando com Suedna. Os traumas fazem parte da vida. Isso eu já entendi. A gente é feito deles. Mas não só deles. Também somos feitos de amores, dores, prazeres, desprazeres, de paz e de guerra íntima. Temos nossos extremos. O negativo e o positivo convivem dentro da gente como vizinhos barulhentos: às vezes brigam, às vezes tomam café juntos.
Há uma beleza estranha nessa habilidade de sentir tanto — e de forma tão diversa.
Afetos díspares, contraditórios, em conflito constante.
Mas é isso que nos constitui: seres de carne, memória e emoção.
Sorrisos, lágrimas, vontades passageiras, esperanças ressuscitadas…
Cada pedacinho disso compõe o que somos.
Somos essa espécie complicada chamada Homo sapiens sapiens, tentando sobreviver a si mesma em um planeta igualmente caótico.
E, no fim, tudo se resume a isso: viver e aprender.
Um dia chuvoso pode ensinar mais que um livro de autoajuda.
Há lições escondidas no frio, na espera, no torpor.
O ônibus está chegando agora. Os faróis cortam a chuva como se abrissem caminho dentro da minha mente. Depois eu continuo esse papo com ela — talvez com um vinho rosé, uma cerveja gelada, quem sabe até um cigarro qualquer — e a eterna mania de refletir sobre a vida como quem espera que a próxima parada seja, finalmente, o destino certo.
*Joel Martins Cavalcante é professor de História da rede estadual de ensino da Paraíba e militante dos Direitos Humanos e do Movimento Brasil Popular.
**A opinião contida neste texto não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato Paraíba.
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