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1º de Maio: para onde estão indo os trabalhadores?

A organização coletiva contradiz o individualismo neoliberal e pode reparar as ferramentas de luta dos trabalhadores

Por Geraldo Márcio Alves dos Santos, Angelo Filomeno Palhares Leite e Carlos Magno Machado

É conhecido o poema de Brecht, “Perguntas de um trabalhador que lê”: “(…) No dia em que a Muralha da China ficou pronta, para onde foram os pedreiros?”. O primeiro de maio, talvez, mantenha a base dessa pergunta: para onde estão indo trabalhadoras e trabalhadores? Como sempre, temos mais perguntas do que respostas.

De início, o cômico, senão trágico, é que já sabemos, desde sempre, que é a inteligência, o esforço e a mobilização de trabalhadoras e trabalhadores que sustentam as bases materiais de nossas vidas.

Também sustentam boa parte dos valores do nosso tempo que costumamos elogiar. Como a universalização dos direitos políticos, dentre os quais, a possibilidade de escolha de um regime democrático a integrar um plano estratégico de alcance dos objetivos do campo social de produção do valor-trabalho, dos direitos sociais, como a segurança, o emprego, a educação pública, dentre outros, além dos inaugurais direitos civis.  

Como ir trabalhar e vir do mesmo, hoje, com um trânsito que impede o livre deslocamento? Portanto, as considerações conferidas a esses âmbitos não surgiram num vazio histórico, mas custaram sangue, suor e a própria vida de trabalhadoras e de trabalhadores.

Aos mártires de Chicago devemos o primeiro de maio, aos trabalhadores de todo o mundo devemos a base da vida econômica e das vidas política, cultural e social e aos trabalhadores brasileiros devemos nossa identidade de luta!

Trabalhadores brasileiros

No Brasil de hoje, a síntese das múltiplas relações da realidade de trabalhadoras e de trabalhadores nos mostra, ainda, resquícios da colonização, do passado escravocrata e patriarcal, a exemplo do racismo e do machismo, como algumas das marcas sociais de nossa sociedade. Que, na produção do valor de trabalho, tem seus contornos mais evidentes na classe social, uma vez que o passivo escravocrata marcou culturalmente um modo de enxergar o trabalho, de parcelas das elites brasileiras, como diria Rummert, fazendo com quê a classe social que vive do seu trabalho, sinta e viva em meio às relações de trabalho autoritárias e de exploração extorsiva no século XXI.

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A expansão do trabalho assalariado no Brasil no início do século XX vai imprimir uma nova configuração de luta social no Brasil a tal ponto que, parte da relação capital e trabalho, passa a ser mediada pela criação da CLT. Um dispositivo para conter trabalhadoras e trabalhadores em uma disciplina de direitos e deveres e, ao mesmo tempo, para civilizar uma parte da classe dominante brasileira, pré-elite, a uma ordem social do trabalho assalariado.

Também é verdadeiro, com ampla sustentação em estudos da área e dada à vista por uma cultura laboral eivada de experiências vividas e relatadas, que mesmo sob a CLT, muitos, dessa oligarquia de valores subalternos, temem em conferir às trabalhadoras e aos trabalhadores a sua centralidade na produção de riqueza social.

Mais verdadeiro ainda é que a potência criativa das trabalhadoras e dos trabalhadores não fica a reboque de suas condições de vida, muita embora, possa sofrer algumas injustas interdições materiais e políticas. Isso não justifica produzir algum conformismo e, na verdade, nunca se o produziu, como atestam as suas inúmeras manifestações de resistências.

Contudo, muita coisa resta por fazer para que as pessoas possam trabalhar com dignidade para viver com dignidade. E, hoje, sob o efeito, já de longo prazo, do neoliberalismo, esses desafios são maiores. Já que, além da fragilização do trabalho estruturado a partir de 2016 com a reforma trabalhista e da Lei da terceirização, somam-se os efeitos atuais da financeirização e do trabalho em plataformas digitais, já negativamente sentidos, embora, não plenamente conhecidos.

Então, para onde vão trabalhadoras e trabalhadores?

O professor Ricardo Antunes diz algo interessante ao destacar historicamente as ferramentas de lutas dos trabalhadores. Em seu juízo: movimentos sociais, partidos e sindicatos. Antunes reconhece algum descenso na capacidade dessas ferramentas em mobilizar trabalhadoras e trabalhadores, por isso ele diz ‘ferramentas enferrujadas´.

Todavia, ele lembra que uma ferramenta enferrujada pode, e deve, ser usada até que se tenha outra nova para usar! Portanto, em meio à mudança da estrutura social brasileira, da novidade dos meios de trabalho digitais e das novas formas de luta das trabalhadoras e dos trabalhadores do mundo, cabe destacar algo em comum nas ‘ferramentas enferrujadas’: a organização coletiva!

Essa senha contradiz o individualismo neoliberal e, talvez, por isso essa ferrugem possa sair com um reparo coletivo para um uso coletivo. Sim, as ferrugens podem sair!

Geraldo Márcio Alves dos Santos & Angelo Filomeno Palhares Leite & Carlos Magno Machado são do Coletivo da Experiência do Núcleo de Estudos Sobre Trabalho e Educação/FaE/UFMG

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Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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