Por Aline Vitória Alves Da Silva*, Marcus Vinicius Gomes de Melo** e Jociane Sthefanny Tavares Silva***
O livro O Pacto da Branquitude da psicóloga social e escritora Cida Bento, publicado pela Companhia das Letras, foi lançado no dia 5 de abril de 2022. Para marcar o lançamento, a editora realizou um debate virtual com a autora e com o professor Mário Theodoro, da Universidade de Brasília (UnB), que na época também lançou seu livro, A Sociedade Desigual: racismo e branquitude na formação do Brasil.

Em O Pacto da Branquitude, Cida Bento faz uma crítica aos sistemas sociais, culturais, políticos, econômicos e educacionais, historicamente impostos na construção da sociedade, que beneficiam e confirmam o lugar da população branca como lugar de prestígio.
Segundo a autora, a branquitude consiste em um acordo implícito voltado à manutenção de um grupo nos espaços mais privilegiados da sociedade. Bento explica que a branquitude se manifesta historicamente por meio da garantia contínua de privilégios para pessoas brancas, que são preservados e repassados.
Por muito tempo, a ideia de racismo no Brasil foi tratada como um problema individual, restrito a manifestações explícitas de ódio ou preconceito. No entanto, pensadores como Cida Bento e Grada Kilomba evidenciam que o racismo é um sistema estruturante, sustentado por um pacto silencioso: o pacto da branquitude.
Esse conceito revela como pessoas brancas – mesmo aquelas que se consideram “progressistas” ou “antirracistas” – se beneficiam de privilégios estruturais e, muitas vezes, escolhem não os confrontar. O pacto se manifesta de várias formas: na omissão diante do racismo, na recusa em renunciar a espaços de poder e no discurso meritocrático que ignora desigualdades históricas.
A branquitude, enquanto posição de privilégio, se naturaliza ao ponto de não ser percebida. Pessoas brancas raramente se questionam sobre sua cor, enquanto pessoas negras enfrentam cotidianamente barreiras que lhes são impostas devido à racialização de seus corpos.
No mercado de trabalho, por exemplo, a maioria das empresas brasileiras mantém uma hierarquia racial evidente: os cargos mais altos são ocupados por brancos, enquanto a população negra é empurrada para funções subalternizadas. Esses e outros comportamentos são percebidos nos currículos escolares, nas mídias sociais, no judiciário, que procuram valorizar o comportamento, conhecimento e cultura da pessoa branca, buscando seu reforço e legitimação onde narrativas eurocêntricas continuam a dominar.
No ambiente acadêmico, por muito tempo, as vozes negras foram silenciadas ou relegadas à margem. Mesmo as políticas de ações afirmativas – como as cotas raciais – enfrentam resistência, pois colocam em xeque a crença na “democracia racial” que historicamente serviu para mascarar a discriminação no país.
Romper com esse pacto exige mais do que discursos bem-intencionados. Exige reunião de esforços coletivos para ações concretas, tais como: repensar privilégios, abrir espaços de decisão para pessoas negras, ampliar o diálogo nos diversos espaços de maneira crítica, apoiar políticas públicas que reduzam desigualdades raciais e, acima de tudo, estar disposto a ouvir e aprender com quem sempre foi silenciado. Afinal, o racismo não é um problema apenas de quem o sofre, mas também – e sobretudo – de quem se beneficia dele.
Se a sociedade brasileira deseja realmente avançar na luta por justiça racial, o primeiro passo é reconhecer a existência desse pacto tendo consciência do seu lugar historicamente situado nesse espaço. E o segundo, mais difícil, é desmantelá-lo.
Para saber mais
ALMEIDA, Sílvio. Racismo Estrutural. São Paulo: Pólen, 2019.
BENTO, Cida. O Pacto da Branquitude. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
KILOMBA, Grada. Memórias da Plantação: episódios de racismo cotidiano. Rio de Janeiro: Cobogó, 2019.
*Aline Vitória Alves da Silva é estudante de ciências biológicas da UFPB – CCA , Campus 2. Bolsista do Prolicen e voluntária do Probex. Realiza pesquisa na área da educação étnico-racial no ensino de ciências e biologia.
**Marcus Vinicius Gomes de Melo estudante de ciências biológicas da UFPB – CCA, Campus 2. Tem 21 anos, nasceu e foi criado na cidade de Guarabira (PB) e voluntário do Prolicen.
***Jociane Sthefanny Tavares Silva é estudante de ciências biológicas pela UFPB – CCA, Campus 2. Bolsista do projeto de Prolicen “Formação docente na perspectiva da educação das relações étnico-raciais: contribuindo para as discussões dos aspectos exigidos pelas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008”.
****Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato.
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