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Quando o cuidado coletivo enfrenta a política do abandono

A cada ameaça de fechamento, a cada política que tenta inviabilizar a presença das populações mais vulnerabilizadas no centro, a comunidade se levantou.

Em maio celebramos cinco anos de uma das mais importantes conquistas coletivas no Setor Comercial Sul: o Banheiro Comunitário. Mais do que um equipamento sanitário, ele representa uma trincheira cotidiana na luta pelo direito à cidade, à dignidade, ao cuidado e à permanência no território.

Desde a sua criação, o Banheiro Comunitário se consolidou como um espaço estratégico de acolhimento e resistência para trabalhadoras e trabalhadores informais, artistas de rua, catadores, pessoas em situação de rua, e tantos outros que fazem do Setor Comercial Sul um território vivo, criativo e profundamente humano. Em um centro urbano marcado por políticas históricas de exclusão e higienização social, manter um banheiro público, limpo e acessível é um ato radical de afirmação de direitos.

O Instituto Cultural e Social No Setor sempre esteve ao lado desta iniciativa, reconhecendo sua potência como ferramenta de democratização do espaço público. O banheiro é, ao mesmo tempo, um equipamento de infraestrutura e uma declaração política: de que todos e todas devem ter garantido o mínimo para viver e circular com dignidade pela cidade. Nele, banhar-se, escovar os dentes, lavar roupas ou simplesmente usar o vaso sanitário não são gestos banais; são expressões de resistência, de humanidade, de pertencimento ao território.

Nestes cinco anos, a manutenção e defesa do Banheiro Comunitário se entrelaçaram com as lutas maiores pelo Setor Comercial Sul como espaço de vida, cultura e produção econômica popular. A cada ameaça de fechamento, a cada política que tenta inviabilizar a presença das populações mais vulnerabilizadas no centro, a comunidade se levantou. Foram inúmeras mobilizações, articulações institucionais, campanhas e manifestações públicas que sustentaram este espaço aberto e ativo, mostrando que a cidade deve ser pensada para todas as pessoas e não apenas para quem pode pagar ou se adequar aos padrões hegemônicos de consumo e circulação.

“Banheiro Comunitário se consolidou como um espaço estratégico de acolhimento e resistência”/ Foto Jr Rosa

A trajetória do Banheiro Comunitário reafirma a importância da autogestão, da solidariedade e da construção coletiva na efetivação do Direito à Cidade. A luta pela sua permanência é parte inseparável da disputa pelo território: resistimos à mercantilização e à privatização dos espaços urbanos, defendendo o Setor Comercial Sul como um espaço de diversidade, de expressões culturais plurais e de práticas econômicas baseadas na cooperação.

Hoje, mais do que nunca, é preciso reconhecer o Banheiro Comunitário como patrimônio imaterial do Setor Comercial Sul, um bem comum que expressa valores de cuidado, dignidade e resistência. Seguiremos mobilizados para garantir sua manutenção, sua ampliação e, sobretudo, para que ele inspire outras cidades e territórios a construírem soluções que respeitem a vida, os corpos e os direitos de todas as pessoas.

O Instituto Cultural e Social No Setor reafirma seu compromisso com a luta pelo Direito à Cidade e pela consolidação do Setor Comercial Sul como território de resistência e produção de novas formas de viver, ocupar e transformar a cidade.

Viva o Banheiro Comunitário! Viva o Setor Comercial Sul! Viva o direito à dignidade e à cidade para todas e todos!

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*Rafael Reis é coordenador do Instituto No Setor.

** Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha do editorial  do jornal Brasil de Fato – DF.

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