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Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Perma...

Grândola Vila Morena   

Quem sabe se acordando deste pesadelo não faremos aqui algo ainda melhor?

Nesta semana em que foi instaurada a CPI da Covid, também se “comemorou” aniversário do genocídio em Guernica e do ecocídio nuclear de Chernobyl.

O bombardeio da cidade basca (26 de abril de 1937) foi eternizado na obra de Pablo Picasso. Ali morreram 1.645 pessoas. As bombas eram alemãs, mas a “vitória” foi dos fascistas liderados por Francisco Franco. Crítica muito realista da obra de Picasso afirma que em Guernica ele retratou a “imagem do fim do mundo”… “Um clarão ofuscante de chamas, em seguida a sensação do caos definitivo. Mulheres e crianças gritando, um touro, um cavalo, uma visão de choque e trauma que representa todo o nosso pavor à beira do abismo”.

Já na explosão da Usina Nuclear de Chernobyl (26 de abril de 1986), tivemos rara combinação de arrogância, falhas humanas, ausência de transparência, ocultação de riscos, e muito azar de quem vivia por ali. As estimativas, incluindo os casos tardios, de câncer, apontam perto de 100 mil vitimas. O agravante maior, naquele inferno, pode ser ilustrado pela afirmativa de que “humanos não poderão viver na região de forma segura por pelo menos 24 mil anos”.

E chegamos na nossa CPI da Covid. Em alguns anos, será possível associar os três eventos, como “destaques históricos da terceira semana de abril”? Ou nosso caso é irrelevante? Vejamos: quase 400 mil mortos, e tendência de alta; um povo que suspira aliviado quando a TV anuncia menos de 2.000 óbitos ao dia.

Com o país transformado numa espécie de “celeiro”, ou “caldeirão de mutações”, já contabilizamos, segundo alguns, a circulação de 60 a 100 novas variantes, para onde iremos?

A estupidez é elogiada na televisão, a negação da ciência é ostentada com orgulho, as recomendações de medicamentos inúteis prosseguem, assim como a desmobilização do SUS e o avanço da miséria e do desemprego… Voltamos ao mapa da fome e o super-Guedes diz que a vida dos pobres melhorou… “o preço do arroz está subindo porque eles estão comprando mais – está todo mundo comprando mais”.

Outros membros da corte, inclusive ministros sob comando da família real, tratam de se vacinar às escondidas, ou tentam furar as filas onde os idosos e outros grupos prioritários se acotovelam, disputando doses insuficientes para todos.

Será que tudo isso estará ameaçado pela CPI da covid?

Veremos. O governo parece não ter grandes receios.

E para nós, os “comuns”, parece ser especialmente relevante um fato: esta CPI contribuirá para o lento despertar de todos. Algo novo, que a apuração de responsabilidades, neste caso, tende a assegurar.

De forma otimista é possível pensar que estamos diante de uma boa possibilidade para reconstrução da democracia e da dignidade nacionais.

O que acontecerá se e quando restarem evidenciadas tramoias unindo o ex-juiz de Curitiba e seus procuradores de estimação a parlamentares beneficiados pela chamada “orgia das emendas”, e outros atores comprometidos com a ascensão e a sustentação deste governo, com as mortes causadas pela falta de máscaras, vacinas, oxigênio, campanhas de esclarecimento, orientações e outras medidas incompatíveis com o exercício responsável de cargos públicos?

Todos somos responsáveis, em alguma medida, é verdade. Mas há uma graduação, e afinal isso pode ficar para depois, até porque não interessa, neste momento. Agora, o crucial está em unir forças para interromper a calamidade. Primeiro, precisamos acordar e reunir nossos grupos.

É bem lembrar que os erros típicos de governos fascistas e totalitaristas, associados a desastres como os de Guernica e Chernobyl, cá em nosso país ainda estão incompletos. Podem ser interrompidos.

E a CPI da covid pode ajudar muito, neste sentido, desde que nos mobilizemos para apoiar e empurrar os parlamentares democratas, comprometidos com a contenção do movimento fascista.

Vejam Portugal. A pressão popular, com apoio de militares nacionalistas, arrancou a democracia de dentro do salazarismo e levou aquele país a avançar a passos largos, rumo ao socialismo.

Quem sabe se acordando deste pesadelo não faremos aqui algo ainda melhor?

Que a música que os animou, nos inspire!

 

* Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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