Ouça a Rádio BdF

Mais louco é quem permite

Semana repleta de novidades que, no conjunto, deixaram pelo menos um fato bem claro: vivemos a era dos absurdos

Semana repleta de novidades que, no conjunto, deixaram pelo menos um fato bem claro: vivemos a era dos absurdos. 

A partir daqui, com estes modelos de sucesso que se multiplicam como formigas em casca de laranja, parece que a paz e a harmonia só serão alcançadas nos cemitérios. 

Discípulos do Coringa, aquele psicopata que sequer existe no mundo real, arrastam multidões pelo caminho de destruição das instituições que dão segurança à vida em sociedade. Estão em postos chave e nada do que façam ou digam está sendo rejeitado pela multidão de candidatos a vítimas de seus destrambelhamentos. 

Entende-se que um filósofo com biografia na Wikipédia e com inúmeras citações de estudos feitos no passado, mas tão irreal como o Coringa, tenha “criado” uma teoria citada em meios de comunicação social e por diversas instituições acadêmicas internacionais. Pelo menos, até ser desmascarado. O autor era um produto, um simples exemplo das dimensões ilimitadas, de enganação, que a IA e o controle das mídias possibilitam. Mas “sua teoria”, dando conta de que vivemos orientados por “narrativas hipnóticas”, onde o que vale é nosso grau de crença nas histórias que compartilhamos, não deixa de ter fundamento. Ela foi publicada em livro (“Hipnocracia. Trump, Musk e a Nova Arquitetura da realidade”) assinado por Jianwei Xun, um suposto filósofo nascido em Hong Kong e radicado na Alemanha, que só teve sua inexistência reconhecida quando um jornal italiano constatou a impossibilidade de entrevistar alguém que não existe. O verdadeiro autor da fraude afirmou que nã pretendia enganar ninguém, mas tão somente  evidenciar, na prática, os perigos da inteligência artificial controlada pelas big techs. Conseguiu.

E podemos até rir disso, assim como fazemos com as palhaçadas do Coringa. Mas estamos no Mundo Real.

E aqui, assim como somos influenciados pelo Jianwei Xun ou pelo Coringa e o Batman, temos que lidar com o Donald Trump.

Pois não é que esta semana o cara decidiu aumentar as tarifas dos produtos chineses para 125% (ou 145%? ), e ao mesmo tempo, “reduzir” as taxas impostas “ao resto do mundo” (que ele havia aumentado – semana passada – em até 49% ), para 10%. 

Teria tomado esta decisão motivado, de um lado pela reação da China, que havia retrucado com taxas de 84% aos produtos dos EUA, e de outro, para atender seus financiadores de campanha e por consideração ao desespero de lideres e representantes de mais de 75 países, que “doidos para renegociar” estariam fazendo fila para, segundo ele, lhe “puxar o saco” e lhe beijar o fi-o-fó (“kissing my ass”).

Com isso, as bolsas de valores, que haviam caído no mundo inteiro, subiram de repente. Então, alguns bilionários bem informados, que compraram ações na baixa da semana anterior, nesta enricaram como nunca seria possível, em condições normais

Mais do que o capitalismo da tragédia, onde especuladores se beneficiam de guerras, terremotos e coisas do gênero, estamos diante de algo que pode ser classificado como o capitalismo do deboche, onde o palhaço armado acredita ser rei.  E é triste verificar que o “nosso” agronegócio comemora, acreditando que terá algo a ganhar com a normalização internacional da hipocrisia.

Tudo a  ver com a Hipnocracia, não é mesmo?

Vejam que na Câmara Federal do Brasil, nesta mesma semana, um dos deputados que encarnam entre nós o espírito do Coringa, se lamentou porque teria exagerado ao dizer em tribuna “eu quero mais que Lula morra e vá para o quinto dos infernos”. 

E outro deputado, do mesmo gabarito Paulo Magalhães (PSD-BA), à serviço de interesses do ex-presidente da Câmara, e com apoio de mais 14 coringas, pediu a cassação do Glauber Braga (Psol-RJ). 

Os motivos? 

No primeiro caso imagino que o destempero do Gilvan da Federal (PL-ES) se explique pelas frustrações de sua turma. Afinal, o golpe falhou, o punhal verde amarelo não assassinou o presidente e ele ainda venceu um câncer. Mas o Gilvan não perde esperanças e inclusive capitaneia um projeto lei que tirará as armas do grupo que faz a segurança presidencial. Qual será o motivo?  

No segundo caso, temos o fato de que Glauber chutou a bunda de um provocador que ofendia sua mãe, uma senhora passando por sofrimento de doença cancerígena grave. Mas a razão da acelerada cassação de um deputado que chutou a bunda de um canalha e o desinteresse no julgamento de outro (Chiquinho Brazão) envolvido com o assassinato de Marielle Franco se entende por outros caminhos. 

Ocorre que o ainda todo poderoso deputado Artur Lyra, que espancava a mãe de seus próprios filhos (segundo ela mesma), e que não gosta do Glauber, mas gosta dos intimidadores do MBL, está determinado a isso. Ele e os seus não dão a mínima para a degradação final, desmoralizante, que estão impondo à Comissão de Ética Câmara Federal. Se trata da realização de uma vingança pessoal, oficializando a naturalização respaldada de atitudes voltadas ao constrangimento e à práticas de desestabilização emocional de parlamentares da minoria, como método de trabalho da quadrilha do Coringa.

Aonde isso nos levará?

Espero que à reação das forças em favor da vida, da ética e da civilidade. 

Ok, será difícil domar o Trump sem o concurso dos norte-americanos e sem a união dos ameaçados. Neste sentido, e enquanto os mais fracos preferirem bajular a reagir em bloco, os abusos continuarão. 

Mas o que se passa no Brasil é coisa que cabe a nós.

Uma música a ver com isso? 

Para nós, os que da barriga da miséria nascemos brasileiros, os que jamais aceitaremos calados, a desfaçatez dessa gente que pretende nos desmoralizar botando a mãe no meio, só há um caminho: partir pra cima. 

Do Chico, Partirdo Alto.

E também uma recomendação de leitura: Carta dos participantes da Plenária Nacional da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida à Comissão Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica (CNAPO), cobrando agilidade na aprovação do Programa Nacional de Redução dos Agrotóxicos.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

Veja mais