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Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Perma...

Viva Marina Silva!

No mesmo Senado, onde uma promotora de jogos de apostas é paparicada, vimos a ministra Marina Silva sendo tocaiada e ofendida de maneira abjeta

Que país é esse onde a cada semana emergem fatos tão inaceitáveis quanto intencionalmente esmaecidos/ocultados por mídias que fazem de tudo para reverberar bobagens diversionistas que funcionam como elementos bloqueadores da consciência nacional?

Mentem sobre o comportamento e as duzentas malas de Janja, sobre políticas de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS), sobre supostos malefícios do pleno emprego e até sobre bolsa família para adoradores de bebês de plástico.

Enquanto isso, no mesmo Senado Federal onde uma promotora de jogos de apostas é paparicada, vimos a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, sendo tocaiada e ofendida de maneira abjeta. Aliás, o senador Plinio Valério (PSDB-AM), que já havia afirmado sua vontade de enforcar Marina e que ali se atreveu a dizer que a respeitava como mulher, mas não como ministra, além de perguntar se ela não estaria com medo dele, contou com apoios enfáticos do senador Omar Azis (PSD/AM) e do presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado. Este, o Marcos Rogerio (PL-GO ), além de tentar calar Marina, fazendo pressões intimidatórias e cortando o som de seu microfone, acabou desmascarando  a si mesmo com um “ponha-se no seu lugar, ministra” que garantiu repercussão internacional (para nossa vergonha) ao que ocorre naquela instância de representação popular que, desde a Grécia antiga, era sinônimo de nobreza. Destaque-se que Marina se defendeu. Enfrentou sozinha aquela tropa de desqualificados até o momento em que, contando com a solidariedade da senadora Eliziane Gama (PSD-MA), se retirou, altiva. Como todos sabemos, infelizmente isso ficará por isso mesmo: nada acontecerá nem com aqueles senadores que se desmascararam, expressando quão pequenos de fato são, nem com os outros, que se calaram diante daquilo tudo.

Os maus tratos à Marina foram com certeza por dinheiro e por ódio a mulheres, agravado por ser preta, de origem pobre e com espaço para defender contra os interesses do dinheiro.

Já na Câmara Federal o deputado fujão, traidor da pátria que faz campanha ativa nos Estados Unidos (EUA) para que os fascistas de lá intervenham aqui de forma a proteger e empoderar os fascistas nacionais, foi homenageado. Nada menos do que uma Moção de Solidariedade da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional foi concedida a um Judas que não apenas articula interferência estrangeira em nosso país como também festejou seu papel naquilo por ele definido como uma “bomba atômica” jogada no Brasil.

Seu pai, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que sustenta as atividades daquele seu agente particular nos EUA, ao mesmo tempo em que se beneficia de intimidações a servidores públicos do Brasil, não deixa de demonstrar seu sentimento de imunidade em relação às leis nacionais. Contrariando determinação da justiça, telefonou (para seu ex-vice) dando orientações sobre o que desejava que o Supremo Tribunal Federal (STF) ouvisse da boca do senador Hamilton Mourão (Republicanos-RS), no depoimento sobre o plano golpista.

Para completar, acaba de ser identificado um grupo de extermínio associado ao quebra-quebra de 8 de janeiro. Um Comando de Caça aos Comunistas como aquele que no golpe de 1964 queimava bancas de jornais, batia em estudantes e destruía teatros. Reeditado em modelo bolsonarista, avantajado e com pretensões incomparáveis, este novo CCC dispunha, inclusive, de tabela de preços para eliminação de pessoas comuns (os “comunistas”, por R$ 50 mil), deputados (R$ 100 mil) e até ministros do STF (por R$ 250 mil, cada). Os documentos veiculados apontam a responsabilidade de um coronel aposentado, ex-colega (na Academia Militar de Agulhas Negras) do ex-presidente Bolsonaro. Nas gravações disponibilizadas pela polícia, sabe-se, inclusive, da existência de um roteiro, um tutorial orientador de atividades para organização dos núcleos golpistas armados, que se pretendiam articulados em escala municipal, regional e nacional. “Massa de manobra é o que precisamos para enfrentar este governo”, dizia o coronel Etevaldo Luis Caçadini de Vargas.

E aí estão alguns fatos reveladores do avanço deste mecanismo perverso, que opera com vistas à degradação civilizatória, neste país.

Opera entre nós uma rede que atua contra o desenvolvimento nacional. Esta rede parece já possuir conexões que se estendem desde o esgoto das milícias criminosas até representações da democracia representativa, atuantes no congresso nacional. Supostamente acalentam a expectativa de alianças que patrocinariam intervenções de potência estrangeira e aguardam/cultivam o momento propício para instalação do caos.

Lula, no papel de líder protetor, com certeza será insuficiente para deter o avanço da metástase que degrada os valores fundamentais de nossa sociedade.

Os limites já alcançados por esta doença exigem uma retomada de processos de base, capazes de extirpar um câncer que avançando livre nos destruirá.

Pensando nisso aí está uma imagem que me parece aplicável: a democracia brasileira é como uma criança adoentada em desenvolvimento.

Uma pessoa em formação. Alguém que em condições normais chegaria à vida adulta carregando valores estabelecidos nesta fase inicial, a partir dos exemplos, oportunidades, vivências a que tiver acesso. O adulto emergirá de processos de formação orientados por alimentos que incluem modelos de conduta sublinhados por manifestações de estímulo e contenção. Atitudes recompensadas com sorrisos ou caretas que correspondem, neste caso a estímulos semelhantes aos créditos do plano safra, que viabilizariam qualquer modelo de agronegócio. O ecocídio do agronegócio predatório e a Reforma Agrária Popular de base agroecológica surgem neste exemplo como indicativos do que seria possível, em paralelo ao comportamento de crianças que se desenvolvem orientadas por mecanismos de premiações, indiferença ou castigos.

E, ao mesmo tempo, como nas crianças, também na sociedade opera ebulição hormonal comprometida por pressões que são vivenciadas sem serem bem compreendidas. O bullying dos assemelhados e o medo permanente em relação ao que esperar de opressores, bem como das ações e omissões de parte de autoridades maldosas ou inconscientes de seus papéis.

E as doenças: o mal-estar associado ao contato permanente com fatores degenerativos como os alimentos ultraprocessados, a água e itens de consumo diário contaminados por agrotóxicos cancerígenos.

O que esperar do impacto integrado disso tudo, sobre o desenvolvimento de um metabolismo tensionado por mensagens de propagandas e desejos irrealizáveis?

O acolhimento amoroso de pais e mães, fundamentais para o que a criança virá a ser, no futuro, seria suficiente para seu desenvolvimento sadio?

Seria razoável atribuir apenas àqueles que também são vítimas, tamanha responsabilidade?

Ora, assim como ocorre com o desenvolvimento de cada criança, e de todos os adultos, o que ocorre com a sociedade dependerá de ações coletivas. E nos dois extremos (construção de cidadãos e de cidadania) a harmonia e o desenvolvimento social dependerão de projetos, métodos e enfrentamento consciente, coletivo, aos fatores que ameaçam a saúde comum.

Portanto, e como no caso daqueles organismos afetados por câncer, onde por vezes a ciência recomenda extirpar um órgão, fazer quimioterapia e amargar períodos difíceis, também para a correção de desvios do metabolismo social, medidas radicais podem ser necessárias. E com urgência, antes que seja tarde.

As medidas mais simples, como no caso da orientação de vida para crianças bem ou ao menos razoavelmente nutridas, envolvem a eliminação dos exemplos inadequados. Controlar a internet, acompanhar os amiguinhos, alertar os parentes, identificar e separar, retirar de cena as más influências.

Simples assim: dar estímulos positivos, trazer bons exemplos, corrigir e afastar os responsáveis pelas distorções no comportamento coletivo.

E por isso, voltando ao início do texto, retomando aqueles comentários sobre a emergência e a naturalização de fatos inaceitáveis, creio que o método se aplica.

Para superar os elementos bloqueadores da consciência nacional e ativar mecanismos de estímulo ao protagonismo, aquelas pessoas que ocupando postos de referência, que sendo modelos de sucesso e de conduta disseminam e protegem o que há de pior entre nós, precisam de correção. Deputados, senadores, governadores, vereadores, prefeitos, formadores de opinião e elaboradores de políticas que atuam em favor da metástase social precisam ser desmascarados e substituídos.

E isto precisa começar agora. Não podemos esperar 2026, nem contar com a força e a mística de Lula. Precisamos sim, dos sindicatos e dos partidos comprometidos com a dignidade e a soberania nacional.

Ou entramos em campo, com a coragem, a altivez, a autoridade moral e confiança no futuro demonstrados por Marina Silva, para atuarmos como construtores deste país, ou em breve não haverá país.

Uma música? Fica mal com Deus, de Geraldo Vandré.

Carta de repúdio ao que ocorreu no Senado, por parte do Sindicato de professores aposentados da Univerdade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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