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Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Perma...

Seminários regionais, protagonismo e desinformações

Assisti ao lançamento do Fórum Democrático da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (Alergs) e gostei muito do que ouvi

Nesta semana temos uma boa notícia, que vale repercutir aqui.

Ela traz algum otimismo em relação à possível retomada do processo democrático participativo que já foi pujante neste Rio Grande do Sul que hoje se percebe tão entristecido. É ótimo o sentimento de que talvez possa estar começando algo potencialmente capaz de animar reações de enfrentamento à manipulação midiática que tem nos mantido nesta aceitação mansa de desgraças trazidas pelo empoderamento do gauchismo de extrema direita.

É verdade que não podemos nos entusiasmar com notícias. Ao menos não ao ponto de festejar sem meter a mão na massa para ajudar na concretização do que elas possam prometer.

Afinal, sabemos bem que desde a consolidação do antipetismo agregador de todos os espectros da direita, as boas intenções precisam de muito esforço para se concretizar por aqui.

Por isso, e especificando que estou me referindo ao Fórum Democrático da Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul (Alergs), escrevo que assisti ao lançamento e que gostei muito do que ouvi. Então, e desde agora concordando com os pressupostos daquele projeto, entendo que precisamos buscar maneiras de contribuir para seu desenvolvimento. Talvez tratando do assunto e ajudando a divulgar possa ser um bom começo.

Mais especificamente, estou me referindo a impressões que me ficaram, depois de assistir ao Debate Pacto RS2025 – O Desenvolvimento Ambiental. Em uma super síntese: Ocorrido na cidade do Rio Grande, dia 2 de junho, foi a primeira de nove audiências públicas programadas para acontecer de maneira regionalizada, ainda este ano. O objetivo é permitir que a população expresse suas preocupações e urgências, de maneira condicionada à realidade dos diferentes ecossistemas que compõem a realidade gaúcha. Estimular o protagonismo social para conhecimento, enfrentamento, prevenção e mitigação de impactos das alterações climáticas que nos afetam.  No caso específico deste primeiro passo (encontro em Rio Grande): ampliar o protagonismo social na formulação de políticas públicas prioritárias para os 22 municípios da região sul, com ativação e comprometimento das forças vivas, entidades e população ali estabelecidas.

O essencial aqui, em termos do RS como um todo, é esta perspectiva de compromisso com o tratamento respeitoso às particularidades impostas pela diferenciação territorial (clima, geografia, cobertura vegetal, história e cultura, etc). Afinal, a homogeneização em andamento é uma espécie de câncer que tem impactos objetivos sobre a dimensão com que a crise ambiental tem nos atingido. Basta lembrar que 70% da área agrícola do RS está coberta por lavouras de soja que multiplicam o uso de práticas e venenos ecocidas, para entender que o domínio deste agro não tem nada de pop.

E convenhamos, a geração de zonas de sacrifício para muitos, em troca da facilitação de ganhos econômicos de curto prazo (e para poucos), pode até render elogios na mídia (e votos) mas carece de fundamentação ética e moral. E isso corresponde a um mecanismo que precisa ser desmascarado. Afinal, no médio prazo o serviço que tem sido realizado por parlamentares e governantes que dão sustentação a interesses que anulam as vocações e diferenciações naturais do estado, tem sido ruim para todos.

Precisamos atentar para relações de causa efeito que ligam isto a transformações na cobertura vegetal natural dos diferentes ecossistemas , e com certeza os Fóruns Democráticos Regionalizados podem contribuir neste rumo.  Claramente o avanço de uma homogeneização que degrada o território está respondendo a facilitações legislativas, financiamentos públicos e favorecimentos que se expressam em fatos tão crus como este: em 2023, quando a soja passou a ser a principal lavoura da zona sul do RS, 20 dos 22 municípios daquela região entraram em situação de emergência climática. O que aquelas comunidades pensam disso e que políticas públicas são necessárias para enfrentamento daquela realidade? Seguramente os seminários poderão ajudar a encontrar as melhores respostas.

Em outras palavras, se o que está em jogo é a informação e a repercussão de interpretações que atendem a uma minoria favorecida pelo acesso privilegiado a mecanismos de manipulação da consciência coletiva, precisamos encontrar formas de lidar com isso. O que poderia ser melhor do que convocações à participação com paralela garantia de respeito às opiniões?

Para ilustrar algumas das possiveis implicações de nossa desinformação, quanto a aspectos relevantes da realidade em que estamos imersos, considere-se que nesta semana  e utilizando o PL (Partido Liberal) como barriga de aluguel, big techs da tecnologia de comunicação (Meta, Google e CapCut entre outros) promoveram (no Ceará) capacitação/ treinamento de milicias de guerrilha digital com vistas a influenciar nos resultados eleitorais de 2026.

Se tratou da preparação de jovens de direita objetivando evitar a eleição de candidatos progressistas em geral e em particular bloquear a reeleição de Lula e seu governo de composição. Trata-se de parte de um projeto maior, voltado para a geração, automação e multiplicação de “vídeos com conteúdo político enviesado” com pretensão de manipular a compreensão social, sobre a realidade em si. Maquiado sob a bandeira da “liberdade de expressão” ele instrumentaliza uma nova realidade desinformativa, onde algoritmos identificariam alvos  e treinariam redes para inflamar, confundir, atacar e capturar o inconsciente coletivo.

Não estamos preparados, mas é contra isso que teremos de lidar: avança a degradação das singularidades, diferenciações e especificidades humanas, com a emergência da padronização de elementos de subordinação voltados à manipulação e ao controle de nossas reações subjetivas. 

Por isso, toda oportunidade para esclarecimento destas e outras ameaças, bem como para o estabelecimento de compromissos com bases de fundamentação ética e moral, se fazem urgentes e necessários.

Neste sentido, uma vez que a passividade da sociedade decorre da ocultação de um metabolismo que ali atua, a iniciativa da Alergs se apresenta como oportunidade para o enfrentamento da manipulação de informações que, a rigor, está impedindo os gaúchos de tomarem ciência de que a degradação ambiental e outros males que nos afligem, têm patronos.

Por isso, a meu ver os 9 seminários regionais trazidos pelo deputado Pepe Vargas, promotor do Pacto RS2025, merecem nosso apoio. Seu sucesso terá implicações sobre a eleição dos senadores que decidirão sobre os rumos de um futuro que já está sendo definido e que em muito breve desabará sobre todos nós.

Sugestão de leitura e exemplo de protagonismo.

Uma música? Luz das Estrelas, de Elis Regina.

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do Brasil de Fato.

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