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Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, membro co...ver mais

A cartada de Trump

O que pensarão os empresários norte-americanos (e brasileiros) prejudicados por esta estupidez monumental e seus agentes causais?

O sucesso das reuniões do Brics e a emergência de mecanismos de conscientização popular levaram a momento atual, onde os traidores da pátria “conseguiram” (foram eles mesmo?) manifestação do presidente norte-americano contra a soberania nacional dos brasileiros. Trata-se da quase inacreditável carta ao presidente Lula, assinada pelo pretenso ditador global, Donald Trump.

É claro que estamos todos ofendidos e esperamos do governo brasileiro um chamado à consciência nacional e uma reação firme ao assédio, debochado e repleto de ameaças ali contidas. Elas são dirigidas a todos nós, à Constituição, à democracia, à identidade e à soberania deste país. Mas ao afetar a economia, aquelas ameaças prometem roer as bases da riqueza e, portanto, acabar também com as vantagens daquele 1% que não paga impostos e sustenta as bancadas bolsonaristas que operam contra o Brasil nação. E tanto a Confederação Nacional de Agricultura (CNA) quanto a Confederação Nacional de Indústrias (CNI), sabem disso. As Forças Armadas também sabem disso. Portanto, o Brasil vai reagir e é isso que esperamos. A conscientização leva à ação, e as ações ampliam a conscientização.

Não se trata de uma proposição maluca, pedindo confronto direto desta nação pacífica contra o maior exército do mundo, mas sim de reação racional ao maior (e mais descabido) gesto de bullying internacional já vivenciado por aqui. E com certeza nossos vizinhos na geografia e na condição de países do sul do mundo estão vendo que, com isso, eles também estão ameaçados.

Ora, um anúncio de massacre econômico partindo de um gigante com Produto Interno Bruno (PIB) de US$ 28 trilhões, aplicado sobre um pequenino com PIB de US$ 2 trilhões vai levar com certeza a alianças que ainda são incipientes. A China ganhará com isso, e os Estados Unidos (EUA) sabem que o resultado não lhe interessa. Portanto, lá dentro daquele país existirão empresários e políticos de bom senso, que também serão nossos aliados de primeira ordem, para uma mudança desta rota. E esta é a prática usual do Trump: em tudo, ele tem prazo de validade curto. E sempre volta atrás.

Ele já provou que não se constrange de mentir, de ficar colocando e retirando bodes nas salas de pessoas sérias, semana após semana, neste mundo em que parece acreditar que reina.

Por algum motivo, acabou de decidir colocar o bode Bolsonaro, no poder de um Brasil que ele supõe disposto a rastejar vociferando I love you, puxando seu saco. E ele é de fato muito sensível a isso. Aí estão o Netanyahu sugerindo que ele merece o Nobel da paz, e aqueles deputados da comissão de relações exteriores,  propondo moção de louvor a Trump, por sua ameaça de destruir o Brasil.

Então, muita coisa do que ele diz que quer, talvez queira. Afinal, ele não bate bem da bola. Mas isso de colocar o Brasil nas mãos de golpistas que se propõem a lhe lamber os pés, isso ele não vai levar.

Aliás, aquela defesa explícita de Bolsonaro, como “líder admirado nos EUA e em outros paises” indica erro de leitura tão relevante quanto estupidamente associado ao desespero do próprio bode. Ora, o mundo sabe quem é o Bolsonaro. Inclusive, nem mesmo a Michelle ignora que a racionalidade golpista brasileira já abandonou o inelegivel. Aparentemente o novo ungido é o Tarcísio, aquele governador de São Paulo que sabe que quer, mas não assume porque não sabe se pode. E parece que o Trump não sabe do que efetivamente se passa por aqui, ou não está nem aí para isso. Ou, no pior cenário, está preparando seu recuo para ser apresentado não como uma derrota, mas sim como algo associada a uma negociação com o Tarcísio ou com algum outro da mesma laia e disposição entreguista.

De toda forma, temos que entender que o Trump está sendo ele mesmo ao colocar o que ele pensa ser o bode da vez, no que pensa ser a sala do Brics. Deve acreditar que o Brasil vai se acocar e puxar todo o cone sul numa onda de continência à bandeira americana, com nossos povos desistindo de construir seus destinos e virando às costas para a China. Daí então ele sacrificará o bode da ocasião, como fez com o Musk. Ou quem sabe até fará algo pior. Os perigos moram na alma dos malucos empoderados. Nero tocou fogo em Roma.

Enfim, nos seus delírios de incendiário Trump se comprometeu de elevar as tarifas de produtos que o Brasil exporta para os EUA em 50%. Ou mais do que isso, assim que o Brasil retrucar com a reciprocidade naturalmente esperada, e que ocorrerá.

E que produtos são estes? Em primeiro lugar, a carne; depois o suco de laranja, o café, minérios. Enfim, essencialmente produtos relacionados ao agronegócio e ao extrativismo que também sofrerão nas contabilidades internas já que ocorrerão elevação nos custos de máquinas e insumos que o Brasil importa dos EUA, dificultando nossa competitividade na busca de outros mercados.

E assim, com aquele argumento de que pretende salvar o líder golpista que avança para o xilindró, e que já foi abandonado por seus parceiros, Trump anunciou que pretende destruir os negócios dos empresários que ajudaram a financiar o golpe.

E o que eles pensarão disso, ou recomendarão a seus deputados e senadores de cabresto?  A quem vão acusar, e a quem irão recorrer?

Em princípio, os mais espertos ficarão mudos. Logo em seguida, estarão repetindo que Eduardo, o traidor, mentiu para os trumpistas. E isso arrastará para o esgoto também aquele discurso de patriotismo falso. Afinal na prática, e olhando para o dinheiro, eles perceberão que ao abandonarem o Brasil estarão fragilizando a si mesmos, destruindo  empregos e alavancando ondas de miséria e degradação superiores àquelas promovidas pelos protogolpistas da era Temer/Moro.

A erosão nas condições de vida, a inflação, o medo e a volta da fome cairão dos céus sobre todos, que para se safar, vão recorrer a quem? O caminho passará pelo Lula! Pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Pelo povo consciente, nas ruas. E os golpistas, aqueles que vestiram o boné MAGA – MAKE AMÉRICA GREAT AGAIN farão de tudo para não deixar aquelas fotos como herança maldita para seus filhos e netos. O centrão voltará a apoiar o Lula.

Os fatos: para justificar seus argumentos, Trump ainda referiu um balanço comercial desigual, que seria prejudicial aos EUA. Ora, como assim “prejudicial aos USA”, se eles são superavitários nas trocas internacionais que fazem conosco? Levam uma vantagem de US$ 410 bilhões nos últimos 15 anos.

A balança comercial entre Brasil e Estados Unidos bateu recorde no primeiro trimestre de 2025, atingindo US$ 20 bilhões, onde o Brasil registrou déficit de US$ 654 milhões – compramos mais dos EUA do que vendemos- segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil.

De outro lado, em 2024 exportamos para a China US$ 47.683,9 milhões, de onde importamos US$ 35.691,8 milhões. O saldo de US$ 11.992,1 milhões nos ofereceu superávit de 28,7%, concentrados em produtos como soja, açúcares, carnes, celulose, couro e outros itens relacionados à mesma cesta que exportamos também para os EUA.

Onde o Brasil vai procurar mercados para os mesmos produtos? Na China, na Rússia, no Brics! Então, aquela taxação de produtos que os empresários norte americanos compram de empresários do Brasil vai nos obrigar a fazer exatamente o que Trump diz querer evitar: trocas internacionais em outras moedas que não o dólar, em mercados abertos pelas viagens de Lula ao exterior, fortalecendo o Brics e alianças no Mercosul!

O que pensarão os empresários norte-americanos (e brasileiros) prejudicados por esta estupidez monumental e seus agentes causais?

Neste sentido, é preciso observar com clareza: existirão aliados do Brasil de Lula, dentro e fora dos EUA. E será com eles que deveremos formar alianças, tendo em vista a construção plurilateral de um futuro melhor para todos.

Com a desmoralização dos argumentos adotados para este ataque ao Brasil, e com as reações internas que ocorrerão em seu país, Trump pode escalar, propor bloqueio comercial ao Brasil e aos países com que viermos a negociar? Pode atacar militarmente o Brasil? Pode mesmo? Mas deverá fazer isso?

Ora, o mais provável é que ele venha a agir como sempre faz: esquecerá o que disse e vai partir para outro escândalo que mantenha seu povo sob hipnose e o mundo, em alerta.

Mas seja como for, os dramas resultantes desta tensão ou acabarão conosco, ou nos fortalecerão como país soberano. Aposto na segunda opção. Acredito que agora a campanha 99porcento  logo alcancará um milhão de adesões, sinalizando oportunidade de retomada de movimento de massas em favor de um projeto de país.

Afinal, as terras, o clima, o povo e o potencial econômico que nos são particulares permitirão a consolidação de alianças que nos levarão a resistir a qualquer bloqueio. Aliás, também creio que esta pressão colocará na cota de Trump e seus capachos internalizados no Brasil, as responsabilidades sobre a inflação que virá, seguida pelo fim do arcabouço fiscal e pela queda na taxa de juros hoje mantida em 15% (nos EUA é 4%) pelo nosso Banco Central. E isso é muito relevante. Afinal, para cada 1% a menos na taxa selic, R$ 50 bilhões que seriam apropriados por rentistas poderão ser retidos pelo governo e investidos em políticas públicas, que fortalecerão nossas indústrias e nosso mercado interno.

E com isso também aqueles deputados golpistas envolvidos com o sequestro dos recursos públicos estarão sendo desmascarados. Hoje, explicitamente, 80 daqueles maus parlamentares estão na mira da Polícia Federal (PF) por suspeita de desvio de verbas do orçamento secreto. Aquelas emendas parlamentares impositivas distribuídas sem controle e possivelmente orientadas para a corrupção também correspondem a erosão ativa, na capacidade de governo. Elas determinam a supressão de valores correspondentes a 50% do orçamento do Ministério da Saúde, e de 80% do orçamento do Ministério dos Esportes, que com isso perdem capacidade gerencial. Aquelas fatias orçamentárias sendo alocadas por decisão subjetiva de parlamentes já inviabilizam qualquer planejamento por parte do poder executivo. Esta mudança, que recuperaria a isonomia dos poderes da República, mantendo cada um em sua área de atuação, também surge como resultado potencial da atual crise. Mas isso dependerá de nós e exigirá uma escaramuça conceitual, interna, que só será vencida com o povo nas ruas.

Tudo isso descarta qualquer hipótese de uma guerra orientada para o massacre, onde eles teriam bombas, aviões, armas e traidores à disposição. Esta coisa, que quase aconteceu na trilha do punhal verde amarelo, será evitada com acordos de proteção mútua, extensiva a outros países e envolvendo outros atores.

Mas precisamos, sim, reafirmar o caminho previsto na Constituição Federal, retirando de postos de responsabilidade pública aqueles inimigos que empestam a trincheira da soberania nacional. E faremos isso com ampliação do nacionalismo reacendido entre nós pelo desaforo trumpista? Espero que sim.

 Entre todos os grupos que compõem nossos povos e com o que resta de valor efetivo, nas Forças Armadas, e com o povo nas ruas, conseguiremos esclarecer ao Brasil, que é o país que está em jogo, como nação. Além do debate entre ricos e pobres, se impõe agora uma resistência típica daquelas colônias que se pretendem emancipadas, contra o império que as explora e os traidores que o permitem.

De Lula, esperamos que convoque e se some ao povo organizado, que chame reuniões e faça por ampliar alianças internacionais.

Em busca da dignidade, da soberania e da paz, venceremos este desafio mostrando (a quem ainda não está ciente), que por culpa de maus brasileiros, ainda teremos que encarar por mais algum tempo, tempos de guerra, tempos sem sol.

PS. E o Bolsonaro? Vai ser preso ou vamos facilitar sua fuga para a Embaixada Norte Americana?

Bethânia canta isso:

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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