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Engenheiro Agronômo, MsC em Economia Rural, Dr. em Engenharia de Produção. Extensionista rural aposentado, fotógrafo. Colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, membro co...ver mais

Nada a fazer senão esquecer o medo (Milton Nascimento)

As notícias da semana poderiam ser apresentadas de forma direta: caíram as máscaras

As notícias da semana poderiam ser apresentadas de forma direta: caíram as máscaras! Há uma articulação para acabar com a democracia no Brasil.

Vejamos de forma mais detalhada alguns fatos que sustentam esta visão:

Primeiro – A mídia norte-americana dá conta de estar vendo, nas atitudes de Donald Trump, indícios de uma estratégia amalucada com repercussões extremamente negativas para o que eles chamavam de império do mundo livre. A predominância de suporte a interesses de grupos antidemocráticos, naquele “mundo livre”, sugere que seu líder perdeu o rumo e está acionando (em interesse próprio e não em defesa da MAGA), bombas relógio potencialmente devastadoras das relações que o sustentam, em âmbito local e internacional.

Segundo – Horas antes de Trump anunciar o “nosso” tarifaço de 50%, ocorreram compras gigantescas e improváveis de dólares, com ganhos de talvez R$ 50 bilhões para os espertos negociadores. Quem deu/recebeu a informação crucial, e qual o destino destes ganhos?

Por último: A extrema direita brasileira entrou em desespero, acumulando rejeição dentro daquelas alianças que inicialmente empoderaram os bolsonaristas. Indicando enfraquecimento e necessidade de reposicionamento das forças de direita, isto deu fôlego ao governo Lula abrindo oportunidades para negociações e mobilizações populares que podem ter impacto decisivo sobre as eleições de 2026.

Vamos aos detalhes de alguns argumentos que sustentam esta leitura.

No primeiro caso vale destacar a emergência de ações judiciais contra as tarifas impostas ao Brasil pelo governo Trump. As repercussões na economia norte-americana, que são enormes, podem ser ilustradas por processo Judicial movido no Tribunal de Comércio Internacional pela empresa Johanna Foods. Responsável pelo comércio de três entre cada quatro litros de suco não processado de marca própria vendido nos EUA, aquela empresa está divulgando que a taxação de 50% sobre a laranja brasileira afetará o mercado norte-americano ampliando o preço de venda (em 20 a 25%) e ameaçando os 700 empregos mantidos suas unidades em Washington e Nova Jersey (para detalhes ver informação veiculada no ICL Noticiais).

A General Motors (GM), que finaliza nos EUA carros parcialmente montados no México com peças feitas em vários locais, chassis e outras partes de metal vindas do Canadá, está gritando. Com o México e o Canadá sobretaxados, ao mesmo tempo em que as taxas impostas ao Japão são reduzidas, tudo mudou no mercado de veículos. Os carros japoneses se tornaram mais baratos que os americanos, para os norte-americanos. A GM anuncia estimativas de perdas na bolsa e no mercado, que podem alcançar 1 bilhão em 2025, e subir até 5 bilhões, se nada mudar

Estas situações, que não são isoladas, podem gerar rupturas em cadeias de negócio provocando a emergência de desertos socioeconômicos, não apenas nos EUA, mas também em países fornecedores de produtos essenciais a diferentes mercados e seus fornecedores de insumos. Portanto, resta crer que a busca de uma condição de equilíbrio determinará dinâmicas corretivas antes do caos. A hipótese é que as mudanças serão informadas tão logo Trump consiga abafar as denúncias de seu envolvimento em casos de pedofilia relacionados à chamada lista de Epstein. Nesta leitura, os escândalos econômicos criados por Trump serviriam como cortina de fumaça para cobrir escândalos maiores, no campo dos costumes, que -estes sim- poderiam levar a seu impeachment.  Para que se tenha uma dimensão do caso, destaque-se que, para calar todas as mídias, Trump está processando o Wall Street Journal  em 10 bilhões de dólares, por comentários sobre o tema, que aliás, já havia sido mencionado por seu ex-parceiro, Elon Musk.

Com certeza que nos ameaça não se limita a questões econômicas temporárias, e isso impõe a necessidade de considerarmos outras motivações para o bullying contra o Brasil. Já comentamos as disputas com a China e a importância do Brasil para o Brics. Parece que além disso devemos assumir que está sendo intolerável, para Trump, a reconstrução da soberania nacional em espaços como o nosso, onde a democracia insiste em emergir. 

Com esta visão, Steven Levitsky, autor do best-seller ‘Como as democracias morrem‘ vem afirmando que aquelas tarifas abusivas ocultam ações de intimidação destinadas a erodir o processo democrático brasileiro. Elas somariam à desinformação e arrogância típicas do atual presidente norte americano, uma interpretação personificada de “caça as bruxas” desencadeada contra objetivos do quebra-quebra de 8 de janeiro, que emulariam no Brasil aquele incidente do capitólio. Para Levitsky, Trump teria sido estimulado por maus conselheiros e acreditaria que Jair está sendo perseguido exatamente pelo fato de admirar e tentar seguir o exemplo de sucesso trumpista.

Considere-se, na mesma linha, artigo do Financial Times (22/07) intitulado “Trump, Imperador do Brasil“, onde ele (Trump) é acusado de trabalhar pela “promoção de autocracias”. O texto contrasta as taxas de 50% impostas ao governo democrático brasileiro, com quem os EUA mantêm superavit comercial, com a posição de tolerância em relação aos déficits comerciais mantidos com a Turquia de Recep Tayyip Erdogan (tarifas de 10%), caracterizando a preferência de Trump por regimes autoritários.

Vejam que isso pode estar associado a recentíssimo escândalo financeiro que acaba de proporcionar ganhos inusitados aos clientes de três muito estranhas e suspeitas operações de compra de dólares, na bolsa de valores brasileira. Esclarecendo: por norma os contratos de compra de dólares abarcam lotes de 50 mil dólares. Sendo operações risco, elas são bastante raras e, em média não ultrapassam os dez lotes (de 50 mil US$ cada). Pois bem, em apenas 75 minutos, no dia do tarifaço, ocorreram três operações de compra envolvendo, respectivamente, 4 mil, 4,5 mil e perto de 10 mil lotes de 50 mil dólares. Os ganhos, na menor daquelas operações (a de 4 mil lotes, que transacionou US$ 20 000 000) teriam sido algo em torno dos R$ 20 milhões. Denúncia do ICL sobre aquela movimentação atípica, de aproximadamente R$ 6,6 bilhões, justificou pedido de investigação pela AGU (Advocacia Geral da União) e já alimenta mobilização de parlamentares para instalação de uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI).

A suspeita, aqui, vai além do vazamento direcionado de informações relativas ao tarifaço, que teriam permitido -para algumas pessoas- acúmulo de ganhos extraordinários. O que mais interessa esclarecer são as possíveis relações entre aquelas operações irregulares e ameaças à soberania nacional, envolvendo o financiamento de atividades antidemocráticas relacionadas por exemplo à anistia dos golpistas e às eleições de 2026.

Quanto aos rachas provocados pelo tarifaço, entre os golpistas antinacionalistas da extrema direita brasileira e os capitalistas que financiaram suas ascensões ao legislativo, vale contrastar os editoriais de jornalões que há pouco os enalteciam e que agora atacam todos que elogiam Trump e suas medidas.

Isto não significa a emergência de um surto de tolerância, em relação ao Governo Lula, no Estadão e no O Globo. Ao contrário, sugere reiterada demarcação de seus campos de interesses, com alerta aos golpistas mais incautos quanto à exigência de robustez de seus compromissos, para com os interesses “do mercado”. Se trata de uma espécie de verniz de isenção temporária, que retornará na forma de virulência ampliada tão logo a direita escolha seu novo paladino. Eles sabem que Jair em breve estará preso, e já o abandonam, dando início ao esvaziamento do grupelho formado por seus familiares e agregados mais radicais.

Portanto, as notícias da semana recomendam atenção para a necessidade de construção de mecanismos de defesa preventiva, descartando as baratas moribundas e priorizando aquelas situações em que, claramente, a melhor defesa não é o ataque.

É o caso das ameaças do Trump. Não faz sentido bater de frente com ele, nem acalentar expectativas de negociação baseadas em preceitos de racionalidade. Ele já anunciou que fazemos parte do grupo de países que não se dão bem com os EUA, coisa que só vai mudar quando ele estiver fora da jogada, ou se desistirmos do Brasil que queremos. Por outro lado, lá nos EUA os problemas da administração trumpista não param de crescer. E agora eles ainda precisa lidar com movimentos da União Europeia, onde a retaliação de tarifas de 30% – já anunciada – poderá trazer prejuízo de R$ 606,5 bilhões aos produtos norte-americanos. Além do mais, o horizonte do governo de Donald se estreita. E os três anos restantes podem ser encurtados por atitudes de seus opositores internos, que haverão de ser mais convincentes do qualquer oferecimento que possamos fazer.

Então, em relação aos EUA o melhor que podemos fazer é seguir em frente, na toada de Lula: colocando o Itamaraty e os empresários em mesas de diálogo com seus pares internacionais, esperando e pagando para ver.

O grande problema remanescente, aquele que é conosco mesmo, exigirá o desmascaramento dos golpistas dispersos entre religiões de mercado, forças armadas e financiadores amoitados da intentona bolsonarista, bem como daqueles traidores da pátria solidamente estabelecidos nos poderes legislativo, judiciário e (ainda) em áreas chave do executivo.

Não será fácil, nem rápido, mas já começa a acontecer. Se percebe que alguns deles já intencionam mudar de lado e outros se fazem parcialmente contidos pelas ações integradas de esclarecimento nacional, desenvolvidas pelo governo e diversas plataformas de conscientização popular, os plebiscitos e outras iniciativas já comentadas na semana anterior.

Porém, e infelizmente, isso não basta. As ameaças cristalizadas nos poderes da república e suas articulações permanentes, familiares, embora já tenham sido piores, ainda serão extremamente relevantes por décadas.

Por isso, o verdadeiro enfrentamento, que as incluem e que está a acontecer, ainda exigirá período de convivência e bandeiras claras, que explicitem as mudanças reivindicadas para o projeto de Brasil que nossa perspectiva defende (e também ao que ela se opõe).  Há nisso uma disputa histórica, plurigeracional, do tipo que reclama atração e comprometimento da juventude e que, para ter sucesso, exigirá paixão. No presente o caminho passa pela potencialização de esforços orientados para a Reforma Agrária Popular, para a Vida Além do Trabalho, para o Plebiscito Popular e  pelo 99Porcento, entre outros elementos formadores de consciência e orientadores de rumo.

E este é ponto. Ou a defesa do Brasil e a luta pela emancipação dos brasileiros e brasileiras ascendem, agora, com a liderança de Lula e das forças populares, na construção de compromissos voltados à superação dos desafios que se anunciam para 2026, ou a direita pode retornar, com força, já em 2027. 

Em tempo: Recomendação ao brasileiros de verdade: assistir e divulgar!

Como nos versos do Milton Nascimento, as notícias da semana sugerem que chegamos àquela hora onde já não nos resta nada a temer, senão o correr da luta, nada a fazer senão esquecer o medo.

A vida nos fez assim.

Lembrete: em 2026 precisamos eleger senadores que mereçam nosso respeito.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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