Por Mabel Dias*
A Operação Sem Desconto, conduzida pela Controladoria-Geral da União (CGU) em conjunto com a Polícia Federal, investiga descontos indevidos nos salários de aposentados e pensionistas vinculados ao Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Desde sua deflagração, essa operação tem sido objeto de desinformação não apenas nas plataformas digitais, mas também na mídia tradicional.
Em parte, tal fenômeno pode ser atribuído ao fato de o Partido dos Trabalhadores (PT) ocupar atualmente o Poder Executivo federal. A postura da grande mídia brasileira em relação a governos e figuras políticas associadas à esquerda tem sido historicamente marcada por seletividade e parcialidade.
Casos emblemáticos, como a cobertura da Operação Lava Jato, o processo de impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e a manipulação do debate presidencial de 1989 entre Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Collor de Mello – este último favorecido por edição tendenciosa veiculada pela Rede Globo – ilustram esse padrão de comportamento midiático, como analisa o jornalista Leandro Demori em seu artigo Lula x Collor: as polêmicas da Globo.
Na Paraíba, grupos alinhados ao bolsonarismo reagiram de forma imediata à deflagração da operação. Em um programa policialesco veiculado por emissora de televisão local, o apresentador divulgou informações falsas sobre os governos Lula e Dilma, assim como sobre a própria Operação Sem Desconto. Tais conteúdos foram posteriormente disseminados por meio das redes sociais do apresentador e da emissora. Importante destacar que essa emissora já foi alvo de Termos de Ajustamento de Conduta (TACs) firmados com o Ministério Público Federal (MPF) na Paraíba, sem que isso tenha alterado significativamente sua linha editorial, marcada por práticas antiéticas e incompatíveis com o jornalismo profissional.
O referido apresentador, ao comentar os desdobramentos da operação, ignorou princípios básicos do Estado Democrático de Direito, como o devido processo legal, o contraditório e o direito à ampla defesa. Essa conduta não é isolada: parte expressiva da mídia tradicional brasileira tende a promover julgamentos sumários, especialmente quando os envolvidos pertencem ao campo político da esquerda.
Ainda que haja indícios de irregularidades e desvios de recursos no âmbito da operação, é papel fundamental da imprensa informar com precisão, evitando generalizações, distorções e sensacionalismo. No entanto, a simples menção à palavra “sindicato” parece ser suficiente para legitimar, no discurso midiático hegemônico, ataques que desqualificam a luta histórica dos trabalhadores e trabalhadoras por seus direitos.
Na prática, imperam interesses econômicos e políticos que orientam a linha editorial dessas empresas, promovendo a desinformação e a propagação de discursos de ódio contra lideranças políticas e movimentos sociais.
É importante frisar que todas as inverdades foram veiculadas por meio de uma emissora de televisão que opera sob concessão pública. Em teoria, tais concessões pressupõem o compromisso com princípios éticos e com a responsabilidade social da comunicação. Contudo, na prática, imperam interesses econômicos e políticos que orientam a linha editorial dessas empresas, promovendo a desinformação e a propagação de discursos de ódio contra lideranças políticas e movimentos sociais.
O silêncio do Partido dos Trabalhadores na Paraíba e da Central Única dos Trabalhadores (CUT) diante desses ataques é, no mínimo, preocupante. Apesar de terem sido diretamente citadas e alvo de acusações infundadas em rede estadual e em horário nobre, as referidas entidades não solicitaram direito de resposta – instrumento legal garantido a pessoas físicas e jurídicas ofendidas por conteúdos inverídicos veiculados por meios de comunicação.
Cabe lembrar que o direito de resposta é previsto em lei, especialmente no que se refere a emissoras de rádio e televisão, cuja concessão depende do cumprimento de determinadas obrigações legais. A falta de posicionamento das entidades atingidas, nesse caso, reforça a impunidade dos veículos que desinformam e evidencia o descompasso entre os marcos regulatórios da comunicação e sua efetiva aplicação no Brasil, onde as concessões públicas muitas vezes são tratadas como moeda de troca no jogo político.
*Mabel Dias é jornalista, mestra em Comunicação pela UFPB, doutoranda em Comunicação pela UFPE, associada ao Coletivo Intervozes, observadora credenciada do Observatório Paraibano de Jornalismo, conselheira da Agência de Notícias e Checagem Coar e autora do livro A Desinformação e a Violação aos Direitos Humanos das Mulheres: um estudo de caso do programa Alerta Nacional, pela editora Arribaçã.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato.
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