Nesta semana, no hemisfério sul, cristãos das mais diferentes Igrejas se unem na Semana de Orações pela Unidade dos Cristãos. Esta iniciativa surgiu, há mais de cem anos, entre católicos e evangélicos, visando unir as Igrejas, em função da paz e da justiça no mundo.
Nos anos mais recentes, em todos os continentes, a concentração da riqueza aumentou enormemente. As desigualdades sociais triplicaram. Durante a pandemia, enquanto mais de um bilhão de seres humanos afunda na insegurança alimentar e na pobreza, o lucro dos mais ricos aumenta escandalosamente. Para manter essa realidade, governos e empresas aumentam gastos militares. As indústrias de armas têm lucro apenas menor do que o comércio do sexo. Em 2020, apesar da pandemia e da contração da economia mundial, o gasto dos países com armamentos alcançou US$ 1,8 trilhão, ou seja, 3,9% a mais que em 2019, informou o Instituto Internacional de Estudos Estratégicos (IISS), especializado no assunto.
Na América do Sul, o Brasil responde por mais da metade das despesas militares de todos os países juntos. Para 2021, o governo brasileiro quer gastar 10, 7 bilhões de reais em armas e despesas militares. E nosso país não mantém nenhuma guerra declarada, a não ser os massacres que, dia a dia, policiais e militares efetuam contra a população mais pobre.
Os países que mais desenvolvem a cultura armamentista e agressiva em relação aos outros são aqueles nos quais a cultura dominante é ligada a alguma religião. Durante a história, foi o Cristianismo a religião que mais pregou e defendeu guerras. Governantes que mantêm estruturas de exclusão, de racismo e de desumanidade se proclamam cristãos. Milhões de brasileiros/as sofrem de desemprego e insegurança alimentar. Um dos setores que mais sustentam o sistema social responsável por isso é a bancada da Bíblia, formada por pastores que se dizem cristãos. Não poucos padres, bispos e grupos católicos apoiam o governo em sua opção de descuido da saúde e abandono do povo. No Rio de Janeiro o governador responsável pelo recente massacre do Jacarezinho se considera católico fervoroso e carismático.
Diante disso, partidos e grupos políticos a favor da humanidade têm de se unir e fazer uma frente ampla para vencer o ódio e a desumanidade. Também os grupos cristãos e todas as pessoas que buscam ao Deus Amor precisam se organizar em um só ecumenismo contra a barbárie.
A verdadeira unidade terá de ser construída a partir de baixo e das periferias do mundo e das Igrejas. Precisamos construí-la no na nossa vida cotidiana e no nosso trabalho. No entanto sabemos que ela é dom divino e precisamos pedi-la e nos dispor para recebê-la do Pai. Na véspera de sua paixão, Jesus orou ao Pai pela unidade de todos/as os que um dia viessem a crer nele: “para que sejam Um, assim como Eu e Tu somos um. Que eles (elas) sejam unidos, para que o mundo possa crer que Tu me enviaste” (João 17, 19- 21).