A 14º FestiPoa Literária está chegando! Sim, nessa terça-feira (13), às 18h em ponto, estaremos iniciando os trabalhos e abrindo caminhos. Esse momento inicial, será na reitoria da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs).
Foi num café, no bairro Rio Branco, que Fernando Ramos, criador da FestiPoa, me contou no que estava pensando. Ele queria que junto à poeta pernambucana Luna Vitrolira, as duas fôssemos as curadoras do grande evento.
Minha nossa alegria.
Fizemos uma primeira reunião, obviamente online, na que Luna e eu começamos a pensar em nomes de muitas pessoas. Depois de uns dias apresentamos uma programação para Fernando, estão aqui, dissemos rindo, umas cinco ou sete FestiPoas. A gente se diverte criando, se diverte sonhando.
Nossa grande Festa literária de Porto Alegre traz no histórico uma caminhada às margens dos cânones literários escolhidos por outros. Esses outros que sempre nos deixam do lado de fora dos adjetivados grupos minorizados. Por isso, quando as pessoas perguntam como foi que pensamos os eixos principais, foi muito fácil, demos volta o tabuleiro e fomos nós a entrar pela porta principal.
A proposta não é dar voz, mas sim ouvir a grupos historicamente silenciados e também falar em primeira pessoa porque nós mesmas fazemos parte desses grupos ignorados pela hegemonia branca, patriarcal, heterocentrada, urbana etc.
Não queremos ser continuístas dessa literatura de um olho só. Quando você abre os dois olhos enxerga a tri dimensão, então, o mundo é muito maior do que o cânone.
Foi assim que criamos os 4 eixos principais :
- Autorias negras
- Dissidências sexuais
- Mundos indígenas
- Questões referentes ao meio ambiente
Desta forma tiramos do tédio da monotonia do cânone que já há mais de 5.000 anos, no antigo testamento, dizia que não havia nada de novo embaixo do sol. E nós seguimos perguntando, realmente vocês consideram que não há n a d a de novo? Na hora de abrir o foco, de problematizar e ampliar as possibilidades, em lugar de acreditar em uma única verdade universal, aparece o pluriversal. Deste modo é possível ver onde antes não havia luz.
Se em lugar de seguir ouvindo unicamente ao homem-branco- hétero-Cis- urbano, incorporamos as mulheridades, as negritudes, as dissidências sexuais, os mundos indígenas, em lugar de ter universos teremos pluriversos. Isso é muito poético e nossos mundos ficam muito mais abertos, e mais ricos e as nossas percepções mudam.
Vale ressaltar
Pela primeira vez em uma Festa literária haverá mesas como Autorias sapatão, com as poetas Angélica Freitas e Marilia Floor Kosby, mediada pela Dani Langer, assim como no sábado, também dentro do eixo das Dissidências sexuais, teremos Cris Judar, Tom Grito e eu, mariam pessah, conversando sobre autorias não binárias. Sobre Mundos indígenas teremos pela primeira vez na FestiPoa, toda uma mesa sobre um livro só : Eisejuaz. É uma obra rara escrita pela escritora argentina Sara Gallardo em 1971. “Comparado a obras de Guimarães Rosa, muito por conta das experimentações de linguagem e da ambientação e referência temática regionalista, Eisejuaz tornou-se um clássico tardio da literatura argentina”. É uma felicidade enorme ter conosco a tradutora do livro, Mariana Sanchez, quem fez um trabalho incrível de pesquisa de linguagem. Nesse mesmo eixo teremos também as belíssimas presenças das escritoras Carola Saavedra e Eliane Potiguara, Quando as árvores cantam e contam, mediadas pela poeta Ana Dos Santos.
Embora o nome da nossa grande festa seja FestiPoa literária, nós acreditamos que quanto mais diversos e plurais sejam os mundos, tudo fica muito mais rico. Uma arte se alimentando de outra e de outra, por isso, além de nomes da literatura, teremos presenças da música na programação, com nomes que dispensam de apresentações, como Criolo, Amaro Freitas, Valéria Barcellos. Estes nomes maravilhosos, são alguns dos que integram o eixo das autorias negras. Teremos também a realizadora do incrível podcast Peixe voador com Patricia Palumbo, que gravará ao vivo no sábado à noite.
Pensamos o 4º eixo que é o Meio ambiente, não com mesas específicas, mas a ideia é que seja transversal a todas elas. Não teria como ser diferente. Nós ainda estamos vivenciando o trauma e o luto das enchentes. Precisamos gerar consciência de que a emergência climática é agora, é ontem, é amanhã. Está instalada em um presente continuo.
Será que a partir das águas intermináveis que vivemos o ano passado, a literatura vai mudar, vai abrir outras portas e janelas? Novas compreensões e visões?
Para ver a programação completa da FestiPoa literária, siga a página no Instagram.
Veja também o que publicou o Matinal. E Sul 21.
Esperamos vocês com muita alegria!
* Este é um texto de opinião e não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.