Fila de banco, fila para pagar conta em qualquer lugar, fila para atendimento no INSS… Haja fila!
Quem já está velho, teoricamente, leva uma vantagem nisso: fica numa fila menor, para atendimento preferencial. Ou recebe uma senha especial.
Não é mais preciso ficar de pé, aguardando um tempão, se cansando.
Mas tem um problema. A ideia de que a fila dos clientes preferenciais anda mais rápido é uma ilusão. Velhos demoram no guichê.
Além de mais lerdos, alguns resolvem contar toda a sua vida ao caixa do banco, que educadamente ouve. E assim, enquanto no guichê preferencial se atende uma pessoa, nos demais atende-se cinco ou mais. Quem entra na fila dos velhos acaba demorando muito mais pra ser atendido.
Sem contar uma coisa que acho altamente safada. Tem velho – ou idoso, ou da terceira idade, cada um chama como quiser – que resolve se aproveitar para fazer serviços de office-boy, quer dizer, office-old, ou office-velho.
Ele chega no guichê de atendimento preferencial e puxa da pasta um pacote de contas. Demora meia hora ali, atrasando todo mundo.
É um tipo de velho oportunista. Isso não devia ser permitido. Fazer serviço de office-boy não devia valer para atendimento preferencial.
Há muito tempo, velhos já faziam serviço de office-boy no serviço público, mas eram chamados de contínuos. E não tinham tratamento preferencial.
Quando fui fazer uns trabalhos na Secretaria da Habitação da Prefeitura de São Paulo, durante a gestão de Luíza Erundina, existia lá um contínuo desses, o Ataliba.
Ele também tinha uma mutreta, mas não isso de aproveitar a idade para furar fila onde não devia.
Eu me lembrei dele por causa da campanha para não guardar moedas, usadas como troco. Só que naquele tempo não havia moedas, o troco era em notas de pouco valor.
Ele dizia que era colecionador de notas de um cruzeiro. Como essas notas valiam o equivalente a uns quinze ou vinte centavos atuais, muita gente, quando recebia troco com notas de um cruzeiro, dava ao Ataliba.
Mas na verdade não havia coleção nenhuma, e as notas continuavam em circulação.
Naquela época, em que cachaça custava uma mixaria, quando juntava cinco notas daquelas, o Ataliba ia até um boteco ali por perto, tomar uma cachaça, que custava cinco cruzeiros a dose.
Trabalhava alegrinho-alegrinho…
E os botecos das redondezas não reclamavam de falta de troco.