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Mouzar Benedito

Kaxassa, Sarjeta e Cachorrão

Nessa primeira vez, não esperava que minha palestra tivesse público, mas tinha, lotou a sala

Uma vez uma amiga ia se mudar para Ribeirão Preto e não conhecia ninguém lá, queria indicações. Quando se muda de cidade, lugares bons para se fazer amizade são a escola e o trabalho. Aposentado não tem nada disso e só tem a vizinhança para se relacionar. E vizinhos numa cidade grande, não são muito sociáveis. 

Respondi que conhecia muita gente boa lá, que ela poderia procurar e certamente iria se enturmar. Entre esses amigos, com certeza seria bem recebida e logo estaria ambientada ali. Pensei num monte deles, mas resolvi brincar começando a citar os com apelidos mais divertidos. 

Falei: “Vou te dar os telefones deles… O Kaxassa, o Sarjeta, o Cachorrão…”. Ela fez cara de espanto e dispensou minhas apresentações. Perdeu uma boa chance de fazer bons amigos lá. 

O Kaxassa, por exemplo, é um agitador cultural muito bom e pra lá de amigável. Ele dirige o Cineclube Cauim, um cinema enorme do centro da cidade que, em vez de fechar as portas, como os outros, foi transformado num lugar em que milhares e milhares de pessoas da região, crianças e adultos, vão ver filmes de graça. 

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Entre os amigos que ia citar e ela não deu tempo, tem o Sérgio Lago, que foi secretário da Cultura do Município e coordenou durante uns anos a Feira do Livro de Ribeirão Preto, uma feira enorme. Um dia recebi um telefonema do Sérgio perguntando se eu topava fazer um lançamento de livro e uma palestra na feira. 

Viagem de graça, hospedagem num hotel quatro estrelas, almoço e janta em alguns restaurantes a escolher, e um cachê… Vixe! Coisa rara! Claro que topei. E parece que gostaram, porque continuaram me chamando alguns anos mais. 

Nessa primeira vez não esperava que minha palestra tivesse público, mas tinha, lotou a sala. Isso num sábado, às 10 horas da manhã. Fiquei admirado.

E quando terminou a palestra fui avisado pelo Kaxassa que eu seria levado a uma casa que era sede de um grupo de amigos boêmios e culturalmente atuantes. 

Ali, haveria um almoço em minha homenagem. Uma feijoada. Feijoada em minha homenagem?! Nunca mereci isso, mas teve. 

E quem sentou ao meu lado para conversar bebericando até sair a feijoada? O Sócrates, grande ídolo do futebol. Ele era amigão do Kaxassa. Eu era fã do Sócrates e aumentou minha admiração pelo Kaxassa. E a minha amiga perdeu a chance de conhecer essa turma!

 

*Mouzar Benedito é escritor, geógrafo e contador de causos. Leia outros textos

**Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.

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