*por Gleyson Melo
– Viva a luta!
– Viva!
– Nossa união!
– Viva!
– Quem são vocês?
– O povo unido outra vez!
No dia 29 de maio, a praça dos Três Poderes, em João Pessoa (PB), foi tomada por mais de 300 famílias – mulheres, homens, jovens, crianças, idosos, idosas – que ecoaram esse canto, vindos da periferia, da região metropolitana e de outras cidades da Paraíba, a fim de celebrar 25 anos de existência na construção de um projeto popular para as cidades brasileiras. Um projeto que garanta ao povo brasileiro que vive nos grandes centros urbanos a possibilidade de se organizar, avançando em direitos básicos, até chegar ao efetivo direito à cidade. Dito de outro jeito, o levante das periferias.
“Transformar o cotidiano em extraordinário, eis a revolução: MTD 25 anos”. Essa história vem de muito longe. Uma jornada que começa no Rio Grande do Sul, no dia 22 de maio de 2000, um movimento de trabalhadores desempregados, buscando enfrentar as mazelas do neoliberalismo dos governos de FHC. Movimento popular de massas, nacional e urbano. Encontra nas periferias da Paraíba terreno fértil para seguir avançando. Foi a teologia da libertação conduzida pelo bispo José Maria Pires, o Dom Zumbi, que espalha as sementes das comunidades eclesiais de base nas favelas, construindo e reconstruindo, com muita luta e resistência, as cidades na Paraíba.
A jornada reuniu a memória coletiva das ocupações urbanas, dos mutirões feitos por muitas mãos nas comunidades, de lembranças dos movimentos populares lutando contra o alto custo de vida, por água, energia, transporte, educação, saúde. Quando o caminho dos caminhantes de ontem encontrou a luz dos filhos e netos de hoje, do cotidiano duro de exclusão e ausência do poder público para o extraordinário poder da organização, e da mobilização de base.
Em meio às idas e vindas dos altos preços dos alimentos, da encarniçada luta de classes de hoje, quando a extrema direita mantém sua determinação de voltar ao governo, está o cotidiano de centenas de famílias que deixaram a lida diária dos almoços, das creches, dos cuidados, da reprodução, para falar mais alto, colocando-nos mais uma vez na história.
Transformando a luta cotidiana, pela comida, moradia, trabalho em luta coletiva extraordinária. Ali estávamos, na rua, na Assembleia Legislativa, no Tribunal de Justiça, no Ministério do Trabalho e Emprego: Paulinha, Dona Edileusa Zefinha, Roberta, Cristiane, Guia, Marias e tantas outras, afirmando que o levante das periferias já começou.
Ao governo da Paraíba e ao Ministério do Trabalho, entregamos nossa pauta, com reivindicações sobre pontos populares de trabalho, qualificação popular e investimentos públicos na economia popular, bem como medidas de segurança alimentar e assistência e assessoria técnica para as nossas ocupações. E que todas elas fiquem livres, de uma vez por todas, das ameaças de despejo.
É fogo de monturo, fogo baixo, silencioso, à espera dos ventos de outras jornadas que levantarão a chama necessária para esquentar os corações e mentes aparentemente adormecidas, pondo o que margem da sociedade, definitivamente, no centro. Quem viver verá.
Um viva aos 25 anos do MTD e à Jornada Nacional de Lutas por Direitos!
*Gleyson Melo é educador popular e militante do MTD-PB.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.