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Parceria entre a Fundação João Pinheiro (FJP) e o Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), o Observatório das Desigualdades, cri...

Renda em alta, desigualdade em queda: o que revelam os dados da PNAD

A renda média per capita em Minas Gerais se mantém abaixo da média nacional

Por Bruno Lazzarotti e Clarice Miranda

No dia 8 de maio de 2025, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o informativo “Rendimento de Todas as Fontes”, que apresenta uma análise dos resultados da PNAD Contínua referentes ao ano de 2024 sobre a renda da população brasileira. 

De maneira curiosa, esses dados, que apontam uma clara melhora na qualidade de vida e uma redução na concentração de renda, receberam consideravelmente menos destaque na imprensa e na agenda pública em comparação às frequentes cobranças por austeridade, cortes em programas sociais e congelamento do salário mínimo.

Minas Gerais: renda em alta, ainda abaixo da média nacional

Ao analisarmos o cenário de Minas Gerais, observamos que a tendência de crescimento verificada em nível nacional também se manifesta no estado. 

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De acordo com o gráfico 1 produzido pelo Observatório das Desigualdades, entre 2012 e 2022 a renda domiciliar per capita média em Minas apresentou relativa estabilidade, sem avanços expressivos. No entanto, a partir de 2022, nota-se um crescimento significativo, impulsionado principalmente pela elevação dos rendimentos do trabalho e pela ampliação dos programas sociais promovidos pelo governo.

Já de 2023 para 2024, diferentemente do comportamento da renda per capita do Brasil, a de Minas Gerais ficou praticamente estagnada, com uma ligeira oscilação para baixo.

Apesar dessa recuperação recente, é importante destacar que a renda média per capita em Minas Gerais ainda se mantém abaixo da média nacional, que já ultrapassa os R$ 2.000,00. Isso evidencia que, embora haja avanços, os desafios relacionados à desigualdade regional e ao desenvolvimento econômico no estado persistem.

Gráfico 1: Renda Domiciliar Per Capita Média em MG

Fonte: Elaboração Própria com Base na PNAD Contínua 2024

Redução da desigualdade em Minas: impacto do trabalho e dos programas sociais

Considerando a histórica desigualdade que marca o país, é muito importante destacar que o aumento do rendimento mensal vem acompanhado de um avanço relevante na redução das desigualdades de renda, tanto no conjunto do Brasil, quanto em Minas Gerais. 

Como mostra o gráfico 2, o Índice de Gini da renda domiciliar per capita, que mede o grau de concentração de renda, apresentou queda significativa em 2024, atingindo o valor de 0,449, o menor da série histórica, o que indica uma distribuição menos desigual da renda no estado.

Gráfico 02: Gini da Renda Domiciliar Per Capita Média

Fonte: Elaboração Própria com Base na PNAD Contínua 2024

Esses avanços, tanto em nível estadual quanto nacional, estão relacionados, em grande medida, à retomada da dinâmica do mercado de trabalho e à expansão dos programas sociais. Tais dados ajudam a desconstruir a narrativa de que tais políticas seriam responsáveis por desequilíbrios econômicos. 

Os programas sociais têm se mostrado instrumentos eficazes de estímulo à economia, ao mesmo tempo em que elevam a renda média da população e contribuem para a redução da concentração de renda, com resultados observados em diversos indicadores.

Desigualdade interseccional: gênero, raça e renda em Minas Gerais

Diante disso, é importante destacar que a pobreza e a desigualdade de renda não afetam todos os grupos sociais de forma homogênea. Populações historicamente vulnerabilizadas, como mulheres e homens negros, continuam sendo desproporcionalmente impactadas no que diz respeito à renda e à estabilidade econômica.

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A desigualdade interseccional, ou seja, os efeitos combinados de classe, gênero e raça sobre as oportunidades de acesso aos recursos, é amplamente documentada no Brasil por diferentes estudos e estatísticas. No mercado de trabalho, esse entrelaçamento de desigualdades se expressam uma vez que, mulheres, pessoas negras e, com ainda mais intensidade, mulheres negras, enfrentam barreiras sistemáticas tanto na inserção quanto na progressão dentro do mercado formal.

Comprovando tal teoria o gráfico 3 mostra que em 2024, em Minas Gerais, a renda domiciliar per capita média das mulheres brancas representou 91,73% da recebida por homens brancos. No caso dos homens negros, o valor equivaleu a 67,44%, enquanto a renda das mulheres negras foi ainda menor, alcançando apenas 60,71% da renda média dos homens brancos.

Nesse sentido, é fundamental que políticas redistributivas também levem em considerações as vivências dos diferentes grupos que estão em situação de pobreza para assim evitar a reprodução e a ampliação das desigualdades.

Gráfico 3: % da Renda Média dos Homens Brancos

Fonte: Elaboração Própria com Base na PNAD Contínua 2024

Bruno Lazzarotti é professor e pesquisador da Fundação João Pinheiro, coordenador do Observatório das Desigualdades e doutor em Sociologia e Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

Clarice Miranda é discente do curso de Administração Pública da Fundação João Pinheiro, integrante do Observatório das Desigualdades e servidora da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais.

Leia outros artigos do Observatório das Desigualdades em sua coluna no  Brasil de Fato MG

Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial do jornal

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