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Do Patinho Feio à computação Quântica: O Brasil poderia ser a China?

'A soberania digital em si se torna um conceito inócuo se não temos soberania tecnológica'

27 de abril de 2025. O jornal fantástico lançou uma matéria completa e didática sobre o que são computadores quânticos, demonstrando que essa tecnologia que irá em breve modificar a estrutura da compreensão humana sobre tudo e também nosso processo de trabalho, já começa a se tornar uma realidade na mente das pessoas.

22 de novembro de 1972. A Escola Politécnica da Universidade de São Paulo apresentou o Patinho Feio ao mundo. O primeiro computador desenvolvido 100% em território nacional e que foi batizado como resposta ao Cisne Negro, um computador que estava sendo desenvolvido na Unicamp, mas que jamais foi lançado.

Mas qual é a relação entre essas duas datas? Em 1972, o Brasil ainda estava distante das potências mundiais em tecnologias da informação, como Estados Unidos e União Soviética, por exemplo, mas despontou como um dos primeiros países do chamado terceiro mundo a produzir um computador em solo nacional.

O sucessor do Patinho Feio, chamado de G10, seria utilizado nos próximos anos para equipar a marinha brasileira e serviria como base para o MC 500, o primeiro modelo de computador nacional.

Entre os anos 1970 e 1990 o Brasil seguiu em plena expansão de suas capacidades industriais e computacionais. Em um período em que a importação de eletrônicos não era facilitada, o Brasil começou a produzir seus próprios equipamentos eletroeletrônicos e de Tecnologia da Informação. A produção de videogames, por exemplo, se tornou uma marca histórica, com as versões brasileiras substituindo de maneira bastante promissoras os videogames produzidos por EUA e Japão, por exemplo.

Para quem se interessar, essa história dos videogames e computadores brasileiros é belamente contada no podcast Primeiro Contato (https://www.b9.com.br/shows/primeirocontato ) que faz uma viagem bastante interessante sobre a produção brasileira e todas as decisões políticas que, ao passar dos anos 1990 e do governo de Fernando Henrique Cardoso, mataram a produção industrial de eletroeletrônicos e computadores brasileiros.

Também é válido um passeio pela segunda temporada de Primeiro Contato em que ele aborda a história da internet brasileira, também uma das pioneiras mundiais e que se iniciou como algo de uso público. Por exemplo, com o lançamento dos Olhões durante os anos 80, dispositivos implantados no meio das ruas de São Paulo e algumas outras cidades em que as pessoas poderiam ter acesso à internet brasileira da época, semelhante ao que os orelhões fizeram pela telefonia.

Ao compreender a história da industrialização e da computação brasileira é possível ver um potencial perdido durante os anos neoliberais promovidos por governos como o de Fernando Henrique Cardoso. As decisões que levaram o Brasil a não ser uma potência da tecnologia foram decisões puramente políticas e foram tomadas há algumas décadas.

É possível encontrar no YouTube e em outras plataformas de vídeos, conteúdo antigo produzido sobre tecnologia no próprio Fantástico. Tais vídeos das décadas de 80 e 90 sempre contavam com especialistas brasileiros falando sobre os assuntos de tecnologia e demonstrando o que era feito em território nacional.

Nesse último domingo, algo diferente ocorreu. Em todo o conteúdo apresentado, os únicos especialistas escutados foram estrangeiros e nenhum exemplo de uso de computadores quânticos em território nacional foi mostrado. E eles até existem, mas ainda tão muito iniciais.

Foi impossível não ver a matéria do Fantástico e pensar na rica história brasileira na computação e não me perguntar, de um jeito que até evoca um pouco o sentimento de “vira-latismo” se o Brasil não poderia ser a China, caso a história econômica do nosso país não tivesse tomado os rumos que tomou na década de 90.

É um questionamento sem fundamento, mas podemos nos perguntar sobre o que precisamos para nos tornarmos uma potência em computação no futuro. Quais são os passos necessários? Quais são as políticas públicas essenciais para que isso ocorra?

Nos tornar um país com controle sobre as últimas tecnologias da computação já não é uma necessidade apenas econômica ou de status, pois se os últimos anos mostraram alguma coisa a todos, foi a necessidade de soberania digital, principalmente pelo controle sobre os nossos dados e o que é feito com eles.

Porém, a soberania digital em si se torna um conceito inócuo se não temos soberania tecnológica, se não temos produção de componentes computacionais em solo brasileiro para que esses dados possam ser armazenados e processados em prol da nossa população e não apenas em prol de interesses estrangeiros.

Nós já estamos décadas atrasados em relação aos pioneiros da tecnologia mundial, porém se não começarmos já a pensar a reindustrialização brasileira em termos de desenvolvimento de ciência e tecnologia computacional a diferença apenas aumentará ao longo dos próximos anos.

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