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Rafael da Guia

Enquanto Brasil fecha acordo com a China, a política nacional de DataCenters é apresentada sem debate público

Trabalha há cerca de 20 anos com tecnologia, formado em Ciência de Dados pela Universidade Johns Hopkins e atualmente cursando Ciência de Dados e I...
Um país soberano que não controla o processo de coleta, armazenamento, tratamento e análise de seus dados não tem soberania real

O presidente Lula está na China e vem trazendo grandes notícias em relação a acordos comerciais com o país asiático. Alguns deles me chamaram bastante a atenção, em especial a construção de um DataCenter da ByteDance, a empresa dona do TikTok, e o investimento em energia limpa e renovável, essencial para uma política de soberania tecnológica que esteja em compasso com o meio ambiente.

Porém, na mesma semana, o ministro Fernando Haddad apresentou para os EUA a política de DataCenters brasileira de maneira detalhada. Isso poderia ser uma grande notícia, porém, entretanto, um detalhe chama a atenção. Essa política ainda não foi apresentada para a sociedade civil, gerando críticas do IDEC (Instituto de Defesa do Consumidor) sobre qual é essa política que pouco ou nada foi debatida com a sociedade brasileira.

Um data center é uma instalação física projetada para abrigar e gerenciar sistemas de computadores, equipamentos de rede e servidores que armazenam, processam e distribuem grandes quantidades de dados. Funciona como o “coração digital” por trás de serviços online, como sites, aplicativos, redes sociais e streaming, garantindo que informações estejam sempre disponíveis, seguras e acessíveis. Ele processa um volume de dados e informações gigantesco e exige um poder de processamento também gigantesco.

Uma política de DataCenters é essencial para a construção e manutenção de uma soberania nacional realista. Um país soberano que não controla o processo de coleta, armazenamento, tratamento e análise de seus dados não tem soberania real.

A política de DataCenters exige diversos debates

Quais serão as fontes de energia utilizadas para a alimentação desses computadores em um momento de crise climática? E como será feita a refrigeração deles? Como essa política irá se relacionar com a Agência Nacional de Proteção de Dados (ANPD) para garantir a segurança dos dados que trafegam por ela?
Como essa política se articulará com o Ministério da Educação e as redes de ensino para garantir a formação especializada de pessoas para trabalharem nesses DataCenters? Como será a negociação de transferência tecnológica para garantir que o Brasil não fique apenas dependente da importação de componentes de computação para a manutenção e a construção de novos DataCenters? Haverá a construção de DataCenters públicos para serem utilizados em conjunto por instituições estatais de logística, comunicação, educação, segurança, etc?

Além disso, há uma relação direta, pensando na atualidade, entre uma política de DataCenters e a política nacional de Inteligências Artificiais. Como tem sido a comunicação para garantir que elas caminhem juntas?

São muitas perguntas a serem respondidas em conjunto pela sociedade brasileira e, com isso, precisamos de um debate amplo antes de sequer pensarmos em falar sobre essa política em territórios estrangeiros.

E isso ainda piora ao pensarmos que os EUA, onde Haddad apresentou a minuta da política, atualmente colocaram o Brasil em uma lista de embargo em relação a processadores neurais essenciais para o desenvolvimento de Inteligências Artificiais. Simplesmente não podemos comprar os processadores mais poderosos que existem por uma decisão unilateral dos EUA, que têm controlado o estoque desses componentes.

Se empresas estadunidenses desejam construir DataCenters no Brasil, que se comprometam com um acordo real de investimento em nosso país e, principalmente, com o compartilhamento de conhecimento e tecnologia, já que usaram nossos recursos naturais para alimentar esses computadores.

E o mesmo pode ser dito de qualquer outro país com o qual nos envolvamos nessa tão necessária construção de infraestrutura computacional em nosso país.

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