Em estudo divulgado nesta semana e feito pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), um dado alarmante foi colocado à mesa de todas as pessoas que de alguma forma atuam com tecnologia, sobretudo com inteligências artificiais.
Segundo o estudo, 95% dos projetos envolvendo inteligência artificial falharam em trazer redução de custos, o que dentro do capitalismo é o principal objetivo na implantação de projetos com IAs.
Esse é resultado de um pensamento sobre inteligências artificiais bastante presente nas estruturas ocidentais e bastante debatido por teóricos como Evgene Morozov, por exemplo: O Solucionismo tecnologico.
Algo que eu e tantos outros trabalhadores dos setores de tecnologia da informação viemos a entender durante o tempo de trabalho é que em todo projeto bem-sucedido na área, algumas regras básicas geralmente devem ser atendidas. A primeira é a identificação de qual o problema real em que você deseja desenvolver uma tecnologia para ser aplicada para auxiliar nesse problema e solucioná-lo. A segunda é a definição de um objetivo bem estruturado.
Claramente, como toda regra, também há exceção a esses passos. Ideias que transformam a realidade sem ter uma definição de objetivo ou mesmo uma análise de problema, porém isso deve ser tratado como exceção. Esses fatos são sempre colocados em uma lupa pela comunicação capitalista e vendidos como regras, porém as 99 falhas antes de um acerto são jogadas para baixo do tapete, gerando uma sensação de que todo o tempo estamos inovando.
Parece que a famosa frase de Steve Jobs, “As pessoas não sabem o que querem, até você mostrar a elas”, se tornou um mantra no capitalismo atual. Todo o mercado de tecnologia vem seguindo essa frase como um mantra, mas ela é apenas um demonstrativo da exceção. Ela ajudou a moldar o solucionismo tecnológico.
A regra em um projeto bem-sucedido não é essa frase. É resolver uma necessidade que a pessoa sabe que tem e que dá uma tremenda dor de cabeça a ela. E então, como você reduz essa dor de cabeça?
Gosto muito de uma história, mesmo que ela seja fantasiosa, sobre a disputa espacial entre EUA e União Soviética. Nessa história, os astronautas e cosmonautas tinham um problemão. Precisavam escrever relatório em um ambiente de gravidade zero, no espaço. Porém, a tinta da caneta não descia e não era possível usar as canetas esferográficas no espaço. Os Estados Unidos então colocaram seus principais cientistas e milhões de dólares em um projeto para criar uma caneta que funcionasse em gravidade zero. No fim, eles falharam miseravelmente. A União Soviética então teve uma brilhante ideia e enviou um lápis de grafite para o espaço.
Essa história é um causo. Ela nunca aconteceu, porém, exemplifica bem essas falhas no pensamento sobre tecnologia na resolução de problemas.
O mercado ocidental, estudado pelo MIT, encontra-se perdido tentando resolver problemas que eles nem sabem quais são e sem objetivos claros. É o tal solucionismo tecnológico ou a inovação pela inovação. Obviamente, eles irão falhar.
Provavelmente, apenas 4% dessas empresas sabem o que estão fazendo, têm objetivos bem definidos e problemas a serem resolvidos, enquanto que o outro 1% deve ter tido apenas sorte e se tornou a exceção à regra.
Esse debate é importantíssimo também para os movimentos populares, partidos políticos e organizações sociais que, em geral também são circundados por essas ideias e sofrem pressão por serem mais tecnológicos.
No geral, eu concordo que as forças populares do Brasil estão atrasadas na adoção de tecnologias, porém há de se ter muito cuidado para que a percepção desse atraso não acabe as atirando para o lado oposto, com soluções mágicas que se vendem como solucionadoras de todos os problemas. Elas podem até funcionar, caso tenhamos a sorte necessária, mas há de se conhecer os riscos altíssimos, de imagem e de economia, vinculados a isso, pois uma tecnologia mal empregada sempre pode gerar prejuízos imensos ao invés dos ganhos desejados.
**Este é um artigo de opinião. A visão da autora não necessariamente expressa a linha editorial do jornal Brasil de Fato.