Atualmente estamos passando pelo que tem sido classificado por cientistas como o pior desafio de nossa geração. Tudo isso em função do vírus Sars-Covid-2, também conhecido como o Novo Coronavírus ou Covid-19, que tem se espalhado em uma velocidade nunca vista antes, provocando em algumas pessoas a síndrome respiratória aguda grave (Sars), um quadro de pneumonia severo.
Muito embora a sua taxa de letalidade seja considerada baixa, o novo vírus tem o poder de colapsar os sistemas de saúde ao redor do mundo em função da grande quantidade de pessoas infectadas ao mesmo tempo. Foi o que ocorreu com o nosso vizinho Equador, que vive dias horríveis. O país é o atual epicentro da crise na América Latina.
No Brasil, a nossa principal ferramenta de combate à pandemia é o Sistema Único de Saúde (SUS). É nesse momento que entendemos que revogar o Teto de Gastos aprovado pelo Congresso em 2019 – a partir da Emenda Constitucional 95-, é uma saída para fortalecer nosso sistema público de saúde e assim proteger toda a sociedade.
Outra medida, ignorada pelo Presidente da República, é o respeito a um corpo tecno-científico para gerir a crise e criar possíveis soluções para o combate e tratamento da doença. No caso brasileiro, temos algumas instituições extremamente competentes, como a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e as Universidades Públicas que exercem papel fundamental na produção da Ciência e Tecnologia no país. O incentivo à pesquisa tecnológica e científica é outro motivo para que enfraqueçamos a EC 95/2019, também conhecida como "PEC da Morte".
A Fiocruz é considerada a maior referência da América Latina em combate a doenças através de pesquisas, com desenvolvimento e produção em larga escala de vacinas e soros. Além disso, também é reconhecida pela especialidade em combater a doenças tropicais, típicas do Brasil e região. A Fundação faz parte do comitê de crise do Ministério da Saúde e conta com renomados profissionais que tradicionalmente sempre estiveram na vanguarda do conhecimento científico brasileiro e mundial.
A atuação de comitês científicos, encabeçados por essas instituições citadas, vem demonstrando a sua eficiência na compreensão sobre o funcionamento do vírus e estratégias para o seu enfrentamento. Um grande exemplo no nosso estado tem sido a parceria da Secretaria Estadual de Saúde Pública do RN (SESAP) com o Laboratório de Inovação Tecnológica em Saúde (LAIS), da UFRN. A articulação dessas entidades tem realizado uma força tarefa para atuar na crise sanitária, visando melhor atender as necessidades da população. Essa parceria tem como objetivo o uso das instalações do LAIS para sequenciamento do vírus, além do desenvolvimento de demais pesquisas, produção de material de divulgação sobre a doença, monitoramento dos casos e relatórios detalhados em conjunto com os hospitais locais.
Apesar de o Governo Federal ser encabeçado por um grupo político que desacredita da ciência, o país conta com outras esferas do poder executivo, como os governadores, que tem desobedecido ao discurso presidencial e optado por seguir as recomendações das autoridades sanitárias. Como é o caso do distanciamento social, medida preconizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Nesse contexto, merece menção especial a atuação do Consórcio Nordeste, que tem estabelecido de forma coordenada ações para o combate à pandemia, a fim de achatar a curva de disseminação e evitar o colapso do sistema de saúde. Outa importante medida para tratar os doentes de forma mais eficiente e barata foi a compra em conjunto de materiais e testes do exterior. O Consórcio ainda instituiu um Comitê Científico, formado por médicos, físicos, cientistas e pesquisadores, presidido pelo cientista Miguel Nicolelis, para basear suas ações de enfrentamento à Covid-19.
A Covid-19 é um grande risco à vida de milhões de pessoas. Atualmente temos as ferramentas necessárias para combater esse inimigo, em um grande esforço de cooperação global e regional, para que ele não chegue aos números que a gripe espanhola atingiu.
Países como a Alemanha e a Coréia do Sul estão seguindo à risca a cartilha da Organização Mundial de Saúde (OMS) de mitigação da crise sanitária e têm sido considerados os países modelos na luta contra o vírus. Ao adaptar as orientações às suas realidades específicas, e, sobretudo, ao respeitar e investir em um corpo técnico e científico de qualidade, tais países assumem o compromisso de proteger de fato sua população, com soluções eficazes, apoiadas na ciência.
Essa nova pandemia veio para provar que o nosso principal problema não é um vírus e, sim, o descompromisso das autoridades brasileiras, em especial, o presidente. Jair Bolsonaro, ao insuflar o povo a ir às ruas e desinformá-lo com notícias falsas, coloca toda a sociedade em risco. É preciso dar um basta ao discurso anticiência e à desinformação.
*Robson Cavalcanti Macedo é professor de Biologia.