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Rosa Amorim é deputada estadual pelo PT em Pernambuco. Crescida nas fileiras do Movimento dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais Sem Terra (MST), foi diretora da União Nacional dos Estudantes (UN...ver mais

Por democracia e soberania, o povo brasileiro é contra a anistia

Com essa pressão gigante das ruas, finalmente o Congresso viu que não vamos permitir que projetos contrários aos interesses do povo sejam aprovados na surdina

Escrevo esse artigo ainda muito esperançosa com a repercussão dos atos do último domingo (21). As ruas do Recife ficaram cheias como há muito tempo não se via e o fenômeno não ficou restrito à nossa capital pernambucana. Em mais de 30 cidades foram registrados atos contra a já derrotada PEC da Blindagem e o PL da Impunidade – ou, melhor dizendo, o PL da Anistia.

Assim como em Recife, os atos em capitais como Rio, São Paulo e Salvador foram gigantes e, com o apoio dos artistas, tornamos nossas manifestações uma grande onda de defesa da nossa soberania.

Alguns elementos presentes nas manifestações deste domingo chamam a nossa atenção enquanto esquerda e devemos ficar atentos a elas. O primeiro deles é o resgate dos nossos símbolos nacionais. Desde o processo do golpe de 2016, quando a direita começou a sair às ruas de verde e amarelo, até a ascensão do fenômeno do bolsonarismo, as nossas cores e a nossa bandeira foram cooptados pelos falsos patriotas como ferramentas a serviço da ideologia fascista.

Durante todo esse tempo, nosso verde e amarelo foi disputado pela esquerda, mas na maior parte deste período foi mais atrelado à direita. Quem não lembra que, durante as edições da Copa do Mundo de 2018 e 2022, muita gente teve receio de usar nossa camisa Canarinho e ser confundido com bolsonarista? Tempos difíceis!

Casal durante manifestação contrária à PEC da Blindagem, no Recife (PE) | Vinícius Sobreira / Brasil de Fato

Acontece que agora o viralatismo da direita ficou tão óbvio que eles mesmos começaram a hastear a bandeira estadunidense e a escrever cartazes em inglês, enquanto nós defendemos a nossa soberania e dizemos que patriotismo é defender nossa democracia, nosso sistema de justiça e não aceitar pitaco de Trump na nossa política.

O segundo ponto que me chama muito a atenção é o engajamento dos trabalhadores da cultura. Em quase todas as capitais, tivemos artistas se posicionando contra os projetos e chamando gente para as ruas. Isso amplia a mobilização, porque a convocatória dos artistas chega a pessoas que a esquerda organizada não alcança. Mas também mobiliza a população com um chamado mais amplo, que vai além do enfrentamento a projetos absurdos.

A convocatória dos artistas surge como um chamamento à defesa da nossa democracia e que foi atendido pelo povo, que foi às ruas não apenas para ouvir música ou “farrear” – como disse a extrema-direita tentando deslegitimar os atos -, mas para cumprir seu dever cidadão de se manifestar, pressionar aqueles que deveriam representar seus interesses.

Arte e cultura são políticos. Nós, que vimos o sufocamento e a censura da cultura no desgoverno Bolsonaro, sabemos o quanto a arte engajada politicamente incomoda o conservadorismo e a extrema-direita brasileira.

Multidão foi às ruas do Recife contra a PEC da Blindagem, no último dia 21 de setembro | Vinícius Sobreira / Brasil de Fato

Com a convocatória e a presença dos artistas, vimos cenas históricas como Caetano, Chico Buarque, Gilberto Gil, Paulinho da Viola e Djavan reunidos no Rio e vestindo as cores da nossa bandeira. Daniela Mercury e Wagner Moura puxando o trio elétrico no circuito Barra-Ondina, em Salvador; Djonga chegando junto no ato em Brasília para colocar suas rimas a serviço da democracia.

Esse é o poder que a cultura tem de nos fazer pensar e agir sobre os temas que nos cercam e que foi usado a favor do povo nessa rodada de manifestações.

O terceiro e último elemento é que conseguimos impor uma derrota à extrema-direita. Mesmo depois dos atos, seguimos vendo o engajamento da população brasileira sobre esses temas nas redes sociais e, enquanto escrevo esse artigo, a Comissão de Constituição e Justiça do Senado reprovou de forma unânime a PEC. A derrota com todos os votos contrários dentro da CCJ arquiva de vez o projeto, que não pode voltar a ser pautado. Ou seja: nossa mobilização teve vitórias concretas!

Com essa pressão gigante das ruas, finalmente o Congresso inimigo do povo viu que não vamos permitir que projetos que vão de encontro aos interesses da população sejam aprovados na surdina. O recado foi dado!

Agora é nos manter atentas e vigilantes para que o PL da Anistia também sofra uma grande derrota e Jair Bolsonaro e sua organização criminosa sejam responsabilizados pelos crimes contra a nossa democracia e o Estado democrático de direito.