Parabéns para nós, trabalhadoras e trabalhadores, a imensa maioria das pessoas.
Que seria do ser humano sem o trabalho? Sem a capacidade de construir seus meios de vida?
Provém do trabalho absolutamente tudo de que desfrutamos
E, no entanto, vivemos hoje num sistema que degrada o trabalho e o trabalhador.
Um sistema no qual o trabalho, que seria uma manifestação livre da vida, um gozo da vida, torna-se, como diz Marx, “uma atividade que acaba por ser odiosa, um tormento… uma atividade forçada e imposta a mim apenas por uma necessidade fortuita, externa, de sobrevivência, não por uma necessidade interna, essencial”.
Provém do trabalho – meu, teu, de todos nós – absolutamente tudo, todos os bens e serviços de que desfrutamos.
E, no entanto, o trabalho é, cada vez mais, não apenas mal pago, precarizado, como também invisibilizado.
As próprias forças de esquerda, que construíram suas lutas e sua identidade, em boa medida, em torno do trabalho, negligenciam-no, agora – e têm pago um preço caro por isso.
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As comemorações esvaziadas do 1º de maio, a data mais importante da esquerda, são a prova desse abandono.
Lula fez um belo discurso pelo dia do trabalho e lembrou, entre outras coisas, a luta, justa e importante, pelo fim da jornada laboral 6 X 1.
Pejotização
Podia ter lembrado, também, do absurdo, do verdadeiro golpe contra os trabalhadores brasileiros, que é a proposta do STF de escancarar as portas para a pejotização – a empresa, em vez de contratar a pessoa como empregada, contrata-a como “pessoa jurídica”, sem direito trabalhista ou previdenciário algum.
E a Justiça do Trabalho estaria impedida de agir sobre essa autêntica fraude, imoral e inconstitucional. Um golpe no padrão de vida das trabalhadoras e trabalhadores e um rombo ainda maior no já deficitário sistema da Previdência Social.
O STF, como outros atores neoliberais que não sucumbiram ao fascismo, critica e combate os extremismos de direita. Mas não enxerga que, ao contribuir para arruinar as condições de trabalho, acaba por alimentar tais extremismos, que brotam do desespero e da revolta que essa ruína gera na maioria das pessoas.
Desespero e revolta canalizados, em boa medida, pelos extremistas de direita, com o auxílio da máquina de desinformação e realidade paralela das redes sociais, e da incapacidade das esquerdas de apresentarem pautas e soluções para essa tragédia – por deficiência comunicativa e por negligenciarem, atualmente, a questão do trabalho.
A luta pelo fim da jornada 6 X 1, portanto, é um ótimo combate, um sopro de esperança nesse quadro sombrio.
Mas não é suficiente.
Devemos fazer mais para recuperar a visibilidade e a dignidade dessa dimensão fundamental de nossas vidas, que é o trabalho.
Rubens Goyatá Campante é doutor em sociologia pela UFMG e pesquisador do Centro de Estudos Republicanos Brasileiros (CERBRAS)
P.S.: Dedico esse artigo a meu pai, que faria 100 anos hoje, 1º de maio de 2025. Trabalhador e trabalhista, fã de Getúlio e apoiador de Brizola. Herdei seu nome, e sempre quis herdar algumas das qualidades também.
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Leia outros artigos de Rubens Goyatá Campante em sua coluna no Brasil de Fato MG
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal.