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Selvino Heck

Tô vivo. Tamo vivo. Em 2025

Vale repetir e afirmar todos os dias: Tô vivo, Tamo vivo. Na boa luta, com fé e coragem, Esperançar

Em 29 e 30 de abril de 2024, eu estava em Encontro da Política Nacional de Educação Popular em Saúde (Pneps-SUS), em Passo Fundo (RS). O encontro foi encerrado mais cedo, ante o caos no Rio Grande do Sul – chuva, tempestade, destruição –, como escrevi e relatei em ‘O caos está do lado da porta‘, entre outros artigos-relatos de então (Brasil de Fato RS, 03.05.24). O artigo-relato terminava com ‘ninguém solta a mão de ninguém’.

Estamos em final de abril e início de maio de 2025. Que semanas, as últimas! Que ano! Em que tempos estamos!?

Em plena Semana Santa, houve 10 feminicídios em Porto Alegre e no Rio Grande do Sul, sem esquecer a violência e os assassinatos de todos os tipos acontecendo todos os dias, mortes sem explicação, acidentes, etc., etc., etc.

A paz está longe de acontecer em diferentes lugares do mundo, sem sinais concretos de diálogo e gestos para acabar com as guerras e mortes sem sentido. O mundo parece estar louco neste primeiro semestre de 2025.

Ao mesmo tempo, e inesperadamente, quando alguém é eternizado sucessivamente nestes tempos loucos, no mesmo ano de 2025, é difícil saber se é louvor ou se alguma coisa mais séria está se aproximando nos 74 anos recém completados. 

  1. Houve a eternização, com foto na parede e discursos de agradecimento e louvor no dia 10 de fevereiro, na sede do PT/RS, eu ao lado de Olívio Dutra, Clóvis Ilgenfritz, Raul Pont, Davi Stival, Júlio Quadros e outros mais. Fotos e registro para sempre e para a história.
  2. Na celebração do início da colheita de arroz orgânico no Assentamento Filhos de Sepé em Viamão, RS, eu em foto e registro históricos com João Pedro Stédile, com quem comecei o movimento estudantil de esquerda na PUCRS nos anos 1970 e ajudei a fundar o CAMP e o MST nos anos 1980, e com Edegar Pretto, hoje presidente da Conab e filho do saudoso Adão Pretto, com quem fui deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul nos anos 1980, tudo registrado em ´Adeus, Mano Velho´ (´Relendo Vereda, Grupo Vereda – Prosa, José Eduardo Degrazia (Org.), Ed. Bestiário, Class, 2017, p. 169).
  3. Adeli Sell publica ´Memórias do PT Gaúcho II´ em 2025, eu um dos personagens principais do livro.
  4. José Eduardo Degrazia, poeta e escritor, comunica que está pronto para ser publicado o livro de poesias ´Em Mãos IV´, cuja primeira edição foi lançada na Livraria Coletânea nos altos do Mercado Público em 1976, com amplo sucesso e repercussão de mídia, em plena ditadura militar, sendo os seus vários autores, do Grupo Veredas, oficialmente considerados poetas subversivos, segundo os registros do Dops, Polícia Federal e SNI.
  5. Dei entrada com processo na Comissão de Anistia como perseguido político da ditadura militar, para garantir o devido registro de tudo que aconteceu nos anos 1970 e 1980 em diferentes espaços, todos os acontecimentos e fatos encaminhados para o escritório de advocacia Vecchio e Emerim. Na Assembleia da Associação dos ex-Presos e Perseguidos Políticos, AEPPRS, sou convidado a integrar o Conselho Deliberativo da Associação.
  6.  Devido a tantos fatos e tudo mais, os companheiros Loiva Dietrich e Marcelo Moura vão um dia por semana no meu apartamento juntar, separar, organizar poemas, diários, textos, muitos ainda escritos à mão, outros tantos escritos à máquina, outros digitalizados, para futura publicação, como vivem me pedindo, e até exigindo, os amigos e companheiros Luís Augusto Fischer, Frei Betto e Mauri Cruz.
  7. No final de 2025, completam-se 50 anos da expulsão da PUCRS em 1975, quando eu, estudante de Teologia e Letras, era representante dos alunos junto à direção da Faculdade de Teologia em nome do DAIT, Diretório Acadêmico do Instituto de Teologia, e representante geral dos alunos da Universidade junto à Reitoria, reitor Irmão José Otão, em nome do DCE, Diretório Central dos Estudantes da PUCRS.
  8. Em 2025, nomeado pelo Ministério da Saúde, estou membro do Comitê da Pneps-SUS, Política Nacional de Educação Popular em Saúde, em nome do CEAAL Brasil, Conselho Latino-americano e Caribenho de Educação Popular, do qual Paulo Freire foi o primeiro Presidente, e do CAMP, Centro de Assessoria Multiprofissional, do qual sou membro do Conselho Diretor, sendo ainda da Comissão Ampliada nacional do Movimento Fé e Política, membro do Conselhinho da Escola Nacional de Formação do PT, a convite de Gilberto Carvalho e deputada federal Maria do Rosário, Secretária nacional de Formação do PT. E assim este 2025 vai sendo construído, na militância ativa, sem remuneração, apenas apoio e contribuição militantes. ´O tempo urge e ruge´.

Que ano este 2025! Há poucos dias morreu o papa Francisco, um papa do Sul e latino-americano, como escrevi em ‘Quero um Papa do Sul’ (Relendo Vereda, Grupo Vereda – Prosa, José Eduardo Degrazia (org.), Ed. Bestiário e Class, 2017, p. 169), um papa pastor dos pobres e das mulheres, profeta da paz e do cuidado com a Casa Comum (Brasil de Fato RS, 25.04.2025). E ainda, nos mesmos dias, faleceu, aos quase 99 anos, a tia Irmã Julita, da Congregação da Divina Providência, penúltima tia ainda viva dos 15 filhos do avô José e avó Gertrudes Kroth Heck.

Os tempos de 74 anos, em 2025, e o tempo da poesia, sempre

O tempo passa,

mas não passa.

Os dias foram muitos,

mas não são demais os anos,

embora o número em crescimento, sem volta.

Contudo, não impedem a vida,

não impedem o registro e a memória,

não impedem a fé, a coragem e o sonho.

Há uma passagem, muitas passagens.

Os anos 1950:

a década da família e da comunidade

na Linha Santa Emília, Venâncio Aires, RS.

Os anos 1960:

a formação franciscana,

Paz e Bem sempre presente,

no Seminário franciscano em Taquari, RS.

Os anos 1970:

 a vida no cotidiano na capital, Porto Alegre,

na Vila Franciscana,

no movimento estudantil,  

no trabalho comunitário e nas Comunidades Eclesiais de Base

nas vilas populares da Lomba do Pinheiro,

Os anos 1980:

a política, em todos os sentidos e espaços,

semeada com ética e cultivada na mística,

as Diretas-Já e a Constituinte,

o Movimento Fé e Política.

Os anos 1990:

a educação popular no CAMP,

o Orçamento Participativo,

a luta sindical, comunitária e popular.

Os anos 2000:

o Fome Zero,

a participação popular nas políticas públicas,

nas palavras de Frei Betto

‘matar a fome de pão e ao mesmo tempo saciar a sede de beleza’, 

com a Recid, Rede de Educação Cidadã,

 o Mesa, do Copo, o Prato, o SAL, as-os educadoras-es populares do Talher.

Os anos 2010:

as políticas de agroecologia, segurança alimentar e nutricional,

o Marco de Referência da Educação Popular para as Políticas públicas.

Os anos 2020:

a luta pela paz e pela democracia,

o cuidado com a Casa Comum,

em meio às guerras e à crise climática,

a volta da Pneps-SUS, Política nacional de Educação Popular em Saúde,

os Fóruns de Participação Social,

a mobilização social e popular em todos os espaços.

Por tudo isso e mais um pouco, vale repetir e afirmar todos os dias, ainda que a saúde nem sempre esteja em boa forma: Tô vivo, Tamo vivo. Na boa luta, com fé e coragem, Esperançar.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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