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Selvino Heck

Chimarrão é vida!

O chimarrão está na minha família, de agricultores familiares e descendência alemã, todos os dias

Ao Pedro Schwengber, Pedrão, e à Escola do Chimarrão

Angelita da Rosa, professora e historiadora, diz: “Um fator histórico contribuiu para o hábito de tomar chimarrão. Venâncio Aires, na sua origem teve a presença dos indígenas guarani. Explicar um hábito não é fácil, não tem razões muito específicas. Mas sempre digo que Venâncio teve uma grande presença de povos indígenas. E essas culturas, entre as quais está a dos guarani, nos legaram vários hábitos, entre eles o chimarrão” (‘O que os guarani nos deixaram’, Fenachim em Revista, Folha do Mate, Terra FM, p. 25).

Esse costume, segundo Angelita, acabou sendo adaptados pelos futuros moradores do município, entre eles imigrantes europeus, especialmente germânicos. Quando chegaram os imigrantes, eles acabaram adaptando esse hábito indígena à vida deles e consumindo o chimarrão.

O chimarrão está na minha família, de agricultores familiares e descendência alemã, em Santa Emília, Venâncio Aires, todos os dias, desde que me conheço por gente. Nos anos 1950, a primeira roda de chimarrão era cedo de manhã, depois de tirar o leite das vacas, antes de ir trabalhar na roça e as crianças irem para a escola São Luiz. Era o momento de organizar o dia, a divisão das tarefas, ver as urgências na roça, etc. A segunda roda acontecia antes do almoço, naqueles tempos sempre às 11h30, costume da descendência alemã, hora em que toca o sino da igreja até hoje, 2025. A terceira roda, depois do descanso do meio dia, a ‘siesta’, antes de ir de novo para a roça. E a última roda, a quarta, era no final do dia, início da noite, antes da janta e do descanso para o dia seguinte. E se por acaso houvesse a visita de alguém durante o dia, havia uma quinta roda, juntando a família e os visitantes.

Hoje, 2025, há 3 rodas de chimarrão. De manhã cedo, manos Marino e Elma, agricultores familiares, tomam o chima antes de seguirem para a lida do dia. A segunda é antes do meio dia, e a terceira no início da noite, final do dia, muitas vezes com a presença do mano Bruno e da esposa Rejane. 

Toda vez que o Pedrão Schwengber, da Escola do Chimarrão, chegava em Brasília para participar da EXPOCTHÊ era uma festa. O convite ia para todos os gaúchos e gaúchas moradores-as  de Brasília e as-os que estavam no governo federal. Era uma festa de alegria, de reencontro, de trocar referências, de aprender a fazer e provar os diferentes tipos de chimarrão que ele e a Escola preparam e ensinam. E, principalmente, oportunidade de tomar um bom chima com erva da terrinha, na assessoria alegre e festiva do Pedrão.

O chimarrão, além de ser uma bebida gostosa, especialmente na Capital Nacional do Chimarrão, Venâncio Aires, é muito mais. herança e lembrança indígena e guarani, é uma tradição junto a família, ajuda a organizar a vida e o trabalho, é momento de diálogo e convivência, inclusive nas visitas entre vizinhos, parentes, e até em festas e reuniões no Ginásio Luizão de Santa Emília. Anima a comunidade, é sinal de paz. Ninguém briga quando está na roda de chimarrão. Mas troca ideias, pensa a vida coletivamente na família e na comunidade, junta pensamentos e ações.

VIVA O CHIMA

Um chima, dois chimas, três chimas,

quatro chimas ou mais chimas cada dia,

cada semana,

o ano inteiro,

todos os anos, o tempo inteiro.

A vida nasce e renasce na roda de chimarrão.

A vida dialoga.

A vida com o chima é comunhão,

é comunidade.

A vida é fé.

A vida é esperança.

Com chimarrão, sempre, sempre, sempre. 

Viva Venâncio Aires, Capital nacional do Chimarrão e a 17ª FENACHIM!

* Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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