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Deputado estadual constituinte do Rio Grande do Sul (1987-1990); Participante da Ciranda pelo CEAAL Brasil, CAMP e Articula PNEPS-SUS.

PED 2025 do PT

O PT deverá, nos próximos anos (e em 2025, reafirmo agora), capacitar-se para responder a estes seis desafios, formulados em 1990

Dia 6 de julho de 2025, domingo, acontecerá o primeiro turno do Processo de Eleições Diretas (PED) do PT, para suas direções em todos os níveis. Na hora de confirmar meu local de votação na zonal 159 de Porto Alegre, (re)descobri a data de minha filiação ao partido: 01/01/1980. Sim, 01 de janeiro de 1980, mais de um mês antes da fundação do PT, que foi em 10 de fevereiro de 1980.

É resultado, com certeza, da criação do Núcleo do PT da Lomba do Pinheiro, no final de 1979.  As reuniões de construção do PT e do Núcleo aconteciam na minha casa: na Vila Santa Helena, parada 12, rua São Paulo, 115, então município de Viamão, com a participação e presença das lideranças comunitárias e de Pastorais da Lomba do Pinheiro, periferia de Porto Alegre e Viamão. As conversas eram sobre a conjuntura, em tempos de ditadura militar, as lutas e reivindicações das-os moradoras-es da Lomba do Pinheiro, a criação da União de Vilas da Lomba do Pinheiro, as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), o jornal O LOMBA, distribuído e vendido nos mercadinhos das vilas, a Oposição sindical da construção civil, os problemas da falta de água, as urgências de regularização fundiária de muitas vilas, a necessidade de mais um posto de saúde, finalmente construído na Vila São Pedro, parada 13, os problemas do transporte coletivo, e tantas outras urgências de quem morava a 10 quilômetros do centro do município de Viamão e a mais de 10 quilômetros do centro da cidade de Porto Alegre.

Diz o manifesto de fundação do PT, aprovado em sessão de 22/03/1980, com os subtítulos: nascendo das lutas sociais, por um partido de massas, pela participação política dos trabalhadores.

“O Partido dos Trabalhadores surge da necessidade sentida por milhões de brasileiros de intervir na vida social e política do país para transformá-la. A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá.

A grande maioria de nossa população trabalhadora, das cidades e dos campos, tem sido sempre relegada à condição de brasileiros de segunda classe. Agora, as vozes do povo começam a se fazer ouvir através de suas lutas. As grandes maiorias que constroem a riqueza da nação querem falar por si próprias. Não esperam mais que a conquista de seus interesses econômicos, sociais e políticos venha das elites dominantes. Organizam-se elas mesmas, para que a situação social e política seja a ferramenta da construção de uma sociedade que responda aos interesses dos trabalhadores  e dos demais setores explorados pelo capitalismo.”

Nada mais atual em 2025. Termina assim o manifesto: “Os trabalhadores querem a independência nacional. Entendem que a nação é o povo e, por isto, sabem que o País só será efetivamente independente quando o Estado for dirigido pelas massas trabalhadoras. É preciso que o Estado se torne a expressão da sociedade, o que só será possível quando se criarem as condições de livre intervenção dos trabalhadores nas decisões dos seus rumos. Por isso, o PT pretende chegar ao governo e à direção do Estado para uma política democrática, do ponto de vista dos trabalhadores, tanto no plano econômico quanto no plano social. O PT buscará conquistar a liberdade para que o povo possa construir uma sociedade igualitária, onde não haja explorados nem exploradores. O PT manifesta sua solidariedade à luta de todas as massas oprimidas do mundo.”

Vale relembrar parte das Teses do PT/RS de 1990, 10 anos após a fundação, quando fui eleito presidente do PT/RS. Assinam a Tese da Coordenação estadual da Articulação/RS, além de mim, então Secretário Geral do PT: David Stival, 2º vice-presidente; Adeli Sell, da Secretaria de Organização; Antônio Castro, da Executiva estadual; Mauri Cruz, presidente do PT Sapucaia; Natalício Correa, do Diretório de São Leopoldo; Ivar Pavan, da Secretaria Agrária estadual; Paulo Ferreira, presidente da Fundação Wilson Pnheiro/RS; Lúcio Barcelos,  presidente da FASPERS; Dirceu Lopes, do DM de Rio Grande.

Seis desafios foram apontados na Tese de 1990, que continuo subscrevendo hoje, 2025: “Seis desafios apresentam-se de imediato para o PT classista, de massas, democrático e socialista que estamos construindo: 1. O DESAFIO ESTRATÉGICO: Que tipo de socialismo queremos e processo estratégico que nos levará a construí-lo; o papel do Estado; a relação entre democracia e socialismo; a política de alianças estratégicas; a relação Estado e sociedade. 2. O DESAFIO INSTITUCIONAL: Qual o papel da luta institucional na conquista do socialismo; o que é ser revolucionário no Parlamento e no governo; a relação Partido e administrações; a problemática da democracia e a institucionalidade, 3. O DESAFIO DA RELAÇÃO PARTIDO E MOVIMENTOS SOCIAIS: a intervenção do Partido na luta social; qual o papel estratégico dos movimentos sociais; a unificação das lutas e dos movimentos. 4. O DESAFIO DE SER OPOSIÇÃO AO GOVERNO COLLOR. 5. O DESAFIO DA CONSTRUÇÃO PARTIDÁRIA: Como adequar a questão orgânica do Partido ao seu peso e influência na sociedade; ter vanguarda militante e ser partido de massas; os problemas da nucleação, informação regionalização, finanças, formação. 6. O DESAFIO DA ÉTICA E DA MÍSTICA: O que é ter ética revolucionária, ética nas relações políticas, ética partidária; como manter a mística (paixão) acesa num partido classista em crescimento que chega no  Parlamento e no governo.”

O Partido das Trabalhadoras e dos Trabalhadores deverá, nos próximos anos (e em 2025, reafirmo agora), capacitar-se para responder a estes seis desafios, formulados em 1990. Em tempos de PED, Processo de Eleições Diretas das direções em todos os níveis  em 2025, vale lembrar também partes do discurso de Lula, presidente do PT, em 26 e 27 de setembro de 1981, eu então membro suplente do Diretório nacional do PT. Na Iª Convenção Nacional do PT, o seu presidente, Luíz Inácio da Silva, fez um que também subscrevo e reafirmo hoje, 2025:

Disse Lula em 1981: “Para nós a realização desta Primeira Convenção Nacional do PT significa mais que mero cumprimento de exigências legais. Por isso esta Convenção se realiza num clima de festa e de luta. É festa porque o Partido dos Trabalhadores é, como já se disse, ´uma criança inesperada´. E o clima de luta tem razão de ser porque, como sendo criança inesperada, o Partido dos Trabalhadores tem que continuar lutando para continuar vivendo, sobretudo tem que continuar lutando para continuar crescendo.”

Os intertítulos do texto do discurso de Lula são proféticos: “Sem confundir sindicalismo e política partidária. pela construção da cut. todo apoio à luta pela reforma agrária. com os negros, as mulheres, os índios. Contra a lei de segurança nacional, pelo desmantelamento do aparelho repressivo. PT: candidatos próprios a todos os cargos. rumo ao socialismo democrático.”

O discurso de Lula na Iª Convenção Nacional do PT, em 26 e 27 de se setembro de 1981, termina assim: “O socialismo que nós queremos se definirá por todo o povo, como exigência concreta das lutas populares, como resposta política e econômica global a todas as aspirações concretas que o PT seja capaz de enfrentar. Seria muito fácil, aqui, sentados comodamente, no recinto do Senado da República, nos decidirmos por uma definição ou por outra. Seria muito fácil e muito errado. O socialismo que nos queremos não nascerá de um decreto, nem de ninguém.

O socialismo que nós queremos irá se definindo nas lutas do dia-a-dia do mesmo modo como estamos construindo o PT. O socialismo que nós queremos terá que ser a emancipação dos trabalhadores. E a libertação dos trabalhadores será obra dos próprios trabalhadores.”

VIVA O PARTIDO DAS TRABALHADORAS E DOS TRABALHADORES!  

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil de Fato.

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