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Sinésio Pontes

Sem anistia para os golpistas do 8 de janeiro

Trabalhador petroleiro, coordenador geral do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e Paraíba, estudante de Ciência Política e pai de João e Felipe.
Os “patriotas” que destruíram os símbolos da República também devem estar submetidos à luz da lei e pagar por seus atos

Como cada brasileira e brasileiro reagiu quando assistiu àquelas cenas lamentáveis no domingo 8 de janeiro de 2023? No mínimo assistiu com perplexidade. O sentimento de impotência pairou sobre o país naquele momento, assistindo – pela televisão e pelas redes sociais – à destruição premeditada dos símbolos de nossa República, diante uma polícia despreparada e negligente.

Os prédios dos poderes Executivo, Legislativo e Judiciário sendo vilipendiados por uma turba que não aceitou o resultado eleitoral e que, com uma semana do novo governo, já ansiava por uma mudança através de uma intervenção golpista vinda dos quarteis. O clima de vergonha assolou o país.

Na segunda-feira (9), quem defendeu a invasão, o quebra-quebra, a tentativa de golpe? Ninguém. A cena do presidente Lula descendo a rampa do Palácio do Planalto junto com governadores de Estados, Poder Legislativo e Poder Judiciário varreu o mundo, na esperança de que aquele abominável ato, além de ser repudiado, serviria para fortalecer a crença na democracia e sobretudo na certeza de que não haveria impunidade. Esse era o espírito da época. Ninguém ligado ao bolsonarismo queria estar ligado ao 8 de janeiro.

Passados poucos mais de dois anos, investigações policiais e fartas evidências, registradas pelos próprios partícipes, tornaram públicas todas as faces daquela trama golpista. O 8 de janeiro na verdade foi a última tentativa de golpe de estado, que visava derrubar o governo eleito democraticamente e impor uma nova ordem militar, tendo Bolsonaro como presidente.

Tratava-se de um golpe de estado clássico, tinha planos de decretação de estado de sítio e mortes do presidente Lula, do vice Alckmin e do Ministro do STF Alexandre de Moraes. Os poderes da República se submeteriam à força das armas do Exército, Marinha e Aeronáutica, assim como em 1964. Se o golpe fosse implementado, com certeza não estaríamos aqui para contá-lo ou mesmo denunciá-lo. A democracia brasileira só sobreviveu porque alguns militares da caserna não se curvaram e respeitaram a Constituição.

Não se controla o dia seguinte de um golpe de Estado. As instituições não funcionam de forma independente, cassam-se mandatos de representantes do povo, imprensa e universidades operam sob censura, judiciário sem autonomia. A única linguagem possível numa ditadura é a força bruta.

Mas os que marcharam até a Praça dos Três Poderes naquele fatídico domingo fizeram questão de servir como massa de manobra para que a família Bolsonaro – que nem coragem teve para ficar no Brasil – fosse beneficiada com o Poder. Os “patriotas” que destruíram os símbolos da República à luz do dia jamais gozariam das benesses da ordem golpista que se instalaria. Eles também devem estar submetidos à luz da lei e pagar por seus atos. Afinal, se a lei é para todos, porque não responsabilizar os executantes do plano?

Passados dois anos, todos os bolsonaristas fazem menções positivas ao 8 de janeiro. Pintam como ato heroico aquela marcha e destruição que foi premeditada, financiada e felizmente debelada. Quando todos os fatos e evidências apontam para uma tentativa de golpe liderada pelo capitão, surge a ideia da anistia como uma boia de salvação para quem tramou e planejou o golpe.

E porque pedem anistia? Para que o líder e principal beneficiado do golpe não seja preso. Só para isso. Bolsonaro continua a usar aquelas pessoas como massa de manobra para não ter que responder a Justiça pelo crime que cometeu. “Crime” sim, porque a mera tentativa de golpe e abolição do Estado de direito constitui um crime no nosso Código Penal.

O projeto de anistia que tramita no Congresso Nacional é uma afronta ao povo brasileiro. É um tapa na cara de quem, de forma livre, fez sua escolha nas urnas em 2022. O povo brasileiro é contra a Anistia. A pauta que precisa tramitar no nosso Congresso precisa ser a redução de jornada 6×1 e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil, por exemplo. Quem acorda cedo para trabalhar precisa que o Congresso o represente.

A anistia é um engodo que não prosperará, assim como todas as tentativas golpistas anteriores.

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