Quem é da década de 90 com certeza deve se lembrar daquele comercial televisivo da Garoto, no qual mostrava uma menina interpretando uma ilusionista que tentava hipnotizar o telespectador com um chocolate Baton. A menina repetia com afinco: “compre Baton, compre Baton, seu filho merece Baton”. Bom, dizem que o tiro saiu pela culatra, já que o Conar censurou a propaganda por considerá-la manipuladora. Embora censurada, a campanha jamais foi esquecida por aqueles que sobreviveram aos anos 90.
A “compre Baton” foi banida das telinhas, pois estimulava, segundo os critérios de proibição da publicidade infantil dos anos 90, expressa por meio do Código do Consumidor: comportamento na fase adulta e o desejo do consumidor; problemas sociais e de saúde nas crianças e adolescentes – como frustração, violência e obesidade infantil; a ideia de que a criança é inferior por não possuir determinado produto; além de formar consumidores compulsivos e acríticos.
Tirando o Baton, a criança e uma certa ingenuidade de proteção paternalista da lei, proponho substituirmos o “c” de chocolate pelo o “c” de “cerveja”. Saindo das televisões, com as antenas com lã de aço dos anos 90, e entrando em um clima corpo a corpo dos festejos de Carnaval, não vejo distância entre a criança hipnotizada pelo “compre Baton” e o adulto vidrado pelas latinhas de cerveja. Ao pisarmos na avenida – ou no “chão da praça” – somos tomados, imediatamente, por uma chuva publicitária das cervejarias patrocinadoras da festa.
Camarote, isopores plotados, barulhos emitidos pelos tilintar das pedras dentro das latinhas, hits da Axé Music, vendedor com isopor na cabeça, banheiro químico com filas quilométricas e o cheiro do uno [ou duplo] malte misturado com suor e urina, não nos deixa esquecer que, no Carnaval, a “energia de gostosa” tem nome, cor, cheiro e, na maioria das vezes, não está gelada. Protagonizando uma campanha publicitária abusiva e quase muda, as cervejarias acentuam que são elas: primeiro elas, segundo elas, terceiro elas e as amigas delas. Talvez sejamos, mesmo, os adultos consumidores compulsivos e acríticos que passaram a infância defronte à TV.
Fantasiada de alegria, do amor que pega e [quase nunca] dura para lá de fevereiro, a latinha transborda nas festas de rua. A “Prefs” diz que o dinheiro das vendas garante o sustento familiar do mês, e que um lucro de menos de R$ 300,00 por dia é excelente para a complementação de renda. A sorte dela é que, no Carnaval, o que está por trás da fantasia geralmente não é levado em consideração. Enquanto ambulantes brigam por um mísero ponto, os verdadeiros donos da festa experimentam seus trajes de Tio Patinhas Puro Malte.
A propaganda é a alma do negócio. Estamos de ressaca, e a culpa é toda do Baton.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.