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Engenheiro especializado em Planejamento Energético e Ambiental.

Máquinas podem substituir mentes humanas?

As mentes são nossas maiores possiblidades, sem elas não há máquinas e nem evolução tecnológica, nem mesmo a poderosa IA, suas conquistas pertencem à humanidade

Todas as máquinas são criadas e desenvolvidas por mentes humanas, desde as mais simples até os supercomputadores e instrumentos que hoje realizam e disponibilizam a Inteligência Artificial (IA).

Portanto, as máquinas não são superiores aos homens e mulheres e tampouco são infalíveis.

Desde o início da humanidade, os seres humanos desenvolveram o conhecimento e a aplicação deste conhecimento, ou seja a tecnologia.

Esta evolução é um processo natural e irreversível.

Mas a ciência e a tecnologia não são neutras; podem tanto avançar a humanidade para um mundo mais justo e sustentável como fazer retrocedê-lo.

O avanço da ciência e a tecnologia é irreversível e não é neutro

É certo que realiza grandes transformações nas formas de produzir, consumir, de aprender, de viajar, de se relacionar, enfim de viver.

Aumenta profundamente a produtividade, gerando riquezas e afeta cada vez mais os trabalhadores e o mundo do trabalho.

Desde o início da humanidade temos criações extraordinárias e essenciais até hoje.

O fogo é utilizado pelos seres humanos desde 1,7 milhões de anos. Reconhecido em raios e erupções vulcânicas, os humanos aprenderam a utilizá-lo, principalmente a partir de 7000 aC em aquecimentos, proteções, cozimentos e desenvolvimento social.

Há 4000 anos aC iniciou a idade da pedra, sendo reconhecida a sua utilidade e desenvolvida em três períodos, especialmente na produção de ferramentas. Seu fim coincide com o início da escrita, da agricultura e até da metalurgia.

Não acabou por falta de pedra e sim foi superada por novas tecnologias. Diferentemente de hoje, quando também existem tecnologias para substituir o petróleo, predominante, porém ainda não existem suficientes recursos renováveis para substituí-lo, em meio a uma estrutura econômica muito consolidada.

Segundo evidências arqueológicas, em torno de 3500 aC, foi reconhecida a roda. A invenção espalhou-se rapidamente pela Ásia e Europa, beneficiando fortemente o transporte e a logística.

Qual equipamento atualmente não se beneficia da roda?

Os conhecimentos adquiridos com o fogo, a pedra e a roda, e suas conquistas são essenciais até hoje e continuarão sendo.

O fogo, uso da pedra e a roda são conquistas tecnológicas extraordinárias ainda hoje vigentes

Os novos conhecimentos e tecnologias permeiam todas as atividades. Veja-se na medicina os enormes avanços, entre muitos,  com as vacinas, o raio X e outros exames, inclusive com tecnologia nuclear, a penicilina possibilitando os remédios antibióticos e mais recentemente o uso dos stends substituindo mais de 70% das cirurgias cardiológicas.

As grandes revoluções tecnológicas, cada vez mais intensas nas décadas recentes, estão vinculadas aos computadores e mecanismos de automação e sua evolução para a informática e com a integração com as telecomunicações e a internet.

As grandes revoluções tecnológicas estão vinculadas à eletrônica, informática, telecomunicações e internet

Estas revoluções em todos os aspectos da vida seriam possíveis sem a eletricidade? A resposta é simples; como sabemos a nossa vida hoje é completamente dependente deste recurso, dá suporte a todas as atividades, incluindo a transição energética, substituindo petróleo e carvão mineral.

A eletricidade foi reconhecida na Antiguidade por Thales de Mileto. Teve evoluções nos séculos XVII e XVIII e chegou ao Brasil, mais tarde, em 1879 quando D. Pedro II autorizou a Thomas Edison instalar suas criações no Brasil, tendo como usuário inicial a iluminação pública do Rio de Janeiro.

Somente no primeiro Governo Lula houve uma medida governamental, o Programa Luz para Todos, que determinou a disponibilização deste recurso a todos(as) os brasileiros(as).

Somente no governo Lula foi determinada a universalização do uso da eletricidade

O ábaco, inventado pelos chineses na antiguidade, é considerado como início da computação, sendo o precursor do computador.

Com o passar do tempo, o computador foi evoluindo, incorporando mais capacidades e velocidades.

O primeiro grande passo do computador foi o uso da eletrônica e sua evolução com o transistor e o circuito integrado, possibilitando a sua produção massiva. Passou-se a falar em informática.

O grande avanço ocorreu com a integração profunda da computação com as telecomunicações, internacionalizando o uso e dados  desta ferramenta. Com a Terceira Revolução Industrial veio a era digital, que permitiu o amplo desenvolvimento da internet, a criação da WWW (World Wide Web), rede mundial de computadores. e inúmeras empresas com seus aplicativos. O uso dos computadores pessoais (PCs) foi generalizado. A integração dos computadores com a internet amplificou enormemente as possibilidades de armazenar e processar informações.

Com grande quantidade dos conhecimentos e informações armazenadas e disponíveis e com aplicativos capazes de processá-las, mais os suportes acumulados ao longo da história, estavam dadas as condições para a criação e desenvolvimento da IA. Esta ferramenta (assim deve ser tratada) é a mais ampla transformação tecnológica, incidindo profundamente na vida de todos(as), reduz fortemente a mão de obra, especialmente a especializada, e concentra ainda mais poder e riquezas.

Acessa e processa todos os arquivos, sejam eles corretos ou fakes. Em seu uso, cada passo precisa ser revisado e avaliado.

Seu uso deve ter ética, que precisa ser regulada em lei.

Deve ser instrumento auxiliar e jamais de execução final ou de decisão, e tão pouco ser um elemento “emburrecedor”, que reduz a capacidade das mentes humanas.

A IA dever ser instrumento auxiliar e não de execução e decisões definitivas.

Apoiada nestas tecnologias, as empresas de comunicação, como as TVs e rádios, que já exerciam muito poder, aumentaram ainda mais o seu quarto poder. As comunicações em internet, sites e redes sociais, poderiam ter sido um elemento democratizador das comunicações se não fossem tão poluídas com fakes, que necessitam ser combatidas e penalizadas.

O quarto poder exercido pelas empresas de TV e rádios aumentou.

A automação aumenta a produtividade, reduz a necessidade de mão de obra, entre outros aspectos.

Há muito vem atingindo os trabalhadores. Cabe citar o histórico episódio da quebra dos teares, entre 1811 e 1816, por trabalhadores ingleses, quando estas máquinas vieram substitui-los, o que ainda aumentou a oferta de mão-de-obra, reduzindo salários.

Ou existe distribuição dos ganhos tecnológicos ou as desigualdades sociais aumentam

O duro exemplo mostrou aos trabalhadores que as inovações tecnológicas são inevitáveis e que é necessário criar e lutar por políticas compensatórias e por uma  melhor distribuição dos ganhos decorrentes das novas tecnologias.

Na década de 1980, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) criou e desenvolveu a Comissão Nacional de Tecnologia e Automação. Na CUT-RS havia estrutura semelhante. Houve forte integração com Centrais Sindicais européias, que já possuíam conhecimento e experiências no tema. Foram realizados seminários por todo o país debatendo conseguências e propostas. Verificou-se na época que bancários e metalúrgicos eram os trabalhadores mais atingidos com perdas de postos de trabalho e importância. As principais demandas a serem levadas aos acordos e dissídios coletivos eram a redução da jornada de trabalho e o retreinamento dos trabalhadores.

Igualmente verificou-se a necessidade de políticas gerais visando a universalização do acesso às conquistas tecnológicas e uma distribuição justa dos seus ganhos.

Em não sendo assim, as desigualdades sociais aumentam em muito. Os donos dos meios de produção, especialmente os grandes tornam-se cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres. A pobreza dos pobres não estará apenas na falta de dinheiro, mas noutros aspectos da qualidade de vida como o acesso ao conhecimento, aos recursos da saúde e ao próprio trabalho.

As mentes são nossas maiores possiblidades, sem elas não há máquinas e nem evolução tecnológica, nem mesmo a poderosa IA, suas conquistas pertencem à humanidade, e, portanto tem a obrigação de ser instrumento da maior conquista de todas: um mundo justo economicamente, sustentável ambientalmente e feliz.

*Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.

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