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Permitir agrotóxicos em fórmulas infantis é ‘atentado à vida’, denuncia Larissa Bombardi

Estudo conduzido pela Unicamp revela que produtos para crianças contêm substâncias proibidas no Brasil

Estudo publicado recentemente pela Universidade de Campinas (Unicamp) comprova a presença de agrotóxicos em fórmulas infantis. O grupo de pesquisadores da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) analisou 30 produtos comercializados no país.

Em duas análises, apareceram resíduos de agrotóxicos, entre eles o carbofurano e o metamidofós, proibidos no Brasil, além de outras substâncias, como fármacos veterinários.

“Esses dados da pesquisa da Unicamp eu interpreto como um atentado à vida”, resume Larissa Bombardi, pós-doutora nos estudos sobre os efeitos dos agrotóxicos na saúde humana e no meio ambiente, em entrevista ao Conversa Bem Viver desta terça-feira (15).

Apesar da maior parte dos contaminantes registrados no estudo da Unicamp apresentarem concentrações abaixo dos limites de segurança estabelecidos pelas autoridades sanitárias, Bombardi não vê isso como um atenuante.

“As crianças comem e bebem mais por unidade de peso corporal. As crianças inclusive respiram mais. Proporcionalmente, elas estão também absorvendo mais agrotóxicos”, explica a pesquisadora sobre o porquê de a situação ser um problema em si.

Na entrevista completa, ela cita mais fatores e também comenta que os limites de segurança estabelecidos no Brasil são mais permissivos que os de outras nações.

Bombardi é autora do livro Agrotóxicos e Colonialismo Químico, no qual ela mostra como inúmeros produtos produzidos na Europa são proibidos lá, mas permitidos no Brasil.

Confira a entrevista na íntegra

Esses dados da pesquisa da Unicamp te surpreenderam?

Sempre me surpreende e obviamente me preocupa. Eu digo que sempre surpreende porque é triste demais.

Quando eu estava fazendo os primeiros levantamentos sobre o tema e eu me deparei com os dados que 18% da população intoxicada com agrotóxicos são crianças e adolescentes de 0 a 19 anos no Brasil eu chorei, de verdade chorei, sabe?

Na época eu era uma mãe nova, mãe recente… mas eu chorei porque eu pensei que não é justo.

No Brasil, o monitoramento que a gente tem, além de ser insuficiente, incipiente, ele só cobre alimentos frescos, enquanto o monitoramento do Reino Unido, por exemplo, além de cobrir todos os alimentos frescos, traz também os alimentos industrializados, os alimentos de bebê, alimentos para animais domésticos.

Esses dados da pesquisa da Unicamp eu interpreto como um atentado à vida. Eu diria que não é surpreendente em função de tudo o que a gente sabe a respeito dos resíduos de agrotóxicos no Brasil, os limites que a gente autoriza.

Sabemos dos riscos de agrotóxicos para a saúde humana, mas podemos dizer que para as crianças têm uma severidade maior?

Têm, sim, uma severidade maior. Eu vou destacar quatro pontos.

Primeiro, uma criança tem uma maior exposição relativa. As crianças comem e bebem mais por unidade de peso corporal. As crianças inclusive respiram mais. Proporcionalmente, elas ingerem muito mais do que um corpo adulto em relação ao peso delas.

Proporcionalmente, elas estão também absorvendo mais agrotóxicos.

O segundo elemento é que em um organismo em desenvolvimento, o sistema nervoso ainda está em formação e alguns agrotóxicos são neurotóxicos.

Então, em um organismo em formação, esses agrotóxicos neurotóxicos podem acarretar déficit cognitivo, autismo e distúrbio no aprendizado.

Terceiro aspecto, o sistema imunológico também está em formação, é um sistema imunológico imaturo, entende?

Então, as crianças estão mais vulneráveis, especialmente, por exemplo, aos disruptores endócrinos.

O que são os disruptores endócrinos? As substâncias que provocam alterações hormonais. O caso mais extremo disso foi trazido no trabalho da Ada Pontes, que é uma pesquisadora da Fiocruz. Ela mostra casos de puberdade precoce em função à expansão de agrotóxicos.

Eram bebês, meninas de dois anos que tinham desenvolvido mamas e pêlos pubianos. Isso é de uma desumanização, entende?

Obviamente que eu estou relatando de uma coisa extrema de crianças que estavam no ambiente, expostas diretamente a essas substâncias, não apenas pela ingestão de alimentos.

O quarto elemento diz respeito ao fígado e ao rim das crianças, eles também não têm a mesma capacidade de metabolizar e eliminar as toxinas que um corpo adulto tem.

O que pode acontecer? Um maior acúmulo de substâncias tóxicas no corpo dessas crianças, o que pode acarretar, às vezes, não imediatamente, mais para frente, em doenças crônicas. Câncer é uma delas.

Então, resumindo isso, é um atentado à vida, é uma violação do direito à vida.

Diante disso, precisamos cobrar um monitoramento das autoridades, certo?

Monitoramento não é suficiente. Como diria um colega, defensor público, monitoramento é crime sem pena. A gente precisa justamente dessa outra palavra que você usou, fiscalização.

A gente precisa de uma fiscalização severa, porque a gente está falando da vida das crianças. Não é possível que nem a vida das crianças toquem o poder público.

Sabemos que os ultraprocessados são campeões em agrotóxicos em suas fórmulas. E sabemos também que estudos estimam mais de 57 mil mortes anuais em decorrência do consumo destes produtos. Esse levantamento leva em consideração a quantidade de agrotóxicos presente nos ultraprocessados?

Certamente a presença dos agrotóxicos elevaria ainda mais esse dado, porque as características mais nefastas dentre os alimentos ultraprocessados são a grande quantidade de sal, de gordura e de açúcar.

Então, nessa conta, ainda não estão sendo computados resíduos.

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