13 de maio, o dia em que a Princesa Isabel assinou a lei que pôs fim a escravidão no Brasil, representa “uma tentativa de cooptação da população negra e de reafirmação do mito da democracia racial”, segundo a intelectual Lélia Gonzalez.
Uma das fundadoras do Movimento Negro Unificado (MNU) e referência nos estudos de Angela Davis, a pensadora mineira era uma crítica da concepção do 13 de maio como um marco para o movimento negro.
“Na verdade, não se falava [sobre 13 de maio] porque ela não dava importância a essa data”, lembra seu filho, Rubens Rufino, diretor executivo do Instituto Memorial Lélia Gonzalez, em entrevista ao Conversa Bem Viver desta terça-feira (13).
Filho único, ele considera um “privilegiado de ter vindo ao mundo por ela”. Rufino se lembra de dias em que voltava da escola se sentindo “envergonhado” por ser negro, frente a tudo que ouvia de colegas e dos próprios professores, e era reanimado pela mãe, que “escurecia” os pensamentos dele.
Rufino usa o termo que aprendeu com a Lélia Gonzalez, no lugar de esclarecer ou clarear, o correto para ele é escurecer ou enegrecer.
“Ela dizia que precisávamos escurecer o 13 de maio e tantas outras datas importantes, no sentindo de realmente entender o que ela significam.”
Em 1982, Lélia Gonzalez publicou um artigo no Jornal dos Trabalhadores fazendo referência ao dia que foi promulgada a Lei Áurea. Intitulado o 13 de maio e os Negros, o texto reivindica o 20 de novembro, dia da morte Zumbi dos Palmares e atual Dia da Consciência Negra, como uma data legítima da negritude brasileira.
“O trabalhador negro de hoje não pode misturar Zumbi de Palmares (20/11) com Princesa Isabel (13/5): o primeiro tem a ver com aquilo por que estamos lutando, uma sociedade justa e igualitária, ao passo que a segunda só tem a ver com aquilo contra o que lutamos. Não é por acaso que o vinte de novembro tenha sido assumido, por nós, como o Dia Nacional da Consciência Negra. Treze de maio, na verdade, é festa de ‘branco'”, publicou a intelectual, numa edição recuperada pela Fundação Perseu Abramo.
Lélia Gonzalez, que faleceu em 1994, escreveu livros como Lugar do Negro, referência até hoje em diversos estudos sobre a questão racial no Brasil.
Foi ela também uma das responsáveis pela criação do Instituto de Pesquisas das Culturas Negras do Rio de Janeiro (IPCN-RJ), além de ter cunhado termos como “amefricanidade” e “pretuguês”.
Confira a entrevista na íntegra
Conversa Bem Viver: Como era Lélia mãe?
Rubens Rufino: Lélia Gonzalez era uma mãezona, uma ternura, carinhosa, mas bastante rígida comigo, não podia vacilar que a cobrança era enorme.
Tenta imaginar, na época em que eu cresci, eu sou da geração reprimida pelo militarismo… Eu nasci, cresci, nos anos 1970, início dos anos 1980, era uma época muito conturbada.
Então a minha mãe sempre esteve preocupada comigo, ela me alertava: “Vai sair de casa não esquece do documento, de identidade, não se meta em confusão que você vai ser a primeira pessoa a rodar por ser preto”.
Eu sou privilegiado de ter vindo ao mundo por ela
Você era o responsável por datilografar o material dela, certo?
Eu sou da época em que datilografia era um curso de qualificação que você tinha no currículo, e acabei sendo um bom datilógrafo.
E aí, como ela produzia muito, eu transcrevia tudo que ela escrevia e eu passava isso pra máquina. E isso foi muito bom para mim, porque foi uma oportunidade de me aprofundar no pensamento nela, bebendo diretamente da fonte.
E uma das coisas que marcou foi o que bati todo o livro Lugar do Negro. Eu não tinha noção do que eu estava fazendo, mas foi um tremendo aprendizado.
Fale mais a respeito, você não tinha noção da importância que viria a ser esse livro?
Na época eu era muito novo, tinha de 16 a 20 anos, então eu não tinha noção, não tinha a dimensão da importância que eu tinha.
Eu sabia que era importante, eu já sabia que ela era danadinha mesmo, botava as coisas.
Uma coisa interessante que acontece é que, agora, depois de adulto, quando eu releio alguns textos que ela escreveu há 40, 50 anos, eu fico com a impressão que ela acabou de escrever, de tão atual que é.
E o que ela falava sobre o 13 de maio?
Na verdade, não se falava porque ela não dava importância a essa data.
Eu me lembro de uma coisa muito interessante, quando eu estava no colégio e a aula era sobre a parte de escravidão, me causava um desconforto absurdo.
Porque falava que o negro era ladrão, era fujão, vagabundo, beberrão, tudo de ruim para um ser humano. E eu pensava, “eu sou descendente deles”.
Isso me causava um desconforto ao ponto de eu ter vergonha de ser negro, entendeu? Porque era a pior espécie de humano que tinha, era a população negra.
Mas quando eu chegava em casa, como a gente tinha uma relação muito, muito aberta, eu falava com com ela que aquilo que incomoda.
E aí minha mãe me fazia toda parte de escurecimento dizendo que não era isso.
Mas veja bem, eu tinha uma Lélia González em casa, tinha uma mãe que me escurecia dos fatos, contava que era mentira. E quem não tinha? Com certeza teve as mesmas sensações que eu tive e interiorizou isso e virou uma pessoa revoltada no sentido de achar que aquilo que se falava dentro de sala era verdade.
A autoestima ia para o chão.

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