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Conversa Bem Viver

José Graziano: Brasil abandonou por anos política de estoques e reflexo está na alta do preço dos alimentos

Até 2012, país mantinha abastecimento de arroz acima de 1 milhão de toneladas e hoje são apenas duas

Para o economista e ex-ministro José Graziano, a razão pela alta no preço dos alimentos passa diretamente pelo “abandono da política de estoques de alimentos” que vigorou no Brasil a partir de 2016.

Ele traz o exemplo do arroz, que considera o “calcanhar de Aquiles” do país, que hoje mantém apenas duas toneladas do grão estocadas, enquanto em 2011 o estoque do alimento chegou próximo de 1,5 milhão de toneladas.

“Toda vez que esses estoques caem abaixo de um valor mínimo, tem uma grande especulação de que vai faltar produto. E é essa especulação que joga os preços lá para cima”, explica em entrevista ao Conversa Bem Viver desta sexta-feira (23)

“O que aconteceu é que nós abandonamos uma política de abastecimento. O Brasil ficou anos sem ter estoques, sem ter política de abastecimento, sem ter inclusive uma lei de uma política de abastecimento que fosse seguida, o que agora acabou de ser feito”, afirma Graziano, que foi ministro extraordinário de Combate à Fome e Insegurança Alimentar no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Em paralelo aos estoques, Graziano aponta o aumento do salário mínimo como melhor resposta para tornar o alimento acessível à população

“O Brasil está num bom caminho para o seu abastecimento da população, que é o aumento do salário mínimo real. Essa tem sido a maior benção à alimentação brasileira, porque permite ao sujeito comprar uma cesta básica.”

Confira a entrevista na íntegra

Para que server uma política de abastecimento?

Todo o tempo falamos de preços de produtos falando na lei da oferta e da demanda. Bom, essa lei já foi revogada há muito tempo, há muitas décadas, os preços não são formados pela lei da oferta e da demanda.

Se nós pegarmos o caso dos preços agrícolas, por exemplo, a oferta é a produção que sempre acontece no período da safra. A partir daí você não tem mais uma oferta, você tem um estoque daquele produto, você guarda aquele produto.

Se você vender tudo isso, você fica sem o seu estoque.

E isso que tem acontecido muito com o Brasil, o Brasil tem vendido a sua produção, a sua safra, muitas vezes até de maneira antecipada, exportando esses produtos.

O arroz nós tivemos um ano, dois anos atrás, esse problema. Vendemos muito mais do que devíamos, depois tivemos que recomprar. Tem um mercado internacional pra isso, pra você recomprar quando você precisa. Mas não vamos esquecer que esse mercado internacional é cotado em dólar.

Toda vez que esses estoques caem abaixo de um valor mínimo, tem uma grande especulação de que vai faltar produto. E é essa especulação que joga os preços lá para cima.

A recomendação é ter sempre um volume mínimo de estoques para assegurar que os preços não sofram de um ataque especulativo. Esse é o grande papel que a gente negligencia muito.

E por que o Brasil custa tanto para retomar seus estoques? A justificativa que o presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Cobab) Edegar Pretto apresentou para o Brasil de Fato é por conta de uma lei que impede que os estoques sejam reabastecidos a depender do preço de mercado. Faz sentido isso?

Eu faço parte do Conselho do Ministério do Desenvolvimento Agrário junto com Edegar Pretto e tive também a oportunidade de ouvir pessoalmente dele essas explicações que vocês também ouviram, e ele está com plena razão.

Ele está legalmente proibido de fazer estoques nesse momento que os preços estavam em alta.

Essa alta vai estimular um aumento da produção, como nós já estamos começando a perceber, e aí sim é o momento de comprar, até para evitar que o preço caia muito abaixo do mínimo.

Então o Brasil tem que ter uma política de abastecimento que contemple a formação desses estoques mínimos. Hoje pelo dado que eu levantei na Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), o Brasil tem 6 milhões de toneladas de trigo de estoque, 12 de milho e apenas duas de arroz, que é o nosso calcanhar de Aquiles no momento.

Só pra dar uma dimensão, a China, o país que tem mais estoques, são 110 milhões de toneladas de arroz estocado. Claro que tem muito mais chinês que o brasileiro, mas mesmo assim.

E seria caso o ministro de revogar essa lei, ou não necessariamente revogá-la, mas usar alguma medida provisória que pudesse suspender por um período por conta desse cenário que o senhor está descrevendo?

Uma regra importante em abastecimento e formação de estoques é que você não pode mudar todo dia, de acordo com as suas necessidades, as regras do jogo porque se cria incerteza.

Apesar de ser dura essa regra de não poder comprar quando não tiver abaixo do mínimo, é uma regra que dá uma garantia para quem tem estoques

Seria preferível a Conab importar arroz para fazer um pouco de estoque do que mudar as regras nesse momento, na minha opinião.

Hoje soja e milho contemplam basicamente 70% dos subsídios que o Estado brasileiro oferece. Seria o caso de redistribuir para incentivar a produção de outras culturas como arroz e feijão?

Olha, eu acho que nós já temos subsídios demais no agro. Nós favorecemos a importação dos insumos químicos, defensivos e fertilizantes sem impostos. Nós temos financiamentos a juros bem inferiores aos juros de mercado.

Acredito que a saída é por outros caminhos, investir em mais pesquisa sobre a variedades de feijão, que é o que acontece internacionalmente com a soja.

Eu levantaria também o caso da mandioca, que é um outro produto básico de consumo muito importante e que nós temos uma produtividade muito baixa.

O Brasil adaptou variedades de soja vindo de outros países, especialmente dos Estados Unidos, então rapidamente você consegue trocar a variedade por uma mais nova, mais resistente a pragas e doenças que estão ocorrendo.

Ou seja, há todo um entorno que favorece a soja, sem falar que a soja é comercializada em dólar, ou seja, o preço da tonelada de soja é em dólar e o preço de feijão é em reais.

De qualquer forma, está faltando feijão? Não, você vai no seu supermercado aí perto e vai ver lá o saquinho de feijão tudo na prateleira. O poder aquisitivo da população é que está determinando que não haja um aumento do consumo.

Eu diria que é um problema de subsídio, mas depende aonde você vai por subsídio. Não é um subsídio para aumentar a produção. A produção que nós temos hoje de feijão é o que nós comemos de feijão. Nós não temos mais produção, porque não tem um incentivo de aumentar a oferta via estímulos de produção.

Mas seria interessante que a gente tivesse mais estímulos justamente para poder baratear o preço da mandioca e do feijão para que as pessoas não hesitassem ao escolher entre feijão e um ultraprocessado, por exemplo?

Olha, eu tenho combatido muito essa ideia. Se aumentar a produção de alguns produtos, sem aumentar a demanda, o único prejudicado é o produtor de feijão, principalmente se ele for pequeno.

O preço baixa e o preço não baixa em todos os lugares na mesma magnitude. Baixa um pouquinho no supermercado e baixa muito pro produtor, quando a oferta é muito maior do que a demanda esperada.

Do mesmo jeito, no caso do reverso. Se você tiver uma quebra de safra, uma seca, por exemplo, e tiver todo mundo achando que vai faltar feijão, o preço do feijão sobe antes mesmo de faltar feijão.

O equilíbrio não é feito entre a produção e o consumo, é feito entre os estoques resistentes e o consumo.

Então, não acredito que uma tentativa de estimular um forte aumento da produção, sem que isso seja correspondido por um aumento da demanda, vai beneficiar os produtores de feijão. Pode beneficiar, assim, os consumidores. [Mas] para isso são os estoques.

Então o que o Brasil precisa, na verdade, é ter uma política de abastecimento e seguir isso. O que aconteceu é que nós abandonamos uma política de abastecimento. O Brasil ficou anos sem ter estoques, sem ter política de abastecimento, sem ter inclusive uma lei de uma política de abastecimento que fosse seguida, o que agora acabou de ser feito.

O senhor acredita que ano que vem já seja um momento em que o Brasil terá recomposto esses estoques e quem sabe a gente consiga ver uma redução de preço em relação ao feijão e ao arroz?

Os economistas, principalmente de formação keynesiana, como eu, dizem que os preços são fixos, principalmente dos produtos industriais.

Você tem custo de produção, que é a mão de obra que você paga, mais os insumos, os juros bancários, etc… isso dá um montante que é o seu custo. Mais a sua taxa de lucro, isso faz o preço médio daquele produto.

E esse preço, você não consegue empurrar ele pra baixo. Por isso que a gente chama ele de fixo. Ele sobe pela especulação. Subir é fácil, baixar os preços é complicado.

Nós tivemos infelizmente esse aumento de preços puxado pelo aumento do dólar que contaminou todos os preços dos insumos importados e mesmo do produto do mercado internacional.

Com a queda do dólar esses preços estão baixando, porque está diminuindo os custos de produção, entende? Então, é possível sim que nós tenhamos, se o dólar continuar bem comportadinho, uma baixa de preços.

Até porque nós poderemos importar esses produtos a um dólar mais baixo.

O Brasil está num bom caminho para o seu abastecimento da população, que é o aumento do salário mínimo real. Essa tem sido a maior benção à alimentação brasileira, porque permite ao sujeito comprar uma cesta básica.

Então esse é o link que nós temos. Se o brasileiro puder comprar o mínimo para se alimentar com o salário que ganha, nós vamos ter uma situação de abastecimento regularizado.

Em diferentes horários, de segunda a sexta-feira, o programa é transmitido na Rádio Super de Sorocaba (SP); Rádio Palermo (SP); Rádio Cantareira (SP); Rádio Interativa, de Senador Alexandre Costa (MA); Rádio Comunitária Malhada do Jatobá, de São João do Piauí (PI); Rádio Terra Livre (MST), de Abelardo Luz (SC); Rádio Timbira, de São Luís (MA); Rádio Terra Livre de Hulha Negra (RN), Rádio Camponesa, em Itapeva (SP), Rádio Onda FM, de Novo Cruzeiro (MG), Rádio Pife, de Brasília (DF), Rádio Cidade, de João Pessoa (PB), Rádio Palermo (SP), Rádio Torres Cidade (RS); Rádio Cantareira (SP); Rádio Keraz; Web Rádio Studio F; Rádio Seguros MA; Rádio Iguaçu FM; Rádio Unidade Digital ; Rádio Cidade Classic HIts; Playlisten; Rádio Cidade; Web Rádio Apocalipse; Rádio; Alternativa Sul FM; Alberto dos Anjos; Rádio Voz da Cidade; Rádio Nativa FM; Rádio News 77; Web Rádio Líder Baixio; Rádio Super Nova; Rádio Ribeirinha Libertadora; Uruguaiana FM; Serra Azul FM; Folha 390; Rádio Chapada FM; Rbn; Web Rádio Mombassom; Fogão 24 Horas; Web Rádio Brisa; Rádio Palermo; Rádio Web Estação Mirim; Rádio Líder; Nova Geração; Ana Terra FM; Rádio Metropolitana de Piracicaba; Rádio Alternativa FM; Rádio Web Torres Cidade; Objetiva Cast; DMnews Web Rádio; Criativa Web Rádio; Rádio Notícias; Topmix Digital MS; Rádio Oriental Sul; Mogiana Web; Rádio Atalaia FM Rio; Rádio Vila Mix; Web Rádio Palmeira; Web Rádio Travessia; Rádio Millennium; Rádio EsportesNet; Rádio Altura FM; Web Rádio Cidade; Rádio Viva a Vida; Rádio Regional Vale FM; Rádio Gerasom; Coruja Web; Vale do Tempo; Servo do Rei; Rádio Best Sound; Rádio Lagoa Azul; Rádio Show Livre; Web Rádio Sintonizando os Corações; Rádio Campos Belos; Rádio Mundial; Clic Rádio Porto Alegre; Web Rádio Rosana; Rádio Cidade Light; União FM; Rádio Araras FM; Rádios Educadora e Transamérica; Rádio Jerônimo; Web Rádio Imaculado Coração; Rede Líder Web; Rádio Club; Rede dos Trabalhadores; Angelu’Song; Web Rádio Nacional; Rádio SINTSEPANSA; Luz News; Montanha Rádio; Rede Vida Brasil; Rádio Broto FM; Rádio Campestre; Rádio Profética Gospel; Chip i7 FM; Rádio Breganejo; Rádio Web Live; Ldnews; Rádio Clube Campos Novos; Rádio Terra Viva; Rádio interativa; Cristofm.net; Rádio Master Net; Rádio Barreto Web; Radio RockChat; Rádio Happiness; Mex FM; Voadeira Rádio Web; Lully FM; Web Rádionin; Rádio Interação; Web Rádio Engeforest; Web Rádio Pentecoste; Web Rádio Liverock; Web Rádio Fatos; Rádio Augusto Barbosa Online; Super FM; Rádio Interação Arcoverde; Rádio; Independência Recife; Rádio Cidadania FM; Web Rádio 102; Web Rádio Fonte da Vida; Rádio Web Studio P; São José Web Rádio – Prados (MG); Webrádio Cultura de Santa Maria; Web Rádio Universo Livre; Rádio Villa; Rádio Farol FM; Viva FM; Rádio Interativa de Jequitinhonha; Estilo – WebRádio; Rede Nova Sat FM; Rádio Comunitária Impacto 87,9FM; Web Rádio DNA Brasil; Nova onda FM; Cabn; Leal FM; Rádio Itapetininga; Rádio Vidas; Primeflashits; Rádio Deus Vivo; Rádio Cuieiras FM; Rádio Comunitária Tupancy; Sete News; Moreno Rádio Web; Rádio Web Esperança; Vila Boa FM; Novataweb; Rural FM Web; Bela Vista Web; Rádio Senzala; Rádio Pagu; Rádio Santidade; M’ysa; Criativa FM de Capitólio; Rádio Nordeste da Bahia; Rádio Central; Rádio VHV; Cultura1 Web Rádio; Rádio da Rua; Web Music; Piedade FM; Rádio 94 FM Itararé; Rádio Luna Rio; Mar Azul FM; Rádio Web Piauí; Savic; Web Rádio Link; EG Link; Web Rádio Brasil Sertaneja; Web Rádio Sindviarios/CUT.

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